Alckmin fala em reindustrializar o Brasil com “economia verde”
Geraldo Alckmin e Lula Foto Wilton Junior Estadão
Vice-presidente toma posse como Ministro da Indústria em cerimônia concorrida no Palácio do Planalto
O vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), tomou posse nesta quarta-feira, 4, como ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) e prometeu retomar a política de “reindustrialização’ alinhada com práticas de economia verde como condição para o crescimento sustentável do País. Ele disse que vai criar uma Secretaria de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria para dar apoio na retomada da agenda da competitividade. A área trabalhará em parceria com o Ministério do Meio Ambiente, comandado por Marina Silva.
“Essa é uma agenda prioritária, inclusive para assegurar competitividade do produto nacional. A politica precisa estar em sintonia com necessidade da economia mundial. A sociobiodiversidade será ponto de partida da nova política industrial, algumas frentes nessa natureza incluem complexo industrial da saúde, energias renováveis, hidrogênio verde e mobilidade”, disse.
Numa das cerimônias de posse mais prestigiadas a ocorrer no Palácio do Planalto, com filas que se formaram às 9 horas para o evento que só ocorreria às 11h, Alckmin prometeu tocar a agenda de interesse dos empresários, que inclui financiamento, simplificação tributária e redução do custo Brasil. Após a posse, foi cercado por dezenas de convidados que se espremiam em busca de fotos, apertos de mão e uma chance de falar com o ministro. Até mesmo apoiadores do governo com bonés do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) entraram na disputa para se aproximar dele.
Segundo Alckmin, os desafios relacionados às cadeiras de fornecimento e preservação do meio ambiente se proliferam e impactam nos fluxos internacionais de comércio. O vice-presidente ainda afirmou que o País dará exemplos positivos no processo de desenvolvimento verde. Para isso, a Secretaria de Economia Verde deve funcionar como um anteparo a sanções internacionais por causa do desmatamento, assim como terá a atribuição de atrair investimentos internacionais no que Alckmin chamou de “protecionismo” a partir da questão climática.
“O Brasil pode ser e será o grande protagonista no processo de descarbonização da economia global”, disse Alckmin. “Os desafios relacionados às cadeias de fornecimentos se proliferam e impactam fluxos de comércio. O Brasil de agora dará exemplos positivos, enfrentará riscos de maneira construtiva. Estamos seguros de uma maior integração do comércio exterior brasileiro no mundo. O comércio exterior é fundamental para fortalecer indústria e serviços no País”, completou.
De acordo com Alckmin, o Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) será a principal alavanca do ministério na retomada da industrialização e da política de desenvolvimento social no País. O ministro-presidente disse ainda que o banco deve atuar como um vetor da economia verde no País com investimentos. Ele ainda apontou a reforma tributária a ser desenhada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), como um dos pontos de interesse da sua gestão no ministério por permitir a elevação do Produto Interno Bruto (PIB) e a eficiência econômica.
O vice-presidente e agora ministro ainda elogiou uma das primeira medidas do novo governo na área, que, segundo ele, deve ditar o ritmo das articulações na pasta: a criação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNI), que criará uma mesa de discussões e negociações entre os setores público e privado.
Alckmin ainda reservou uma parte do discurso para criticar a política econômica do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que foi tocada pelo ex-ministro da Economia Paulo Guedes. O antigo titular da economia acumulou funções no seu chamado “superministério” que estrutura do MDIC. O ministro-presidente disse que será necessário “reconstruir” a ações industriais. “Reconstrução porque depois de 4 anos de descaso, de má gestão e de desalinho dos reais problemas brasileiro, o presidente Lula, com acerto, determinou a recriação do MDIC como uma medida fundamental para ao Brasil retomar o caminho do desenvolvimento, como já aconteceu em seus governos bem sucedidos”, afirmou.
Na disputada plateia formada no Salão Oeste do Planalto estivem nomes influentes no mercado financeiro, como o presidente do Conselho de Administração do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o presidente em exercício do Senado, Veneziano Vital do Rêgo (União Brasil-PB), e o ex-presidente José Sarney (MDB) também estiveram presentes, numa das poucas cerimônias de posse de ministros com autoridades dessa estatura política.
A nomeação de Alckmin para comandar a pasta do Desenvolvimento se deu após dificuldades do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em convencer outros nomes a assumir o posto. Em dezembro, o petista convidou o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes, para integrar o governo, mas recebeu negativa diante da crise que o industrial enfrentava dentro da organização por tentativas do ex-presidente Paulo Skaf de tentar demovê-lo da presidência.
Como alternativa, ainda em dezembro Lula convidou o presidente do Conselho de Administração do grupo Ultra, Pedro Wongtschowski, que também declinou da proposta por divergências com o posicionamento econômico anunciado pelo governo de transição até aquele momento. O executivo é um ávido defensor de políticas de concessão e privatização, numa toada liberal, que foram rechaçadas pelo plano de gestão petista. Durante a formação dos ministérios, Lula chegou a dizer que em seu novo mandato “vão acabar as privatizações” no País.
Sem um homem forte e com aceitação do mercado para ocupar o posto, Lula indicou o seu vice para a pasta, num recuo da posição adotada ainda na primeira leva de anúncios de ministros. Durante o período de transição de governo foi especulada a possibilidade de Alckmin assumir a pasta da Defesa, ao que Lula respondeu com a assertiva de que seu companheiro de chapa nas eleições não acumularia funções.
“Eu fiz questão de colocar o Alckmin como coordenador para que ninguém pensasse que o coordenador vai ser ministro. Ele não disputa vaga de ministro porque é o vice-presidente”, disse Lula.
Como mostrou o Estadão, o MDIC será um dos ministérios mais fortes do terceiro governo Lula. A pasta sob o guarda-chuva de Alckmin coordenará as ações do BNDES e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex). O vice-presidente ainda pode acumular no ministério as atribuições de planejar e elaborar metas de longo e médio prazo.
O BNDES será presidido pelo ex-ministros de gestões petistas Aloízio Mercadante (PT). Ele foi alvo de represália do mercado financeiro por desconfiança de que adote no banco a mesma política de investimentos adotado no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff (PT), quando foi ministro da Casa Civil. Para Alckmin, é necessário que o BNDES estimule “mais investimentos” com o objetivo de gerar renda, emprego e aumento nas exportações (O Estado de S.Paulo, 5/1/23)