15/04/2019

Açúcar: Uma nova bola em jogo? – Por Arnaldo Luiz Corrêa

Açúcar: Uma nova bola em jogo? – Por Arnaldo Luiz Corrêa

Nova Iorque fechou a semana com o contrato futuro de açúcar negociando a 12.74 centavos de dólar por libra-peso para o vencimento maio/2019, contemplando o mesmo intervalo de preços de muitas semanas. Estamos atrelados no exíguo espaço compreendido entre 12.08 e 12.95 há exatamente 33 pregões. Imagino quão aborrecido deve ser para os corretores e analistas do futuro de açúcar ter que escrever diariamente sobre um mercado que cura qualquer problema de insônia. A volatilidade anualizada desses 33 dias é menor que 19%, muito baixa comparada com a média histórica.

Conforme relatório do CFTC, os fundos reduziram a posição vendida para 77.500 lotes, contudo, a reação do mercado foi muito decepcionante. Mas, a questão que vem à baila é se os fundos não poderiam estar virando a posição vendida para comprada de maneira mais suave. É cedo para afirmar que estamos com uma nova bola em jogo, no entanto parece-nos que se o mercado ainda não se entusiasmou com as notícias fundamentalistas, pelo menos o piso de preços parece ter sido elevado.

O que ocorreu com o etanol esta semana subindo vigorosamente, combinado com uma eventual mudança de humores por parte dos fundos, podem ser a fagulha de que falamos na semana passada. Uma faísca para dar ignição à recuperação de preços. O preço do hidratado subiu 15% na semana chegando a R$ 1.8962 o litro, equivalente aproximadamente ao açúcar em NY negociado a 15 centavos de dólar por libra-peso FOB Santos.

O cenário que se avizinha para 2019/2020 é mais construtivo, pois teremos certamente uma redução na produção indiana em mais de 3 milhões de toneladas de açúcar. O Brasil também pode sofrer uma redução na produção nesta safra, que se acentuaria quanto mais descolada estiver a arbitragem entre o açúcar e o etanol (como agora, por exemplo). Um cenário que combine uma redução na produção de cana, uma redução de sacarose por tonelada de cana e um aumento -  ainda que tímido – no consumo do Ciclo Otto pode ser extremamente favorável para o açúcar em termos de preço.

Todo mundo gosta de ouvir previsões de preço, mas elas são difíceis, pois o preço é função da combinação de uma série de variáveis não correlacionadas (dólar, petróleo, PIB, consumo, entre outras) e afetadas por movimentos exógenos que provocam acentuada volatilidade, descolando completamente o valor (não o preço) da commodity oras subvalorizando ou sobrevalorizando e deixando os tomadores de decisão em pânico. Meu palpite: alcançamos 15 centavos de dólar por libra-peso no segundo semestre.

Ocorre que, vez por outra, a irracionalidade toma conta do ambiente e faz, por exemplo, que acreditemos que o mercado de açúcar poderia cair mais quando chegou a 10 centavos, ou que poderia subir mais, quando chegou a 30. Haja racionalidade.

O fato importante nessa safra que se inicia no Centro-Sul é que nunca antes no setor, a tomada de decisão será extremamente flexível, ao sabor da arbitragem entre açúcar e etanol. Ou seja, as decisões serão baseadas no mercado à vista. Imaginem a dificuldade de se traçar corretamente um plano estratégico para aproveitar a enorme volatilidade que termos nos meses que virão. Conscientes disso, as tradings reduziram as compras de açúcar ou introduziram cláusulas restritivas de wash-out para os contratos de fornecimento de açúcar para a exportação. Por outro lado, se a disponibilidade de açúcar for reduzida, o basis (prêmio) vai subir. Acredito que a sonolência que vivemos no mercado futuro hoje em dia vai se dissipar mais rápido do que imaginamos.

Mais uma usina da região de Catanduva entrou em recuperação judicial nesta semana. Da mesma forma como aconteceu algumas semanas atrás, um dos credores minoritários (um banco que possui apenas 8% da dívida total) executou a empresa. Não dá para entender o comportamento de certos bancos, cujos executivos embolsam gordos bônus, empurrando precipitadamente – como ocorre nesse caso específico – uma empresa para a recuperação judicial.

A usina em questão tem uma dívida de 270 milhões de reais, que representa aproximadamente 168 reais por tonelada de cana moída, muito próxima da média do setor, que segundo levantamento da Archer Consulting é de 160 reais. Em outras palavras, está longe de ser uma usina que estava fadada ao insucesso. Para o setor é mais uma notícia ruim. Para o fornecedor de cana, muitas vezes, é motivo de sobressalto e o questionamento se deve ou não   continuar com a cultura de cana.

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