Alerta no IBGE – Editorial Folha de S.Paulo
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Intenção de dar a direção do instituto a Pochmann enseja risco de aparelhamento.
É mais forte que ele. Quando o país começa a aprumar-se dos danos causados pelas bravatas populistas de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que se iniciaram tão logo foi eleito, o presidente manda colocar na chefia do IBGE alguém que será objeto de escárnio e desconfiança.
Marcio Pochmann, o economista militante do PT cujas ideias e currículo o depositariam no ostracismo se houvesse compromisso com não repetir os erros do passado, ganhou de Lula o prêmio de presidir o reputadíssimo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Talvez na fila das nomeações futuras dos amigos do peito do presidente também conste o ex-secretário do Tesouro Arno Augustin, artífice do desastre econômico do governo Dilma Rousseff —esta já abancada numa prebenda internacional. Ou o chefe de Augustin à época, Guido Mantega, que achava ter descoberto na prática uma nova ciência econômica da gastança.
Não seria nenhuma surpresa para quem teve a audácia de nomear Pochmann, que segue a mesma linhagem de misticismo econômico e intervencionismo ideológico, para o IBGE. Trata-se, nada menos, do órgão responsável pelas informações mais importantes sobre a economia e a sociedade brasileiras.
Inflação, Produto Interno Bruto, desemprego, renda, desempenhos setoriais e as evoluções da demografia são alguns temas nacionais cujo conhecimento depende das pesquisas realizadas pelo IBGE.
Seus resultados repercutem diretamente nas expectativas e na conduta dos cidadãos e das organizações, públicas e privadas, e por isso precisam refletir tão somente a melhor ciência e a melhor técnica. O instituto figura com destaque no rol de agências da administração federal que deveriam ser imunes à penetração da política partidária e do dogmatismo ideológico.
Na chefia do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, em outra passagem do PT pelo governo federal, Pochmann atuou para alinhar a fundação à cartilha ideológica do partido. Pesquisadores que dela não comungavam foram afastados, e regras de concurso, alteradas para aferir mais as convicções e menos a técnica dos candidatos.
A julgar pela sua manifestação recente sobre o Pix —que ele entende ser um passo para o Brasil tornar-se um protetorado dos Estados Unidos—, Marcio Pochmann não atualizou a sua visão oitocentista do mundo, muito pelo contrário. Tampouco terá se tornado menos sedento de intervencionismo.
O IBGE possui uma burocracia profissional e sobretudo técnica que decerto resistirá ao assédio do militante designado para a presidência. Mas será preciso muita atenção para que esse patrimônio nacional não seja conspurcado pelo aparelhamento obscurantista (Folha, 28/7/23)