11/12/2023

Agro começa a sentir os efeitos de eventos climáticos extremos

Agro começa a sentir os efeitos de eventos climáticos extremos

modificado o cenário agrícola-Foto Blog Agrishow Digital 

 

Como as ondas de calor estão afetando a produção agropecuária no País

 

Por José Maria Tomazela

Depois de recordes consecutivos, produção de grãos na safra 2023/2024 deve cair 2,4% no País devido às condições climáticas adversas; plantação de soja está atrasada, o milho está mais sujeito a pragas e a floração do café foi antecipada.

As mudanças climáticas têm modificado o cenário agrícola global já há algum tempo. Um levantamento recente, contratado pela Bayer e conduzido pela empresa global de comunicação estratégica Kekst CNC, com 800 produtores agrícolas do Brasil, Austrália, China, Alemanha, Índia, Quênia, Ucrânia e Estados Unidos mostrou que 70% deles já observam impactos expressivos do aquecimento global em suas propriedades, e que 76% estão preocupados com os efeitos futuros das mudanças climáticas para o seu negócio.

No Brasil, neste ano, as recentes ondas de calor são um exemplo concreto do impacto dessas mudanças no agronegócio. Há reflexos nas lavouras de sojamilhoalgodão e café nas principais regiões produtoras do País. Já se fala em queda na produção de grãos, café e fibras. Na pecuária, o gado de corte e leite está sofrendo com a exposição ao calor e com a queda na qualidade dos pastos.

 

O atraso no plantio da soja devido à inconstância do tempo - seca em algumas regiões, chuvas demais em outras - e às temperaturas elevadas compromete o calendário das próximas safras, como a do milho-safrinha. E isso pode se refletir também nos preços dos produtos e, consequentemente, na inflação.

Na quinta-feira, 7, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgou sua projeção para a safra 2023/2024 no Brasil: a previsão é de atingir 312,30 milhões de toneladas, um volume 2,4% inferior ao obtido na safra 2022/23 (319,97 milhões de toneladas). A justificativa é a baixa ocorrência de chuvas e as altas temperaturas registradas nos Estados do Centro-Oeste, enquanto no Sul do País, principalmente no Rio Grande do Sul, há um excesso das precipitações. Essas condições climáticas adversas afetaram o desenvolvimento de importantes culturas, como a soja e o trigo.

Lavoura de milho é uma das afetadas. Foto Helvio Romero  AE

O diretor de Política Agrícola e Informações da Conab, Silvio Porto, disse que a redução da expectativa da safra 2023/24 está diretamente associada ao comportamento desfavorável do clima, em função do El Niño, evento atmosférico que se caracteriza pelo aumento significativo e anormal da temperatura em determinadas regiões. Como a previsão do clima para os próximos meses é desfavorável, não há expectativa de que a produção se recupere de forma a chegar a um novo recorde de produção, segundo ele.

“Além do excesso de chuva no Sul e irregularidades na precipitação na região do Matopiba e Semiárido brasileiro, o País seguirá apresentando altas temperaturas. Isso poderá acarretar a perda de produtividade e redução da área plantada de milho 2.ª safra”, disse. Isso não significa, segundo ele, que a produção brasileira atingiu patamar de estagnação, mas apenas que, na safra atual, a produção sofre influência do comportamento desfavorável do clima.

Modelos de previsão do Instituto Internacional de Pesquisa e Clima indicam que a fase quente do El Niño vai se prolongar em todo o verão, até o final de março. Durante o período, as temperaturas ficarão acima da média em todo o País. A cultura mais atingida é a soja, principal cultivo de verão do Brasil, especialmente nas regiões Norte e Centro-Oeste. Veja as culturas e produções que sofrerão maior impacto:

Soja: atraso no plantio e menos grãos

As chuvas fortes sucedidas por ondas de calor atrasaram o plantio de soja em regiões como o noroeste gaúcho. Foto Tiago Queiroz Estadão

A estimativa de produção da soja nesta safra é de 160,2 milhões de toneladas - uma alta de 3,6%. Mas, segundo a Conab, o plantio da oleaginosa continua atrasado em todas as regiões produtoras. “Estamos em uma área de clima mais temperado, diferente do calor de Mato Grosso, mas até aqui já houve impacto no crescimento vegetativo em algumas regiões. O pior ainda está por vir, porque entramos no pico da floração e há previsão de temperatura de 33 a 34 graus. Um calor desses causa abortamento das flores”, disse o engenheiro agrônomo e produtor Vandir Daniel da Silva, de Itapeva, no sudoeste paulista.

