Agrotóxicos: um problema de percepção do risco - Por Nicholas Vital
Há mais de uma década, os pesquisadores Jerry Cooper e Hans Dobson, do Instituto de Pesquisas Naturais da Universidade de Greenwich, vêm investigando os motivos pelos quais os agrotóxicos são tão mal vistos pela população em todo o mundo. Em 2007, a dupla lançou o inédito estudo “The Benefits of Pesticides to Mankind and the Environment” (Os benefícios dos pesticidas para a humanidade e o meio ambiente), em que concluem que a única explicação para esse medo generalizado seria um problema de percepção de risco causado por uma combinação de falta de conhecimento científico, escassez de informações sobre os produtos químicos e um agressivo marketing do medo promovido pela indústria de orgânicos.
Com base em dados oficiais dos Estados Unidos, Cooper e Dobson classificaram os trinta maiores riscos no critério do número de mortes por ano — com o número 1 sendo o maior número de mortes, e o número 30, o menor. Os agrotóxicos foram classificados no número 28, atrás de conservantes de alimentos (27), eletrodomésticos (15), natação (7), álcool (2) e fumo (1). No entanto, após uma série de entrevistas com voluntários, constataram que a percepção do público era muito diferente. As mulheres, por exemplo, imaginaram os pesticidas como número 9 na lista, enquanto os estudantes universitários os colocaram como número 4. De acordo com os pesquisadores, ambos os grupos classificaram erroneamente os riscos devido à publicidade negativa que os agrotóxicos recebem.
No Brasil não é diferente. De acordo com dados do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox), do Ministério da Saúde, os agrotóxicos foram responsáveis por 4,5% dos 42.127 casos de intoxicação humana por agentes tóxicos em 2013 (último dado disponível). Dos 1.907 casos envolvendo defensivos, 971 foram tentativas suicídio, ou seja, mais da metade dos incidentes não está relacionada com o seu uso na agricultura. Os números do Sinitox indicam 621 acidentes individuais e outros 214 casos de intoxicação ocupacional por agroquímicos, com apenas sete óbitos registrados. Entre os 971 que tentaram se matar ingerindo agrotóxicos, somente 64 conseguiram.
O perigo de verdade está em casa e na maioria dos casos é ignorado. Ainda de acordo com as informações do Sinitox, a principal causa de intoxicação no Brasil são os medicamentos. Foram quase 12 mil casos apenas em 2013 (28,45% do total), sendo 4.800 acidentes envolvendo automedicação. Outra ameaça são os produtos de limpeza, com 3.601 casos (8,55%). O que fazer diante dessa situação? Proibir a venda de remédios e produtos de limpeza? Se seguirmos a lógica dos que defendem o banimento dos pesticidas, a resposta é sim, já que são muito mais “mortais” que os agrotóxicos — e os números provam isso. Na prática, porém, sabemos que nenhum desses produtos será proibido, seja no Brasil ou em qualquer lugar do mundo.
O que mais chama a atenção nessa história é a indignação seletiva das pessoas, causada única e exclusivamente pela falta de informações, o que pode ser explicado em parte pela omissão do setor de agroquímicos no Brasil. Pode reparar: por mais absurdo e infundado que seja o ataque, raramente há uma resposta por parte da indústria — apesar de existirem explicações muito bem fundamentadas para todos os mitos difundidos pelos detratores.
Sem um contraponto, a história que fica para a população é a de que o Brasil é o campeão mundial no uso de agrotóxicos (deixando de lado o fato de o país produzir mais de 140 quilos de alimentos para cada dólar investido em pesticidas, contra oito kg do Japão), que cada brasileiro ingere 5,2 litros de agrotóxicos por ano (utilizando a mesma metodologia, podemos dizer também que cada brasileiro fuma 400 cigarros), ou que mais de 90% do pimentão produzido no país está intoxicado (mesmo sabendo que a maior parte das irregularidades pode ser atribuída ao uso de produtos não autorizados para a cultura, um problema regulatório e não de saúde pública).
Sem um contraponto, a história que fica para a população é a de que o Brasil é o campeão mundial no uso de agrotóxicos (deixando de lado o fato de o país produzir mais de 140 quilos de alimentos para cada dólar investido em pesticidas, contra oito kg do Japão), que cada brasileiro ingere 5,2 litros de agrotóxicos por ano (utilizando a mesma metodologia, podemos dizer também que cada brasileiro fuma 400 cigarros), ou que mais de 90% do pimentão produzido no país está intoxicado (mesmo sabendo que a maior parte das irregularidades pode ser atribuída ao uso de produtos não autorizados para a cultura, um problema regulatório e não de saúde pública).
Enquanto o setor de agroquímicos não se mobilizar e começar a desvendar esses mitos, os orgânicos seguirão construindo a sua história, uma narrativa muito bonita, é preciso admitir, mas baseada em meias verdades, como os supostos benefícios nutricionais (nunca comprovados cientificamente), o sabor superior (o paladar humano é incapaz de diferenciar os produtos), a questão da sustentabilidade (produzir menos em mais espaço não me parece algo benéfico para a natureza), o fato de serem livres que químicos (metais pesados são utilizados em lavouras orgânicas), além da maior de todas as lendas: a de que os orgânicos podem alimentar o mundo. Não podem. Mas esse é um assunto para outro artigo (Assessoria de Comunicação, 27/11/17)