30/11/2017

Agroecologia aponta caminhos pata os sistemas convencionais

 Para Leontino Balbo, da Native, solo está degradado com agricultura convencional

Sistemas tradicionais de cultivo vêm buscar em métodos naturais soluções para controle de pragas e doenças.

Problemas cada vez mais caros e de complexa solução rondam a agricultura convencional. O pacote monocultura-adubo químico-agrotóxicos-transgênicos dá sinais de esgotamento em algumas frentes. Resistência a agroquímicos; surgimento de mais pragas; perda gradual da capacidade nutritiva do solo, e, consequentemente, da produtividade, e poluição de mananciais são alguns dos problemas para os quais a pesquisa e os agricultores buscam alternativas no campo da biologia e da agroecologia.

O professor Carlos Armênio Khatounian, da Área de Agroecologia e Agricultura Orgânica da Esalq-USP, lembra, por exemplo, de uma lagarta, a falsa-medideira, que virou praga após o surgimento da ferrugem da soja. A aplicação intensiva de fungicida para controlar a ferrugem matou outros micro-organismos que a controlavam. “Sem inimigos naturais, ela se tornou uma praga.” 

Uma grande multinacional do setor de agroquímicos, a FMC, resolveu direcionar, há cerca de 15 anos, parte dos seus investimentos para o desenvolvimento de defensivos biológicos. Conforme o presidente da companhia no Brasil, Ronaldo Pereira, esta é a linha que mais cresce na empresa, na base de 30% ano, enquanto o rendimento total da indústria de agroquímicos no Brasil deve se manter ou subir levemente em 2017, diz. “A tendência é que os biológicos ganhem mais importância.” Atualmente, 4% do faturamento da FMC, de US$ 520 milhões em 2016 veio dos biológicos. Entre as vantagens, ele aponta menor custo, um tempo mais curto para o registro e a dificuldade de pragas criarem resistência. 

Mitos

Na pesquisa e nas próprias lavouras, alguns mitos têm sido quebrados em relação à agricultura que se volta a práticas ecológicas. O principal paradigma a cair por terra é de que “custa mais” ser sustentável. Recente pesquisa feita na Esalq-USP prova que, ao contrário, a sustentabilidade é mais rentável. A autora do estudo, a agrônoma Dienice Bini, testou o efeito de práticas de sustentabilidade sobre o desempenho econômico de produtores de café. Sob orientação da professora Silvia Helena Galvão de Miranda, Dienice apurou que a renda do produtor sustentável aumentou em relação ao produtor convencional. “O custo de produção em cafezais certificados foi de R$ 408,99 por hectare (referente à média das safras 2011 e 2013), e o de um produtor não certificado foi menor, de R$ 394,91”, diz Dienice. “Mas o produtor certificado colheu mais por hectare, 47,8 sacas, ante 39,9 do convencional.”

Além do café, outra importante cultura que contribui para o superávit da balança comercial brasileira, a cana-de-açúcar, tem exemplos cabais de que pode ser economicamente viável quanto mais métodos naturais forem adotados. “Representantes da agricultura convencional sempre vêm me procurar para ampliar conhecimentos em relação a técnicas que aliem preservação da biodiversidade com aumento de produtividade”, relata um ícone nesse setor, o empresário Leontino Balbo, de Sertãozinho (SP).

Principal produtor e exportador mundial de açúcar orgânico, sob a marca Native, Balbo cultiva 22 mil hectares de cana orgânica, seguindo os preceitos da “Agricultura Revitalizadora de Ecossistemas”. Biodiversidade é a palavra-chave, principalmente em relação à vida do solo. “Ao mesmo tempo que essa agricultura providencia produção comercial em larga escala, restaura os recursos naturais presentes no ecossistema”, explica. “Após 30 anos de trabalho, a fertilidade dos nossos solos é maior do que há 500 anos, isso comprovado cientificamente, por meio da restauração da bioestrutura ativa do solo.” 

O resultado é produtividade 25% maior em relação à média dos canaviais de SP e até 7 cortes por planta, ante a média de 4 a 5 no entorno. O produtor é categórico ao afirmar que, sob a agricultura convencional, o solo está se degradando. E que a agricultura convencional terá de mudar seus métodos. “Produtores no Centro-Oeste já estão percebendo isso” (O Estado de S.Paulo, 30/11/17)