05/10/2020

Agronegócio e desenvolvimento futuro – Por José Roberto Mendonça de Barros

Agronegócio e desenvolvimento futuro – Por José Roberto Mendonça de Barros

Há uma revolução com a maior utilização de ferramentas digitais para controle de atividades na fazenda (irrigação, alimentação animal e outros)

No último artigo (20/09), mencionei que a agenda de avanços tecnológicos no agronegócio já estava dada. Queria, então, esboçar suas principais linhas

- O processo de digitalização do setor está dando um salto e com ele teremos um grande avanço da chamada agricultura de precisão. Essas técnicas permitem que os equipamentos sejam controlados por programas e sensores que muitas vezes tomam o lugar do motorista do equipamento. Por exemplo, durante um plantio de cana, o desenho da linha é feito pelo GPS e o mesmo ocorre em outras atividades de trato cultural. O resultado é que se utilizará plenamente a área e haverá redução no uso de fertilizantes e defensivos, que só serão aplicados nas plantas na quantidade necessária. Em consequência, haverá uma elevação na produtividade com redução de custos.  

- Estamos vendo uma grande intensificação do uso de bioprodutos, como defensivos, fertilizantes, condicionantes do solo, produtos utilizados na preparação de sementes, inoculantes para fixação de nitrogênio em gramíneas e para fixação de fósforo no solo, produtos de saúde animal etc. O resultado será uma importante redução de moléculas derivadas do petróleo e uma cesta de insumos com menor grau de toxicidade e concomitante elevação da eficiência.

- Está aumentando muito a área dos sistemas integrados de produção, de lavoura/pecuária/florestas, que já são consolidados, mas seguem em expansão. Os resultados têm sido notáveis no que tange a produtividade, qualidade do solo e bem estar animal. 

- Também há uma importante evolução dos sistemas integrados de controle de pragas. Como o anterior, esses sistemas não são novos, mas têm evoluído de forma importante, cujo resultado é uma boa diminuição na utilização de defensivos, com menores graus de toxicidade.

- Há uma revolução com a maior utilização de ferramentas digitais para controle de atividades na fazenda (irrigação, alimentação animal e outros), bem como sistemas integrados para gestão da empresa agropecuária. Esse é um dos itens mais relevantes, pois a experiência tem mostrado que o crescente conhecimento e controle de atividades, custos e gestão financeira produzem substanciais elevações na rentabilidade do produtor. 

- Ainda na área de digitalização, a pandemia estimulou grande variedade de serviços prestados à distância, que vieram para ficar, nas áreas de tecnologia, assistência técnica, gestão, produção e marketing. Os bons resultados obtidos, e a resultante redução de custos, em conjunto com as técnicas de gestão, podem se transformar numa revolução no desempenho de pequenas propriedades.

- Há ainda uma série de notícias estimulantes na produção de novas energias e equipamentos. Além do tradicional etanol e do biodiesel, vemos a expansão da produção de biogás, resultante da digestão de diferentes tipos de resíduos, bio-óleo proveniente da madeira e lignina. Numa outra linha, a inovação mais relevante está na utilização de veículos híbridos flex-fuel: os cuidadosos testes conduzidos pela Unica mostram que o veículo desta natureza poluirá menos que um carro elétrico europeu ou chinês, dada a natureza da eletricidade (a partir de carvão e de petróleo) produzida nestes países. Aparentemente, a Toyota começará a fabricar aqui tal veículo.

- Outro front promissor é a produção de novos alimentos. Tem sido muito comentada a produção de carnes e ovos a partir de proteína vegetal e de leite de sementes oleaginosas, como a amêndoa e a castanha de caju. Ainda não é clara a extensão desses mercados, mas é certo que eles terão certa relevância. 

- E estamos assistindo a uma pequena revolução proveniente do desenvolvimento de novos materiais a partir da nano celulose e do bagaço de cana. Elastano e outros fios e tecidos especiais, compósitos plásticos, aditivos que melhoram o desempenho de inúmeros produtos intermediários como metais e cimentos compõem essa categoria. 

Observe-se que crescer a produção na fase que estamos descrevendo necessita de uma expansão conjunta e integrada de empresas agropecuárias, indústrias e de serviços de todos os tipos. É o que podemos chamar de agricultura 4.0.

Queria observar também que o acesso à internet nas propriedades agrícolas é hoje tão importante quanto a melhoria na logística e a expansão do seguro rural. 

O pós-pandemia é uma grande oportunidade para o novo salto no agronegócio desde que possamos evitar a regressão ambiental perseguida por parte do governo (O Estado de S.Paulo, 3/10/20)