Calor e luminosidade são essenciais para as lavouras de clima tropical como a soja, mas na medida certa. O excesso pode causar o murchamento e a escaldadura das folhas, prejudicando a fotossíntese, processo essencial para a alimentação da planta, segundo especialistas. Conforme o engenheiro agrônomo José Renato Bouças Farias, pesquisador da Embrapa Soja, temperaturas acima de 30 graus aceleram o ciclo vegetativo da cultura, fazem as plantas emitir flores mais cedo, com as plantas muito baixas, o que acarreta produtividade menor.

O presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Mato Grosso (Aprosoja-MT), Fernando Cadore, disse que os produtores estão apreensivos com a seca e as ondas de calor que têm afetado o Estado, maior produtor nacional do grão. “Temos acompanhado as situações de campo e ainda é difícil mensurar o impacto das perdas. O fato é que já existem e vai depender de como se comportará o clima daqui por diante. Toda queda de produção traz queda de rendimento e isso vai afetar a formação das novas safras, seja a segunda safra, que é milho, seja a safra futura de soja”, disse.

Segundo ele, o produtor que vem fertilizando o solo com folga há algum tempo tem condição de usar sua reserva de solo e reduzir a aplicação de insumos. “O principal insumo do produtor é a rentabilidade, e ele vai fazer as contas. Na pandemia, os preços dos fertilizantes subiram e a gente viu uma nítida redução principalmente na aplicação do fósforo. Sem dúvida, a situação climática pode trazer uma redução de tecnologia, inclusive no uso de fertilizantes, para reduzir custos e tentar fazer com que a safra fique viável nos próximos anos”, disse.

 

No Rio Grande do Sul, as chuvas fortes sucedidas por ondas de calor atrasaram o plantio de soja em regiões como o noroeste gaúcho, segundo o produtor e presidente do Sindicato Rural de Santo Ângelo, Laurindo Nikititz. “A sensação térmica hoje (1º de dezembro) aqui é de 40 graus. O plantio da soja já deveria ter se encerrado, mas estamos com menos de 70% plantados. Já tivemos de fazer o replantio em algumas áreas nas coxilhas por causa do excesso de umidade e pelo calor, com o escaldamento da soja nova.”

Esse atraso, segundo Farias, da Embrapa, vai atrapalhar o calendário de cultivos. “A alta temperatura rouba muito rápido a água do solo e o produtor não pode plantar. O plantio atrasado pode levar o agricultor a perder a janela (melhor período de plantio) da próxima safra e assim estreitar o calendário. Com todas essas mudanças no clima, o produtor terá de avaliar os riscos e ver se vale a pena fazer duas ou mais safras por ano. Ele talvez precise abrir mão de uma lavoura, investindo mais em uma única safra de menor risco”, disse.

Milho mais sujeito ao ataque de pragas

Calor deixa plantações de milho mais suscetíveis a pragas. MILHARAL SECO - FREEPIK-DIVULGAÇÃO

Na produção de milho, segundo grão mais cultivado no País – 21,1 milhões de hectares que devem produzir 119 milhões de toneladas -, o risco está no aumento de pragas. “O ciclo da cultura é adiantado e a produção cai. Só o calor não seria tanto problema, mas ele é associado à alta demanda de água. A alta temperatura provoca um consumo energético mais elevado e a planta precisa retirar mais água do solo. É quando acontece o estresse hídrico, que reduz a produção”, explicou o pesquisador da Embrapa, José Renato Bouças Farias.

Uma temperatura média noturna acima de 24 graus provoca um consumo energético mais elevado para a planta se desenvolver e causa queda de produtividade. O milharal fica mais sujeito ao ataque de pragas.

