28/01/2025

Agro volta a acelerar em 2025 – Editorial O Estado de S.Paulo

Agro volta a acelerar em 2025 – Editorial O Estado de S.Paulo

Na contramão de indústria, comércio e serviços, agropecuária retoma dinamismo econômico.

A safra recorde prevista para este ano tende a fazer o agronegócio ser em 2025, mais uma vez, o esteio da economia, como ocorreu em 2023. Na divulgação, neste mês, de seu terceiro prognóstico para o setor, o IBGE elevou para 322,6 milhões de toneladas a produção de cereais, leguminosas e oleaginosas, alta de mais de 10% em relação a 2024. Melhora providencial diante do início da desaceleração econômica que vem sendo anunciada por indicadores recentes da indústria, comércio e serviços.

Castigado por fatores climáticos em 2024, ano marcado pelos efeitos dos fenômenos El Niño e La Niña, o PIB do agro teve recuperação rápida. Recuou por dois trimestres consecutivos, mas no terceiro trimestre avançou 1,26%, de acordo com cálculo recém-divulgado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). A queda em relação a 2023 será menor do que a esperada.

A capacidade de reação do agro conduz, mais uma vez, à comparação com outros setores da economia que não apresentam dinamismo semelhante, apesar dos incentivos governamentais. São inúmeros os exemplos de programas de estímulo que não se traduzem em ganhos para a economia e que não passam de benesses, como as sucessivas operações de socorro aos setores automotivo e de aviação, entre outros tantos segmentos industriais.

É evidente que há robustos subsídios à agricultura e à pecuária – o Plano Safra 2024/25 recebeu R$ 475,56 bilhões em recursos para financiamentos –, mas o Brasil está entre os países que menos subsidiam sua produção, de acordo com monitoramento feito pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Com subsídios variando entre 1% e 2% em relação à receita bruta do produtor, está muito distante dos países da União Europeia, dos Estados Unidos e da China, cujos porcentuais variam entre 12% e 20%.

As empresas do agronegócio, porém, há muito adotam políticas que as mantêm na vanguarda tecnológica, uma mostra de como incentivos públicos devem ser revertidos em avanço econômico do País. Afinal, o objetivo principal de políticas subsidiadas não é – ou não deveria ser – distribuir recursos para socorrer este ou aquele segmento eventualmente em apuros, mas sim incentivar produção e produtividade, promover o desenvolvimento tecnológico e criar competitividade.

Não fosse o ranço explícito do lulopetismo ao agronegócio, o histórico do setor, que garante o bom desempenho da balança comercial e vem se firmando na liderança da comercialização de commodities no mundo, poderia servir de modelo para a elaboração de políticas públicas em outros segmentos. A agropecuária é a atividade com menor peso no cálculo do PIB e, no entanto, seu bom desempenho tem sustentado em grande parte o crescimento econômico. Se o governo Lula da Silva parasse de mirar em resultados imediatos e planejasse políticas de longo prazo com base nessa experiência, o País avançaria em inovação e competitividade (Estadão, 27/1/25)