AgroGalaxy se antecipa à crise do agro, troca comando e corta 80 cargos
Agrogalaxy é uma das grandes empresas do varejo no agronegócio. Foto Tiago Queiroz Estadão
Varejista afirma ver perspectivas difíceis não apenas para este ano como ‘um pouco mais do mesmo para 2025’; empresa faturou R$ 11,6 bilhões em 2022.
Do mesmo jeito que a safra recorde do ano passado ganhou manchetes e impulsionou o Produto Interno Bruto (PIB), a quebradeira de empresas do setor do agronegócio começa a ter destaque — e a levantar preocupações. O número de pedidos de recuperação judicial cresceu 300% entre janeiro e setembro, segundo a Serasa Experian divulgou esta semana.
Nesta terça-feira, 6, a Elisa Agro entrou com um pedido de recuperação judicial e dívidas de R$ 680 milhões. Já a AgroGalaxy, uma das maiores plataformas de varejo de insumos agrícolas, anunciou uma reestruturação que envolveu troca de comando, corte de 80 cargos e mudanças operacionais.
“Estamos nos antecipando ao mercado porque há uma lição de casa a ser feita”, diz Sebastian Popik, presidente do conselho da AgroGalaxy e sócio do fundo Aqua Capital, maior acionista da empresa. “Como sempre, somos o primeiro a colocar a cara, mas foi um movimento muito estudado.”
Isso porque a varejista, que faturou R$ 11,6 bilhões em 2022, vê perspectivas difíceis não apenas para este ano como “um pouco mais do mesmo para 2025″, nas palavras de Popik. Porém, ele diz ser mais um dos muitos eventos cíclicos ao qual o setor está acostumado.
“Meu avô trabalhava com maquinário agrícola nos anos 50, meu pai ficou nessa indústria a vida toda e eu estou há 18 anos na área e é sagrado: esse é um mercado que cresce e encolhe a cada cinco ou sete anos”, diz ele. “Será mais uma fase de reajustes, mas não haverá quebradeira porque o agronegócio é como um acordeão — na baixa, todos se apertam e, quando ganham dinheiro, todos crescem mais.”
Ele diz que, apesar de as recuperações judiciais terem crescido quatro vezes, o número absoluto de pedidos foi de 20 para 80 no período analisado. “No universo do agronegócio, isso é um pingo dentro de um balde”, afirma. “Assusta, preocupa, mas não é o que define o mercado.”
Para ele, a maioria dos produtores rurais e indústrias do setor querem pagar suas contas e evitar pedidos de proteção à Justiça. Porém, ao entrar no segundo ano de dificuldades, os credores têm menos flexibilidade para prorrogar dívidas. “De agosto para cá, mudaram as perspectivas e todos ficaram mais restritivos”, afirma.
Se, logo após a safra recorde, os produtores bastante estocados sofreram com a queda no preço das commodities e o aumento nos insumos, agora é a vez do clima ter atrapalhado, além de os produtos novamente terem perdido valor em dólar e o real ter se apreciado. “Mesmo assim, não é um cenário caótico”, afirma. “Em média, o produtor brasileiro vai colher mais de 90% do volume histórico.”
Esse é um dos motivos que o levam a defender a estratégia da AgroGalaxy. A estrutura que havia sido montada era para um cenário de crescimento rápido do setor, porém foi necessário “dar meio passo para trás, para voltar com força mais adiante”. De acordo com ele, a ideia foi fazer do limão uma limonada. “Tínhamos sete níveis, entre o CEO e o vendedor, e agora serão cinco”, esclarece Popik. “Isso é ótimo porque, no negócio de revenda, a agilidade e o foco no cliente fazem muita diferença.”
Além disso, havia lojas, como as alocadas nas cidades ao longo da BR-163, que enfrentavam grande concorrência e estão na região mais afetada pelas condições climáticas desfavoráveis. “Seriam unidades que sugariam caixa por cinco anos”, explica. “São poucas as que serão fechadas, mas tudo foi estudado com muito cuidado e vai bem além do simples corte de custos.”
Segundo ele, a operação nos EUA, por outro lado, tem se normalizado, com o inventário e o clima melhorando. “Ninguém volta correndo para investir depois de uma crise, mas o produtor americano está retomando aos poucos e agora com uma margem razoável”, informa.
A troca no comando, segundo Popik, também estava desenhada havia tempos. Axel Labourt, que assume o cargo de CEO no lugar de Welles Pascoal, reportava-se a ele havia dez anos. “Foi uma transição planejada”, diz.
O aporte de R$ 150 milhões que o Aqua Capital fez na AgroGalaxy, no fim do ano passado, afirma, foi um movimento que indicou confiança na gestão. “Serviu para fortalecer o caixa num momento de baixa e para mostrar nosso comprometimento com a estratégia da empresa”, ressalta Popik. Após o anúncio da reestruturação, as ações da AgroGalaxy chegaram a ter alta de 1,21%, mas caíam mais de 72% no ano (Estadão, 7/2/24)