Florada antecipada, menos café no pé

Plantas diminuem a fotossíntese com calor excessivo. Foto Miguel Pessoa-Estadão

Os produtores de café já dão como certa a redução na safra em relação à anterior. Em Minas Gerais, maior produtor de café arábica do País, as floradas foram antecipadas e os grãos estão sem uniformidade e em menor volume. “Quando o calor passa de 30 graus, a planta diminui a fotossíntese, reduz o desenvolvimento e emite uma florada irregular e não há uma granação uniforme”, disse o produtor Francisco Sérgio de Assis, presidente da Cooperativa de Cafeicultores do Cerrado de Monte Carmelo.

Os cafezais da região emitiram a florada em outubro, após uma sequência de dias de muito calor. “Agora é a fase de emissão dos chumbinhos (grãos pequenos), mas as rosetas de café estão ficando banguelas, ou seja, onde era para ter 20 chumbinhos têm apenas 6. As folhas ficaram escaldadas pelo calor e algumas amarelaram, reduzindo a fotossíntese. Tem feito muito calor e as plantas não estão preparadas para isso. Às 10 da manhã, com o tempo nublado, a temperatura está em 32 graus”, disse.

Feijão: plantas murcham sob calor

Produtividade nas plantações de feijão diminuiu. FotoNitro

 

Cultura essencial para a cesta básica do brasileiro, o feijão teve um aumento de área nesta safra, segundo a Conab, mas as lavouras podem ser muito afetadas pelo calor intenso. O plantio da primeira safra, ou safra das águas, está em em andamento no Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo. A expectativa é de produção de 3,1 milhões de toneladas em 2,78 milhões de hectares.

O produtor Arnaldo Vivan, de Quadra, interior de São Paulo, plantou 25 hectares de feijão no final de setembro e viu a produtividade minguar devido às sucessivas ondas de calor. “As chuvas que vieram foram fortes e rápidas, sucedidas por períodos de veranico (temperaturas altas) que prejudicaram muito a floração. Teve uma semana inteira com o feijoeiro todo murcho. Planto há mais de 40 anos e poucas vezes vi um calor assim”, disse.

Menos pluma no algodoal

Algodão terá área recorde na safra atual. Foto Ernesto Rodrigues Estadão

O algodão vai ocupar área recorde nesta safra, de 1,71 milhão de hectares, com a produção podendo chegar a 3 milhões de toneladas de pluma, segundo a Conab, mas a lavoura também é suscetível ao calor em excesso. O clima mais quente deixa a planta sujeita ao ataque de doenças e pragas, especialmente as lagartas, que podem prejudicar a qualidade das plumas. Por outro lado, produtores do Mato Grosso estão antecipando o plantio de algodão em áreas em que não conseguiram cultivar a soja devido ao calor e à falta de chuvas.

Plantas invasoras no arrozal

O arroz está em fase de semeadura e o calor excessivo pode prejudicar a formação das lavouras. Segundo a Conab, o cereal tem previsão de aumento na área plantada e na produção, que pode chegar a 10,8 milhões de toneladas. Os plantios estão adiantados no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Goiás.

A maior parte do arroz brasileiro é irrigada, mas a planta pode ser prejudicada pela elevação excessiva da evaporação. Nas áreas irrigadas, o excesso de chuva prejudica o manejo da cultura. Em Dom Pedrito, região da campanha gaúcha, muitos produtores deixaram de semear por conta dos alagamentos (Estadão, 10/12/23)


Ondas de calor podem derrubar produção de gado de corte e de leite e afetar frango e ovos

Por José Maria Tomazela

Segundo dados da Embrapa, 80% da produção de carne e leite estão concentrados na faixa intertropical, onde os efeitos das ondas de calor são mais intensos.

As ondas de calor intenso afetam também a produção brasileira de leite e carne. O País tem o maior rebanho bovino do mundo, com 234 milhões de cabeças, e é também o principal exportador de carne bovina. De acordo com o médico veterinário Alexandre Rossetto Garcia, pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste, 80% da produção brasileira de carne e leite estão concentrados na faixa intertropical, onde os efeitos das ondas de calor são mais intensos.

