Agricultores temem perdas com previsão de geada e frio histórico
Legenda: Geada no Vale da Invernadinha, a 11km de São Joaquim, em Santa Catarina - Imagens Mycchel Legnaghi/São Joaquim Online
Massa polar pode ser uma das piores do século no Centro-Sul; Minas já tem prejuízo no café.
A massa polar histórica que chega ao Brasil nesta semana deixa em alerta produtores das regiões Sul e Sudeste, que já registraram prejuízo após uma geada repentina na semana passada.
Embora agricultores gaúchos e paranaenses cultivem culturas específicas para o frio, como trigo e cevada, o efeito de -10ºC, como previsto pela meteorologia, pode ser devastador.
A tendência é de geada no centro-sul do país e de temperaturas que podem cair até -20ºC em áreas de maior amplitude no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, de acordo com boletim da Metsul Meteorologia emitido no sábado (24). Na avaliação de técnicos, pode ser uma das massas de ar polar mais fortes a alcançar o Brasil no século.
O agricultor Laércio Dalla Vecchia, de Mangueirinha (PR), plantou 200 hectares neste inverno. Há uma semana, o termômetro da lavoura marcou -9,5ºC no solo. A temperatura congelou parte da produção de aveia. Com previsão de mais frio, ele teme perdas com os outros alimentos.
"O trigo, quando está pequeno, aguenta geada. Mas -10ºC é capaz de matar tudo. A cevada também não resiste a um frio extremo desse", afirma.
Com o inverno rigoroso no Rio Grande do Sul, produtores de regiões mais frias postergam o plantio de trigo para que o cereal ainda esteja em fase vegetativa em julho, o que diminui o risco de danificação.
Para o produtor Maurício de Bortoli, de Cruz Alta (RS), a geada e o frio intenso do mês de julho não representam uma grande preocupação para os cultivos de inverno. O receio é se novas ondas de frio invadirem o estado em agosto e setembro, como previsto, quando a maioria dos cereais estará em floração ou enchimento dos grãos.
"A preocupação é grande na cidade, em termos de prejuízo econômico e alimentar, mas não há prejuízo relevante nesta época para as grandes culturas [na lavoura]. Após o mês de julho poderemos perder, além do trigo, a cultura do milho, por exemplo” afirma.
A estimativa para a safra de trigo do Brasil é recorde neste ano, totalizando 8,48 milhões de toneladas, 36% a mais do que no ciclo anterior, de acordo com a Conab (Companhia Nacional do Abastecimento). A geada impactou pequena parcela da área cultivada.
O cenário do café, entretanto, preocupa e gera incerteza sobre a próxima safra. A estimativa é que a geada tenha atingido 300 cidades produtoras do país. Em São Paulo e Minas Gerais, maior produtor nacional, a perda foi relevante e logo fez disparar os preços no mercado.
A projeção de prejuízo é de 15% da produção em regiões como Franca (SP), segundo a Faesp (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo).
"A geada está preocupando. A última não foi tão danosa em São Paulo quanto em Minas Gerais, mas vai impactar até a produção de gado de leite e corte, porque afetou 40% das pastagens de São Paulo", afirma Tirso Meirelles, vice-presidente da entidade.
A alimentação do gado comprometida impacta nos custos ao produtor, considerados já elevados neste ano com a alta do milho. No caso do café, Meirelles diz que é preciso levar em conta na recuperação que um hectare produtivo custa de R$ 18 mil a R$ 20 mil.
Na região mineira de Patrocínio, produtores estimam desfalque de 50% na produção local. O cafeicultor Matheus Grossi afirma que 40% do seu parque cafeeiro foi afetado na semana passada. Ele calcula 40 mil sacas a menos na safra de 2022 graças à geada, a pior que presenciou desde 1994.
“Pegou todas as lavouras, velhas e novas. Algumas vamos ter que arrancar, com outras é só manejo de poda.” Apesar da técnica agrícola, produtores afirmam que pouco se pode fazer contra geadas fortes e inesperadas do tipo.
A Faemg (Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais) está realizando um levantamento com sindicatos e produtores para mensurar o impacto do fenômeno na atividade agrícola. Embora a previsão seja de geada mais forte no Sul, há possibilidade de um novo evento em Minas Gerais no fim do mês. Produtores também estão preocupados com a entrega de café já estabelecida com as cooperativas (Folha de S.Paulo, 26/7/21)
Massa de ar polar chega ao país com possibilidade de neve no RS e SC
Legenda: A temperatura pode variar de – 6ºC a – 8°C em ampla área da Região Sul (Imagem: REUTERS/Christian Hartmann)
Uma nova massa de ar frio intensa, de origem polar, se aproxima do Brasil devendo atingir o Sul do país a partir de amanhã (26), com chuva nos três estados da região. A expectativa é de que, na terça-feira (27), essa massa se desloque por partes do Sudeste e do Mato Grosso do Sul.
De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), esta é a terceira massa de origem polar a atuar no país este ano, devendo durar até pelo menos o dia 1º de agosto.
Após passar pelas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, ela deverá chegar no sudoeste da região amazônica, onde provavelmente será caracterizada como “episódio de friagem”.
O Inmet informa que, ainda no dia 27, a Região Sul deverá apresentar “declínio acentuado das temperaturas máximas” e, nos dias seguintes (28 e 29), o ar frio deverá avançar pelo oeste do Brasil (Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e sul da Amazônia Legal) e também sobre São Paulo, atingindo, nos dias 29 e 30, o restante do Sudeste e as demais áreas do Centro-Oeste.
“Muito provavelmente, teremos um outro episódio de frio intenso (similar ou mais forte do que o evento do final de junho)”, informa o Inmet.
Temperaturas negativas
As mínimas previstas são de – 6ºC e – 8°C em uma ampla área da Região Sul na manhã do dia 30. Há também indicativo de temperaturas menores do que – 8°C nas áreas de maior altitude do Sul. O Inmet não descarta uma nova ocorrência de neve nas serras Catarinense e Gaúcha, entre os dias 29 e 30.
“Caso essas previsões, persistam, muito possivelmente, haverá formação de ampla geada (de intensidade forte) em praticamente toda a Região Sul, sul do Mato Grosso do Sul e sudeste de São Paulo.
No entanto, para as demais áreas do Centro-Oeste e Sudeste (principalmente Serra da Mantiqueira, divisa entre São Paulo e Minas Gerais), ainda haverá condições de nebulosidade persistente e/ou chuva fraca que inibiriam a formação de geada”, complementa, em nota, o Inmet (Agência Brasil, 25/7/21)