Agricultores se unem para fomentar pesquisas e colhem bons frutos em Goiás
Cansados de gastar dinheiro com sementes, fertilizantes e defensivos de eficácia "duvidosa", um grupo de pouco mais de 30 produtores rurais da região de Rio Verde, no sudoeste de Goiás, decidiu investir em pesquisas "sob medida" para melhorar a eficiência desses insumos no cultivo de soja e milho e reduzir custos. Assim nasceu, em 1999, o Grupo Associado de Pesquisa do Sudoeste Goiano (Gapes), que 18 anos depois comemora um aumento médio de 25% da produtividade das suas lavouras.
Atualmente formado por 36 agricultores de portes diversos – donos de propriedades de 400 a 20 mil hectares -, os agricultores associados ao Gapes colheram esse resultado após firmarem parcerias com pesquisadores de duas universidades da região e realizarem centenas de experimentos de campo. No ano passado, conseguiram concentrar os trabalhos em um centro de pesquisa, com laboratórios e equipe exclusiva, e esperam, com isso, que as melhorias para suas plantações sejam aceleradas.
As pesquisas são normalmente realizadas com lotes de produtos fornecidos gratuitamente pelas fabricantes dos insumos, também interessadas em resultados – e na demanda adicional que pode ser gerada a partir deles. Nos testes de campo, as empresas podem comprovar (ou não) os benefícios comerciais que alardeiam e calibrar dosagens e momentos ideais de aplicação. Se em 2005, o grupo conseguia compilar estatísticas geradas em pesquisas realizadas em cerca de 30 mil hectares, em 2017 a área dos 36 produtores do Gapes já era de 110 mil hectares.
"A ideia é que as pesquisas determinem nossas compras. Nunca compramos um fungicida ou uma semente que não tenha a validação de nossos pesquisadores", diz Paulo Buffon, presidente do Gapes e um dos pioneiros do grupo. Buffon faz questão de afirmar que o Gapes não é um "pool" formado por produtores para melhorar as condições de compra de insumos, que é algo comum no Centro-Oeste. "Não conseguimos descontos apenas por causa dos maiores volumes comprados, mas também em razão da liquidez que oferecemos", diz ele. E logo reitera que o foco da união é mesmo a pesquisa.
Márcio Peixoto, do Instituto Federal Goiano, que coordena as pesquisas para o grupo e é especialista em inseticidas, explica que há pesquisadores a serviço do Gapes focados nas mais diversas áreas: entomologia, fitopatologia, plantas daninhas, nutrição, genética e solos. Eles podem ser remunerados tanto pelo próprio grupo quanto por meio de bolsas bancadas por suas instituições de ensino. "Quando um produto é lançado, nem sempre se sabe tudo sobre ele. Então a gente realiza pesquisas para fazer ajustes nas condições de uso do produto", afirma. Segundo Peixoto, esse modelo de negócios ligado a pesquisas é uma tendência de mercado.
O produtor Oscar Durigan, que faz parte do Gapes, conta que outros produtores da região de Rio Verde já começaram a aguardar as primeiras compras de insumos do grupo para definirem suas próprias aquisições. "Viramos referência. Todo mundo já fica de olho no que estamos fazendo", afirma ele.
Outros dois grupos de produtores de Rio Verde já surgiram no rastro do Gapes: o Soma, que completou dez anos de existência, e o Terraforte, que é mais recente. Mas eles negam que sejam concorrentes. Afirmam que são associações sem fins lucrativos que não imprimem suas marcas nos grãos comercializados. Muitos das informações coletadas pelo Gapes são fornecidas livremente em encontros com outros produtores (Assessoria de Comunicação, 12/3/18)