Mesmo o gado zebuíno, como o nosso nelore, adaptado ao clima mais quente, sai da zona de conforto quando a temperatura passa de 28 graus. “Sob alta temperatura, em condições de estresse calórico, o animal para de se deslocar para comer a fim de preservar sua energia, e acaba aumentando o estresse, que pode impactar sua saúde”, disse. Animais criados em pleno sol também vão 23% mais vezes ao bebedouro do que os da sombra, gastando energia nesses deslocamentos.

 

Estudos conduzidos por Garcia com gado em pastos sombreados e bois em áreas sob sol pleno mostraram que o boi da sombra descansa durante à noite. “Aquele que ficou no sol precisa andar à noite para se alimentar e passa mais tempo ruminando, o que gera mais calor, por isso começa o dia mais cansado. A produtividade deles é menor”, disse.

Invaldo Weis diz que a situação é grave, pois com o calor e pouca chuva, o pasto não se desenvolveu. Foto Fabio Vinicius Plefka- Estadão

Ele pesquisa há 25 anos a exposição do gado às altas temperaturas. Um dos estudos já apontou que a radiação solar intensa pode afetar até a fertilidade das fêmeas. “Fizemos experimentos em vacas doadora de embriões e aquelas criadas em ambientes sombreadas tinham uma qualidade embrionária mais alta do que as que viviam em ambiente de pleno sol”, disse. As vacas criadas em condições de temperatura mais amenas, com melhores condições de termorregulação, também produziram leite de melhor qualidade.

O pesquisador Ricardo Pezzopane, também da Embrapa, lembrou que a onda de calor impacta também a qualidade dos pastos. “Se tiver chuva, o impacto do calor é neutralizado. Este ano, porém, entre setembro e outubro, tivemos duas ondas de calor no Sudeste em período seco, afetando bastante o potencial das pastagens com braquiária.” Os pastos que alimentam o gado podem ser impactados também de forma indireta, quando as condições do clima atrasam lavouras que entram na integração com a pastagem, como a soja e o milho.

Para reverter esse quadro, os pesquisadores da Embrapa apostam no uso de sistemas de produção integrada, como a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), para proporcionar conforto térmico e diminuir o estresse dos animais em sistemas convencionais. “Quando um animal sente desconforto devido ao calor, ele produz mais hormônio ligado ao estresse. Reduzir o risco de estresse é proporcionar bem-estar ao animal”, disse Garcia.

 

O pecuarista Invaldo Weis, da Fazenda Esperança, em Santa Carmem (MT), vê os efeitos do calor acima de 30 graus afetando o rebanho bovino de 3,7 mil cabeças. “A situação é grave, pois com o calorão e pouca chuva, mesmo com adubação o pasto não desenvolveu. Estou tratando no cocho com silagem e milho triturado, mas o gado está perdendo peso. Se não diminuir o calor, vai ficar complicado”, disse. A maior parte do rebanho é de matrizes com bezerros que começam a desmamar este mês. “Para tirar o bezerro do pé da vaca com esse calor, não dá. Minha esperança é a chuva”, disse.

Principais impactos no rebanho bovino:

  • Calor excessivo e pouca chuva afetam a qualidade das pastagens e o gado emagrece;
  • Boi se alimenta menos e se desloca mais para o bebedouro, consumindo energia;
  • A radiação solar afeta a qualidade dos embriões das fêmeas;
  • Temperatura muito alta produz estresse, prejudica a produção de carne e leite e afeta o bem estar animal.

Frango de corte não engorda e galinha põe menos ovos

No caso dos frangos de corte e dos suínos, a analista Juliana Ferraz, do Cepea, lembra que a maior parte da produção está concentrada na região Sul do País, onde as temperaturas são mais amenas. “Não costuma haver impactos muito significativos nesses mercados, mas podem acontecer se as ondas de calor se intensificarem muito”, disse.

