Algodão: Análise Conjuntural Agromensal Setembro/22 Cepea/Esalq/USP
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Os preços internos do algodão em pluma recuaram ao longo de setembro, pressionados pela flexibilidade de alguns vendedores, que, por sua vez, estiveram atentos à baixa externa, ao dólar e à paridade de exportação. O movimento de queda foi reforçado pela demanda enfraquecida, tendo em vista que indústrias utilizaram estoques e/ou a pluma recebida por meio de contratos.
Assim, o Indicador CEPEA/ESALQ, com pagamento em 8 dias, acumulou forte baixa de 15,7% em setembro, fechando a R$ 5,658 no dia 30, o menor patamar nominal desde outubro do ano passado. Apesar disso, a média mensal do Indicador CEPEA/ESALQ, de R$ 6,1232/lp, ficou 12,7% acima da paridade de exportação.
Em dólar, o Indicador à vista teve média de US$ 1,1678/lp no mês, 1,8% abaixo do Índice Cotlook A (US$ 1,1888/lp), mas 16% superior ao primeiro vencimento negociado na Bolsa de Nova York (ICE Futures), que foi de US$ 1,0070/lp. No acumulado de setembro, o dólar se valorizou 3,4% frente ao Real, fechando a R$ 5,379 no dia 30. Já o Índice Cotlook A (referente à pluma posta no Extremo Oriente) recuou 20,81%, a US$ 1,0710/lp no dia 30.
Assim, a paridade de exportação na condição FAS (Free Alongside Ship) registrou queda de 18% entre 31 de agosto e 30 de setembro, a R$ 5,0295/lp (US$ 0,9350/lp) no porto de Santos (SP) e a R$ 5,0401/lp (US$ 0,9370/lp) no de Paranaguá (PR) no dia 30. Na Bolsa de Nova York, todos os contratos caíram de forma expressiva em setembro, influenciados pela desvalorização do petróleo, pelo enfraquecimento do dólar no mercado internacional, pelo aumento da taxa de juros dos Estados Unidos, por preocupação quanto à demanda, especialmente da China, e por uma possível recessão global.
Assim, entre 31 de agosto e 30 de setembro, Out/22 se desvalorizou 21,19%, fechando a US$ 0,9322/lp no dia 30. O contrato Dez/22 caiu 24,62%, a US$ 0,8534/lp, o Março/23 recuou 24,23%, a US$ 0,8345/lp, e Maio/23, 23,54%, a US$ 0,8209/lp.
Esse cenário externo fez com que algumas tradings atuassem na venda da pluma no spot nacional a valores mais competitivos. Ainda assim, os negócios foram limitados pela dificuldade em acordar preço e qualidade da pluma disponível. Comerciantes, por sua vez, realizaram negócios “casados” e/ou buscaram lotes para cumprir compromissos.
COLHEITA E BENEFICIAMENTO DA SAFRA 2021/22
Dados da Abrapa (Associação Brasileira dos Produtores de Algodão) mostram que 99,2% da área brasileira da safra 2021/22 havia sido colhida até o dia 29 de setembro, sendo que 73% do total da produção já foi beneficiada.
COTTON OUTLOOK
Relatório divulgado no dia 30 de setembro pelo Cotton Outlook indica que a produção mundial da safra 2021/22 está estimada em 24,992 milhões de toneladas, queda de apenas 0,06% frente aos dados de agosto/22. Já o consumo mundial se manteve estável, em 24,723 milhões de toneladas na temporada 2021/22.
Para 2022/23, houve diminuições de 0,24% na produção mundial no comparativo com o relatório anterior e de 0,40% frente à safra passada, projetada em 24,891 milhões de toneladas. No caso do Brasil, a produção em 2022/23 deve ser 1,96% maior que a anterior, a 2,6 milhões de toneladas, mas, para a Índia, espera-se redução de 1,41% (5,95 milhões de toneladas).
Os Estados Unidos, por sua vez, tiveram elevação de 10,05% de setembro para outubro, mas baixa de 21% frente à safra 2021/22, com estimativa de produção de 3,012 milhões de toneladas. O Paquistão tem produção estimada em 950 mil toneladas na temporada 2022/23, baixas de 20,83% no comparativo mensal e de 25,5% frente à safra anterior. Quanto ao consumo mundial na temporada 2022/23, deve ficar em 24,439 milhões de toneladas, 2% menor que o estimado no relatório anterior e 1,15% inferior à safra 2021/22.
ICAC
Em relatório divulgado no dia 3 de outubro, o Icac (Comitê Consultivo Internacional do Algodão) estimou a produção mundial em 24,985 milhões de toneladas na safra 2022/23, 1,8% inferior à temporada anterior, mas com reajuste positivo de 1,11% frente aos dados divulgados no início de setembro. Ainda de acordo com o Comitê, com as recentes inundações no Paquistão, a produção de algodão pode estar comprometida no país, com possível queda de 21% em relação à safra anterior.
Já nos Estados Unidos, com a passagem do furacão Ian, impactos foram sentidos na Geórgia, o segundo maior estado produtor de algodão norte-americano. Portanto, a qualidade da pluma pode recuar, visto que seus capulhos já estavam abertos quando foram atingidos pelas chuvas.
Quanto ao consumo mundial de algodão, a estimativa do Icac caiu 3,24% no comparativo com o a safra 2021/22, ficando em 25,299 milhões de toneladas. As exportações podem recuar apenas 0,85% frente às da temporada anterior, a 9,546 milhões de toneladas. Nesse cenário, o estoque final deve somar 20,058 milhões de toneladas, com elevação de 1,38% frente ao estimado no mês anterior, mas retração de 1,38% em relação à temporada 2021/22.
CAROÇO DE ALGODÃO
Com agentes priorizando a entrega de seus contratos a termo, o mercado de caroço de algodão esteve em ritmo lento em setembro. Além disso, a disparidade de preços de compradores e vendedores segue limitando a liquidez no spot. A dificuldade de realizar novos contratos também se estende para o farelo, a torta e o óleo de algodão.
Quanto aos preços, levantamento do Cepea mostra que a média do caroço no mercado spot em setembro/22 em Lucas do Rio Verde (MT) foi de R$ 1.201,42/t, quedas de 2,4% em relação ao mês anterior e de 32,6% sobre o de setembro/21 (R$ 1.781,74/t), em termos reais – as médias mensais foram deflacionadas pelo IGP-DI de agosto/22.
Em Primavera do Leste (MT), a média caiu 5,6% na comparação mensal e 31,4% na anual, indo para R$ 1.284,21/t em setembro/22. Em Campo Novo do Parecis (MT), a média foi de R$ 1.151,49/t, baixas de 7% frente à de agosto/22 e de 36,1% em relação à de setembro/21.
Em São Paulo (SP), a média caiu 4% no mês e 22,2% no ano, a R$ 1.760,44/t em setembro/22. Já na Bahia (BA), a média de setembro foi de R$ 1.645,63/t, elevação de 4,2% frente ao mês anterior, mas queda de 12,6% se comparado ao mesmo período de 2021 (Assessoria de Comunicação, 6/10/22)