Agro nunca exportou tanto, mas consumidor brasileiro sente no bolso
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Câmbio incentiva exportações, e resultado é um encarecimento da alimentação internamente, elevando a inflação.
A agropecuária viveu um primeiro semestre para não ser esquecido. Praticamente todos os principais itens da balança de exportação do agronegócio registraram recordes nos valores e nos volumes exportados neste período.
Os setores nos quais o volume de exportação não foi tão acentuado foram compensados pelos elevados preços internacionais.
Os motivos desse bom cenário para o agronegócio brasileiro neste primeiro semestre do ano já são conhecidos. A demanda externa está aquecida, os estoques de grãos estão em patamares perigosos, e os preços internacionais subiram.
No setor de proteínas, doenças em rebanhos de países que são grandes produtores e consumidores mantêm os preços externos aquecidos.
No caso específico brasileiro, o câmbio incentiva ainda mais as exportações, dando competitividade aos produtos nacionais e trazendo mais reais para o produtor.
O resultado é um encarecimento da alimentação internamente, elevando a inflação. O mercado internacional depende agora da nova safra de grãos, a de 2021/22.
Os bons preços animam os produtores a semear mais, mas o que vai determinar uma recomposição dos estoques internacionais é a evolução do clima.
Qualquer efeito climático um pouco mais sério na safra 2021/22 nos EUA e no Brasil colocará a oferta de grãos abaixo da demanda mundial.
Mas o Brasil acabou sendo vítima do excesso de exportações. Nos seis primeiros meses deste ano, o país teve de trazer do mercado externo 176% mais soja e 151% mais milho do que em igual período do ano passado.
Apenas em junho, final de colheita da soja e às portas da de milho, as importações desses dois produtos aumentaram 182% e 3.410%, respectivamente, ante junho de 2020.
Considerando apenas dez produtos analisados pela Folha, as receitas somam US$ 46 bilhões de janeiro a junho, 22% a mais do que em igual período anterior.
A boa evolução do primeiro semestre garantirá ao país um dos melhores anos em exportações agropecuárias. Com base nesse aumento de 22%, as receitas poderão superar US$ 120 bilhões.
Uma das dúvidas é o milho. Após a quebra de 19 milhões de toneladas no potencial inicial produtivo da safrinha, o país terá um volume bem menor para exportar. Algumas estimativas já indicam uma redução dos até 40 milhões de toneladas previstos para apenas 20 milhões.
A soja, mesmo com o aumento de importações neste ano, será, de longe, o principal item da balança no setor. Nos seis primeiros meses deste ano, o país já colocou um volume recorde de 59,4 milhões de toneladas da oleaginosa no mercado externo, obtendo US$ 25,6 bilhões.
Um setor que surpreendeu foi o de açúcar, cujas exportações renderam US$ 4,2 bilhões no primeiro semestre, alta de 33%.
O produto superou até os US$ 3,5 bilhões da carne bovina, um dos principias expoentes da balança comercial do agronegócio nos últimos anos devido às importações chinesas.
A China garante também o bom desempenho da carne suína, que teve aumento de 36% neste ano, acima da evolução obtida pelas exportações de frango, que foi de 9%.
Neste período de embalo das exportações, a madeira em bruto lidera a evolução percentual do semestre. O valor das receitas desse item, que não inclui a madeira trabalhada, é pequeno, em relação aos demais, somando US$ 110 milhões, mas é 120% superior ao de janeiro a junho do ano passado.
O algodão, tido como um produto que seria muito afetado pela pandemia, reagiu bem e atingiu receitas de US$ 1,8 bilhão no primeiro semestre do ano, 38% a mais do que igual período anterior, conforme os dados da Secex (Folha de S.Paulo, 1/7/21)