Algodão: Análise Conjuntural Agromensal Cepea/Esalq/USP Julho/2020
Em julho, muitos produtores iniciaram e/ou intensificaram a colheita do algodão da safra 2019/20. A oferta de pluma no mercado spot nacional, no entanto, seguiu baixa, tendo em vista que o ritmo de beneficiamento esteve lento no período e que cotonicultores priorizaram o cumprimento de contratos aos mercados domésticos e externo. No caso da pluma com qualidade superior, a disponibilidade foi ainda menor.
Do lado da demanda, parte das indústrias trabalhou com a matéria-prima contratada e/ou estocada, mas algumas empresas, inclusive do Nordeste, estiveram ativas na busca por novos lotes. Entre 30 de junho e 31 de julho, o Indicador do algodão em pluma CEPEA/ESALQ, com pagamento em 8 dias, subiu 5,31%, encerrando o mês a R$ 2,8550. A média de julho foi de R$ 2,7589/lp, 1,73% superior à de junho/20 e 5,12% acima da de julho/19, em termos nominais.
No campo, a Abrapa (Associação Brasileira dos Produtores de Algodão) indica que a colheita da temporada 2019/20 havia atingido 41% da área estimada até dia o 30 de julho. Em Mato Grosso, a atividade chegou a 39% da área estimada e na Bahia, em 38%. Em Goiás, a colheita havia atingido 61%, em Minas Gerais, 56%, em Mato Grosso do Sul, 78%, no Maranhão, 40%, no Piauí, 61%, em São Paulo, 95%, em Tocantins, 38%, e no Paraná, 99%.
EXPORTAÇÃO BRASIL – Segundo a Secex, em julho (23 dias úteis), foram exportadas 77,2 mil toneladas de pluma, elevação de 36,2% frente ao mês anterior e 64,4% acima do volume de julho/19 (46,98 mil toneladas). O faturamento somou U$ 106,9 milhões, altas de 27,8% no comparativo mensal e de 43,6% no anual. O preço médio de julho/20, ainda de acordo com a Secex, foi de US$ 0,6281/lp, 13% menor que o do mesmo mês de 2019 (US$ 0,7188/lp). Em moeda nacional, a média foi de R$ 3,3162/lp, elevação de 22,1% se comparada a julho/19 (R$ 2,7164/lp) e 20,2% acima da verificada no spot nacional em julho (Indicador).
VAREJO E CONSUMO
Estudo divulgado em julho pela Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) sobre o fluxo de visitas em shoppings centers e lojas físicas mostra certa reação no segmento de moda. Em junho/20, as visitas a shoppings em busca de artigos de moda caíram 76,51% frente ao mesmo mês de 2019, mas reagiram 211,2% em relação a maio/20. Esses dados reforçam indicações de colaboradores do Cepea do mercado de pluma sobre possível retomada pontual de consumo, escoando os estoques e gerando necessidade de reabastecimento por parte das indústrias. No entanto, agentes consultados pelo Cepea ainda mostram incertezas quanto ao fortalecimento dessa reação na demanda.
MERCADO INTERNACIONAL – Com os preços internacionais em alta em julho, agentes também mostram interesse em novas negociações para exportação, especialmente na primeira quinzena. A média da paridade de exportação em julho subiu 2,8% no comparativo mensal e 28% no anual, indo para R$ 3,1361/lp em Santos (SP) e para R$ 3,1456/lp em Paranaguá (PR). Dessa forma, o Indicador brasileiro ficou 12% inferior à paridade. A média do dólar ficou em R$ 5,2797/lp em julho, alta de 1,52% frente ao mês anterior e 39,7% maior que em julho/19. O Índice Cotlook A (referente à pluma posta no Extremo Oriente) teve média de US$ 0,6850/lp em julho, avanço de 1,2% em relação ao mês anterior, mas queda de 9,43% frente a julho/19.
Na Bolsa de Nova York (ICE Futures), os contratos oscilaram em julho, mas, no balanço, acumularam alta, principalmente devido à valorização do petróleo, ao enfraquecimento do dólar no mercado internacional, à menor área cultivada nos Estados Unidos e à seca em parte do Texas. O vencimento Out/20 finalizou o dia 31 de julho a US$ 0,6230/lp, alta de 1,33% no acumulado do mês. Dez/20 encerrou o mês a US$ 0,6266/lp, elevação de 2,92%. Na mesma comparação, Mar/20 se valorizou 2,78%, a US$ 0,6325/lp, e Maio/20, 2,79%, a US$ 0,6372/lp. ICAC – Dados do Conselho Consultivo Internacional de Algodão (Icac), divulgados no dia 3 de agosto, apontam que o consumo global para a temporada 2019/20 deve cair 12%, para 23 milhões de toneladas.
No entanto, se houver recuperação econômica mundial e elevação da demanda, a atual projeção é que o consumo da safra 2020/21 fique em 23,9 milhões de toneladas, mas ainda continuará enfrentando forte concorrência das fibras sintéticas. Além disso, ainda que os preços estejam em queda, as baixas podem não ser suficientes para estimular a demanda e superar os impactos da pandemia sobre o consumo. O Icac estima que a média da temporada 2020/21 do Índice Cotlook A seja de US$ 0,63/lp, 8,6% maior que a estimativa de julho/20, mas 11% abaixo da última média da safra 2019/20 de U$ 0,71/lp, indicado no relatório do mês passado.
Quanto à produção, a queda de 2 milhões de hectares na área mundial pode diminuir em 5% o volume produzido, indo para 24,8 milhões de toneladas na safra 2020/21. Enquanto a exportação deve chegar a 9,07 milhões de toneladas (+5%) e os estoque finais, em 22,9 milhões de toneladas (+4%).
IMPORTAÇÃO DA CHINA
Dados do Departamento de Alfândegas da China indicam que a importação de algodão pelo país totalizou 90 mil toneladas em junho/20, queda de 42,7% frente ao mesmo período de 2019, mas alta de 28,6% em relação a maio/20. De janeiro a junho deste ano, a China importou 900 mil toneladas. Vale considerar que, de acordo com a Secex, o Brasil exportou 11,3 mil toneladas à China em junho/20, ou seja, representando 12,55% do total reportado como importado pelo Departamento Chinês.
CAROÇO DE ALGODÃO
Os altos patamares de preços da soja, do milho e derivados elevaram a demanda por caroço, farelo e torta de algodão, especialmente por parte de pecuaristas. Neste cenário, os valores de caroço se mantiveram firmes ao longo de julho. Apesar disso e mesmo com avanço da colheita e do beneficiamento na segunda quinzena de julho, o ritmo de comercialização seguiu lento, uma vez que boa parte da safra 2019/20 já está comprometida, limitando a oferta no spot.
Segundo informações captadas pelo Cepea, o preço médio do caroço no mercado spot em julho/20 em Barreiras (BA) foi de R$ 674,03/t, avanços de 3,2% em relação ao mês anterior e de expressivos 18,7% se comparado a julho/19. Em Primavera do Leste (MT), os aumentos foram de 18,3% no comparativo mensal e de 48,4% no anual, com a média de julho indo para R$ 609,85/t. Em Campo Novo do Parecis (MT), houve alta de 1,9% no mês e de significativos 51,2% no ano, a R$ 582,46/t em julho/20.
No mesmo período, em São Paulo (SP), as médias registraram elevações de 5,8% e de 22,4%, respectivamente, a R$ 826,38/t. Já em Lucas do Rio Verde (MT), a média caiu 10,2% de junho para julho, mas subiu 51,3% em um ano, para R$ 568,48/t. (Assessoria de Comunicação, 5/8/20)