Temperaturas acima de 38 graus afetam o equilíbrio metabólico das aves e leva a perdas de desempenho, em um primeiro momento, e mortalidade de aves em casos severos, segundo o pesquisador Paulo Giovanni de Abreu, da Embrapa Aves e Suínos. A alta temperatura exige que o avicultor acione com mais frequência os equipamentos de ventilação e nebulização, sobretudo em aviários de corte, o que demanda maior consumo de energia e eleva os custos de produção.

As aves aglomeradas nos aviários de corte também emitem calor no ambiente. A faixa ideal para o desenvolvimento das aves, segundo ele, é de 20 graus. Frangos e galinhas abrindo o bico é um dos primeiros sinais do estresse térmico. Em Brasiléia, no interior do Acre, o avicultor Rosildo Freitas perdeu 1.070 frangos de corte devido à onda de calor que atingiu o Estado na primeira semana de novembro deste ano. O aviário não tinha sistema de exaustores e a temperatura chegou a 42 graus no interior da granja.

Em Cascavel, no Paraná, o avicultor Altamir Gomes perdeu 700 frangos em dois dias de temperatura em 38 graus.

A produção de ovos também é afetada. “A galinha sofre muito, mesmo com ventilador ligado. Come menos e diminui a produção e o tamanho dos ovos”, disse o avicultor Geraldo Filho, produtor de ovos caipiras, em Pereiras, no interior de São Paulo. De acordo com o Cepea, por ser um alimento perecível, os produtores também podem registrar perdas de ovos, se não houver escoamento rápido.

Principais impactos

  • A ave deixa de se alimentar e há redução de peso corporal e queda na produção de ovos;
  • Níveis de fertilidade mais baixo nas matrizes;
  • Maior risco de surgimento de doenças;
  • Aumento na mortalidade das aves e na perda de ovos em razão do calor excessivo;
  • Impacto indireto com a redução da produção de grãos que compõem sua alimentação (Estadão, 10/12/23)

Oferta menor no campo tende a elevar os índices de inflação; preços dos ovos já subiram

Por José Maria Tomazela

Verduras, legumes e frutas já sofrem com as alterações climática; preço do arroz e feijão também pode ser pressionado.

Uma redução na produção de grãos, carnes e ovos por causa das condições climáticas pode interferir na trajetória da inflação nos próximos meses. Segundo analistas, alimentos mais sensíveis ao clima, como verduras, legumes e frutas já sofrem com as alterações climáticas. Os preços do arroz e do feijão também podem sentir reflexos da queda de produção devido ao calor intenso.

O pesquisador Thiago Bernardino de Carvalho, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq) da USP, afirma que os impactos na oferta de pastagem devem interferir na produtividade dos animais e resultar na falta de bois para abate. “Isso afeta a ponta final, que é o preço da carne, mas vai depender das carnes concorrentes e do apetite do consumidor. No fim de ano, geralmente ele compra mais carne bovina. Aumento na demanda e redução na oferta podem trazer esse impacto na inflação”, disse.

 

Ele lembra que a carne bovina representa 2% do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). “O momento desse impacto, tanto na carne como no leite, vai depender de o consumidor se dispor a absorver o preço. O leite está com preços baixos, mas pode haver problemas na captação. Então, é de se esperar que os preços subam e isso traz efeito na inflação”, disse.

Preço do ovo já subiu no interior de São Paulo. Foto Tiago Queiroz Estadão

Já no caso dos ovos, segundo a analista Juliana Ferraz, do Cepea, os preços subiram nos primeiros dias de novembro devido à onda de calor que afetou boa parte das regiões produtoras de ovos em setembro, reduzindo a disponibilidade do produto em outubro. Também contribuiu o aumento da mortalidade de aves, devido ao calor intenso.

Esse cenário impulsionou as cotações da proteína em quase todas as regiões acompanhadas pelo Cepea. Em Bastos, principal região produtora de São Paulo, o preço do ovo branco subiu 3,4% e do ovo vermelho, 3,2%.

No boletim Focus, do Banco Central, divulgado na última segunda-feira, 4, a expectativa do mercado para a inflação deste ano era de 4,54%. Para 2024, a expectativa é de que o IPCA termine o ano em 3,92% (Estadão, 10/12/23)