Agricultura 4.0 e a gestão da integridade – Por Carlos Gomes Monteiro
Inovação é a solução!
Além da rima, a frase incita uma reflexão urgente por parte dos gestores do agronegócio que testemunham, em nossos dias, a vertiginosa velocidade com que a inovação nos apresenta a Agricultura 4.0.
Quem não embarcar nesse barco vai ser superado pelos seus concorrentes.
A pecuária de precisão promete uma reformulação profunda nos processos de manejo e a redução expressiva do número de unidades animais por hectare, transferindo áreas para a produção de grãos.
Segundo dados do IBGE, a produção agrícola brasileira cresceu 517% no período de 42 anos, de 1975 a 2017.
Pesquisadores da EMBRAPA e da ESALQ estimam que a produção agrícola pode superar esses percentuais e triplicar a partir da implementação da pecuária de precisão, que permitirá o plantio de grãos em terras anteriormente destinadas ao gado de corte, ampliando a disponibilidade de áreas agricultáveis sem desmatamento.
Projetos relacionados ao desenvolvimento do banco de DNA da biodiversidade, da agroclimatologia, da agricultura de baixo carbono, da fixação biológica do nitrogênio nas sementes, do uso de produtos de base natural para redução dos efeitos de fertilizantes e defensivos agrícolas são a prova do esforço dos centros de pesquisa e das universidades no aprofundamento da inserção da tecnologia em todos os processos da cadeia produtiva do agronegócio brasileiro.
E não para por aí...
Um drone pode rastrear e produzir dados sobre uma área de 5000 hectares depois de um sobrevoo de duas horas, captando imagens georreferenciadas para mapeamento da produção e apoio à tomada de decisão, com oportunidade, no sentido de corrigir eventuais falhas detectadas nas áreas cultivadas.
É a Inteligência apoiando a tomada de decisão.
Um dispositivo sensor acoplado a máquinas agrícolas permite ao produtor acompanhar cada etapa do processo de plantio, pulverização e colheita em tempo real, por meio de um aplicativo, a quilômetros de distância, podendo interferir na atividade que está sendo desenvolvida, caso considere oportuno empreender alguma ação corretiva.
É a agricultura digital valendo-se de processos sofisticados de comando e controle.
A Agricultura 4.0 alia alta tecnologia e conectividade com vistas ao aumento dos índices de produtividade de modo sustentável, promovendo a adaptação à biodiversidade, mitigando as emissões de gases do efeito estufa, respeitando o meio ambiente e estando em conformidade com a legislação e as normas que regulam o setor.
Mas inovar não é fácil.
O gestor da inovação possui, necessariamente, atitude mental positiva, demonstra predisposição permanente em evoluir, mostra desassombro diante de novos desafios e notória capacidade adaptativa.
O ingresso da Agricultura 4.0 na cadeia produtiva do agronegócio exige o compromisso de gestores com um processo aprofundado de transformação cultural.
É fácil identificar, nesse novo cenário do setor produtivo, a necessidade de acoplar o compliance à inovação na gestão do agronegócio, à Agricultura 4.0.
Além da inserção de novas tecnologias, a inovação no setor produtivo deverá ser complementada pela implementação de mecanismos de gestão da integridade, de modo a prevenir, detectar e corrigir fraudes e desvios éticos.
A inovação no setor também se concretizará a partir da formulação de políticas e códigos de conduta para mitigar riscos, produzindo, cada vez mais, em conformidade com normas e regras, privilegiando a transparência.
Ainda nesta semana, foram veiculadas notícias de que a Controladoria Geral do Estado do Mato Grosso e sua Secretaria de Estado de Fazenda instauraram processo administrativo contra empresas do setor sucroalcooleiro, acusadas de suposto pagamento de R$ 19,1 milhões de propina a agentes públicos e a terceiros, durante os anos de 2010 a 2015, com o propósito de obter benefícios ilegais de redução da carga tributária do ICMS.
As empresas acusadas, segundo os rigores da Lei 12.846 de 1 de agosto de 2013 – Lei Anticorrupção, poderão sofrer multa de até 20% de seu faturamento bruto no exercício anterior ao da instauração do processo, além de lhes caber a reparação integral dos danos causados à administração pública. Podem também sofrer restrição ao direito de participar de licitações e de celebrar contratos com a administração pública. Terão ainda que conviver com os danos à imagem decorrentes da publicação de sua eventual condenação no site das próprias empresas e em jornal de grande circulação local e nacional, além de sua inscrição no Cadastro Nacional de Empresas Punidas.
Como se pode constatar, os danos são enormes para as empresas denunciadas.
Torna-se emergencial a implementação da gestão da integridade no âmbito do setor produtivo para, também nessa área, acompanhar a transformação cultural que decorre da inserção da Agricultura 4.0 na cadeia produtiva.
No momento em que o setor do agronegócio se encontra com a janela de oportunidade gerada pela evolução tecnológica e ruma a passos largos para implementar a Agricultura 4.0, torna-se inaceitável a impertinente permanência de pontos rígidos de resistência à adoção de novas práticas negociais que privilegiam a ética, a transparência e a conformidade com a regulamentação existente.
Resistirão à mudança todos os que sentem que não serão capazes de se adaptar, aqueles que temem a exposição de suas ineficiências e a perda de poder.
Os gestores da inovação são aqueles que irão fazer a diferença, como declarou Fishman: “Criar mudanças, gerenciá-las, dominá-las e sobreviver consta da agenda de todos os homens de negócio que desejam fazer a diferença”.
Superar resistências é tarefa para os gestores da inovação que desejam fazer a diferença.
De que vale toda a pesquisa e todo o desenvolvimento se parte do crescimento da produtividade for absorvida pelas multas e punições decorrentes de práticas inaceitáveis no ambiente de negócios contemporâneo?
Quanto será absorvido da sua produtividade para arcar com os custos de recuperação da imagem de sua organização, depois de ver-se envolvida em um episódio de fraude, de corrupção ou de má gestão da integridade?
A implementação de um programa de gestão da integridade é uma medida indispensável e inteligente para o aperfeiçoamento da governança do agronegócio, perfeitamente alinhada com as propostas de inovação que configuram a Agricultura 4.0.
Aperfeiçoar políticas e códigos de conduta, aprofundar a gestão de riscos e a continuidade dos negócios e adotar um robusto programa de integridade propiciarão a elevação dos patamares de governança do agronegócio e garantirão o fortalecimento de uma imagem de sustentabilidade ética.
Evolução tecnológica e ética devem estar unidas para atingirmos sustentavelmente a ampliação da capacidade produtiva do agronegócio.
Nesse contexto, crescem de importância as associações representativas dos produtores que precisam agir como polo indutor da mudança, estimulando o aperfeiçoamento da governança e fomentando a adoção de programas de integridade.
Assim como a tecnologia, a ética e a integridade também são protagonistas ativos da Agricultura 4.0 e tripulantes do mesmo barco, navegando pela rota que leva a um crescimento ainda maior do agronegócio.
Nunca foi tão necessário desenvolver e ampliar a atitude mental positiva e a predisposição permanente em evoluir com sustentabilidade, conectividade e integridade.
É a hora dos capitães do agronegócio agirem objetivamente de forma sensata e responsável para inovar fazendo a diferença (Carlos Gomes Monteiro é Coronel da Reserva do Exército Brasileiro, foi Chefe da Agência de Inteligência do Comando Militar do Leste do Exército (Estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais) e Comandante e Diretor de Ensino da Escola de Inteligência Militar do Exército e é sócio da consultoria Linha Limite Soluções Integradas em Gerenciamento de Riscos – www.linhalimite.com.br)