Agro é tão subsidiado pelo governo como dizem?
Helen Jacintho --Foto Linkedin
Por Helen Jacintho
Entre os grandes produtores agropecuários, o Brasil é o país que menos subsidia o agronegócio
Você já deve ter ouvido falar que o agro vem se destacando como a locomotiva da economia do país porque é subsidiado pelo governo, mas será que o agronegócio brasileiro é mesmo altamente subsidiado como é alardeado?
De acordo com dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil se destaca como um dos países que menos subsidia a produção agrícola em comparação com outros grandes países produtores agropecuários. O Brasil tem 1 a 2% de subsídio em relação a receita bruta do produtor. A título de comparação, os Estados Unidos e a China subsidiam ao redor de 12% e a União Europeia subsidia cerca de 20% em relação a renda bruta do produtor.
No mundo todo os países apoiam a agropecuária, partindo do princípio de que é uma atividade essencial para garantir a segurança alimentar das nações. Na década de 1970, quando o Brasil dependia do mercado internacional para comprar até alimentos básicos, houve o desafio de equilibrar a nossa balança comercial, mudando do modelo industrial. A melhor solução a curto prazo foi o desenvolvimento do setor agrícola. Analisando os números, o aumento de produção é inversamente proporcional ao subsídio que vem ocorrendo nos últimos 50 anos.
Vamos aos dados: segundo Rodrigo Peixoto da Silva, pesquisador da área de Macroeconomia do Cepea, centro de pesquisas econômicas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, “considerando-se o período de 2000 a 2020, o Brasil diminuiu, em termos reais, o nível de suporte total à agropecuária de US$ 19,34 bilhões para US$ 4,45 bilhões. Um recuo de 77% no valor total anual transferido de contribuintes e consumidores para a agropecuária”.
Segundo a OCDE, o suporte direto ao produtor rural apresentou redução vertiginosa de 86% no mesmo período, partindo do volume de US$ 13,81 bilhões no ano 2000 e atingindo US$ 1,96 bilhão em 2020.
Vemos o movimento inverso quando falamos da produtividade da agropecuária brasileira. De acordo com o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), entre os anos 2000 e 2020 o Brasil liderou a produtividade agropecuária mundial entre 187 países. Segundo a pesquisa realizada pelo o Economic Research Service (órgão do USDA) no período citado, a produtividade da agropecuária brasileira aumentou 3,18% ao ano, a maior taxa entre os países selecionados – enquanto na China, a alta foi de 2% e nos EUA, 0,5%.
Falando em comercialização e entrada de dólares no país, segundo Marcos Fava Neves, pesquisador e professor da USP (Universidade de São Paulo) e FGV (Fundação Getúlio Vargas), em 20 anos o Brasil saltou de 25 para 160 bilhões de dólares vendidos ao mundo, ou seja, 160 bilhões de dólares entrando no nosso país e levando desenvolvimento a cidades, trazendo oportunidades e qualidade de vida para todos, pois de acordo com os dados apresentados no último Censo, nos municípios onde o agro se instala, o IDH (índice de desenvolvimento humano) é mais elevado do que a média geral do país. A produção rural deu ao Brasil os dólares necessários para equilibrar a nossa balança comercial. A agropecuária responde atualmente por metade de todas as exportações brasileiras.
Países como os Estados Unidos concentram os subsídios em produtos que o país mais exporta, desta maneira, garantindo uma renda mínima ao produtor e diminuindo riscos devido a intempéries e queda nos preços, como o que houve neste ano com alta produção. Já na União Europeia, as subvenções não são conectadas à produção.
Países concorrentes do Brasil, como os da União Europeia, China e Estados Unidos, subsidiam suas produções agropecuárias visando garantir sua segurança alimentar, trazendo estabilidade aos produtores rurais, enquanto protegem a sua produção da competição do mercado internacional.
O agronegócio é hoje o esteio da nossa economia e se apoia nas próprias pernas.
*Helen Jacintho é engenheira de alimentos por formação e trabalha há mais de 15 anos na Fazenda Continental, na Fazenda Regalito e no setor de seleção genética na Brahmânia Continental. Fez Business for Entrepreneurs na Universidade do Colorado e é juíza de morfologia pela ABCZ. Também estudou marketing e carreira no agronegócio (Forbes, 28/7/23)