12/12/2017

Adubação e dieta aumentam produtividade de gado de corte

Adubação e dieta aumentam produtividade de gado de corte

 

A adubação do pasto com nitrogênio e a suplementação da dieta do rebanho com nutrientes selecionados podem resultar tanto na diminuição das emissões de gases de efeito estufa quanto no aumento da produtividade e da eficiência econômica na criação de bovinos de corte em sistema de pastagem.

As constatações foram feitas durante um estudo realizado por pesquisadores da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista (FCAV-Unesp), campus de Jaboticabal, em colaboração com colegas da University of Queensland, da Austrália, da University of Florida, dos Estados Unidos, da Embrapa Pecuária Sudeste e da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), Polo Regional Alta Mogiana.

Alguns resultados preliminares do estudo, realizado no âmbito do Projeto Temático“Estratégias de manejo para redução de impactos ambientais em sistemas de produção de bovinos de corte”, apoiado pela FAPESP, foram apresentados durante a reunião anual de projetos do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG).

“O objetivo do projeto é avaliar os impactos da adubação nitrogenada e da suplementação estratégica nas emissões de metano, óxido nitroso e dióxido de carbono na produtividade do pasto e dos animais e na eficiência da atividade em termos de ganho por hectare e de utilização da energia consumida”, disse Ricardo Andrade Reis, professor da FCAV-Unesp de Jaboticabal e coordenador do projeto.

De acordo com dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), 83,9% da pecuária nacional é representada por bovinos (89% bovinos de corte e 11% bovinos de leite). Grande parte desse rebanho é composta por raças zebuínas criadas em sistemas predominantemente extensivos, em que a raça nelore se destaca (80%).

As pastagens constituem a forma principal de alimentação de bovinos no país devido à extensão territorial e às condições climáticas favoráveis.

Estima-se, porém, que cerca de 80% dos 45 a 50 milhões de hectares da área de pastagens nos Cerrados do Brasil Central, por exemplo, apresentem algum grau de degradação devido, em grande parte, à redução da fertilidade do solo, o que resulta em queda acentuada da capacidade de suporte da pastagem e do ganho de peso dos animais.

Essa situação tem contribuído para que a pecuária de corte no Brasil apresente, há décadas, índices zootécnicos baixos, com lotação das pastagens em torno de um animal por hectare, e produtividade na faixa de 100 quilos de peso vivo por hectare/ano.

A fim de reduzir os impactos ambientais dos sistemas de produção de bovinos de corte e melhorar o rendimento zootécnico e econômico, os pesquisadores da FCAV-Unesp de Jaboticabal começaram a estudar, a partir de 2014, diferentes estratégias de manejo de pastagens tropicais utilizando técnica de manejo conhecida como interceptação luminosa, num percentual de 95%, e altura do pasto aliada à adubação como critérios de avaliação.

A técnica de interceptação luminosa de 95% leva em conta não a rotatividade pré-programada do gado nos piquetes, mas a altura do capim. Ela permite oferecer continuamente aos animais uma forragem de melhor qualidade, com alta proporção de folhas no pasto, além de proteína verdadeira de alta digestibilidade, nitrogênio solúvel e baixas quantidades de fibras indigestíveis – as grandes causadoras de emissão de metano (o principal gás de efeito estufa gerado na pecuária), produzido na digestão dos ruminantes e eliminado por eructação (arroto) e respiração.

Além dos impactos climáticos, a eliminação do metano pela boca e narinas representa perda de energia do animal – entre 2% e 12% da energia bruta do alimento consumido – , o que, consequentemente, afeta seu desempenho em termos de produção de carne.

“Pretendemos regular as emissões de metano e a perda de energia tanto por meio do manejo da forragem, como também pela incorporação de nutrientes na dieta do animal”, disse Reis.

“Com isso, seria possível aumentar a oferta de nutrientes e a lotação da pastagem de um para três ou quatro animais por hectare/ano, por exemplo, e disponibilizar mais hectares para recuperação de áreas de pastagens degradadas, que podem ser transformadas em áreas de floresta”, estimou.

Adubação e suplementação

Os pesquisadores conduzem desde 2014 dois experimentos em uma área de 60 hectares da FCAV-Unesp de Jaboticabal.

No primeiro experimento, avaliaram o aumento das taxas de lotação de tourinhos nelore em regime de pastejo de capim-marandu (Urochloa brizantha), manejado com 25 centímetros de altura e adubado com quatro níveis de nitrogênio – de 0, 90, 180 e 270 quilos (kg) por hectare durante 150 dias na estação chuvosa –, assim como as emissões de óxido nitroso, dióxido de carbono e metano em função da aplicação dessas doses de fertilizante nitrogenado.

No segundo experimento, os pesquisadores complementaram a dieta dos animais nesse regime de pastejo com sal e com suplemento proteico, composto por farelo de soja, ureia e resíduos da destilação de álcool de milho.

Os resultados preliminares do primeiro experimento indicaram que, só com a disponibilização da forragem de melhor qualidade – sem aplicação de fertilizante nitrogenado –, a taxa de lotação do pasto atinge a faixa de três animais por hectare/ano. Já ao aplicar 180 kg de nitrogênio durante a estação chuvosa a taxa de ocupação chega a seis animais por hectare/ano.

“Ainda não sabemos, entretanto, até quando essa área de pasto vai suportar essa carga animal sem a adubação nitrogenada”, ponderou Reis.

As emissões de metano entérico, em função da fertilização nitrogenada, foram inferiores às registradas pelo setor pecuário sem uso de fertilização reportados por órgãos internacionais, como o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), independentemente da dose aplicada.

Os animais também tiveram ganho de peso diário variável de 980 gramas a 1,1 kg com a adubação nitrogenada da pastagem.

“No atual sistema de criação de gado de corte em pasto, sem adubação nitrogenada, o ganho de peso dos animais varia entre 500 e 700 gramas”, comparou o pesquisador.

Os resultados preliminares do segundo experimento também indicaram que a suplementação da dieta dos animais com suplemento proteico/energético resultou em um aumento de 100 a 150 gramas por dia no peso do gado, comparado ao obtido com o uso do sal mineral.

“Isso se traduz em um menor tempo de engorda, com a liberação de áreas de pastagem mais cedo pelos animais, que diminuem a emissão de metano durante um tempo mais prolongado de sua vida”, avaliou Reis (Agência Fapesp, 12/12/17)