18/01/2022

Algodão: Preços internos devem se manter sustentados ao longo do ano

Algodão: Preços internos devem se manter sustentados ao longo do ano

LAVOURA DE ALGODAO-Abapa Divulgação

Os preços pagos pelo algodão brasileiro devem seguir firmes ao longo deste ano, segundo fontes do setor ouvidas pelo Broadcast Agro. A perspectiva considera a manutenção de cotações sustentadas no mercado internacional, o dólar valorizado ante o real e a elevada paridade de exportação da fibra brasileira. A demanda firme também dá suporte aos preços, com aumento no consumo doméstico e expectativa de alta nas exportações, que tendem a absorver a maior oferta disponível.

 "O cenário é de pelo menos manutenção dos preços atuais. As cotações internacionais estão sustentadas, os prêmios estão elevados nas principais praças produtoras e o mercado global está forte. O Brasil vai acompanhar essa tendência", disse o analista de inteligência de Mercado da consultoria StoneX, Marcelo Di Bonifácio Filho.

Para ele, os preços físicos da pluma no País podem subir ainda mais, caso o dólar amplie sua valorização ante o real. "Em ano de eleições, o cenário cambial é incerto, mas é provável que o dólar continue pelo menos sustentado ante o real. A moeda desvalorizada é positiva para as exportações da pluma e para a paridade de exportação, que influenciam nas cotações internas", apontou. A mesma leitura é feita pelo Itaú BBA.

 "No Brasil, as cotações também devem seguir firmes, puxadas pelas elevadas cotações internacionais, taxa de câmbio enfraquecida e pelo já elevado volume previamente comercializado da pluma", comentaram analistas do banco em relatório divulgado nesta quarta-feira. A instituição financeira pondera, entretanto, que altas maiores na cotação da fibra tendem a ser limitadas pela fragilidade do mercado doméstico.

Em 2021, o indicador de preço do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP), com pagamento em oito dias, acumulou alta de 69%. O destaque no ano foi a quebra consecutiva dos recordes das cotações da pluma. Ontem, o indicador atingiu novamente o maior nível dos últimos 25 anos - desde o início da série histórica de preços do Cepea -, encerrando a R$ 6,6924 por libra-peso. O indicador subiu 2,23% ante o dia anterior, avançou 3,8% na semana e, no mês, há alta de 4,43%.

Analistas do Cepea destacam, em comentário semanal, que o indicador já renovou por cinco vezes a máxima nominal nestes primeiros dias de 2022. A média do indicador na parcial de janeiro está 2,6% acima da paridade de exportação. Segundo eles, o maior consumo, a produção inferior e os menores estoques de passagem mundial e nacional devem dar suporte à cotação do algodão em pluma no início deste ano.

 "Além disso, diante dos atuais patamares dos preços internacionais, da elevada paridade de exportação e o fato de que boa parte da safra 2020/21 já está comprometida, os valores domésticos devem continuar firmes e/ou em alta também na entressafra", avaliam os analistas do Cepea.

Do lado da demanda, os fundamentos também são altistas para os preços locais. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima aumento de 25 mil toneladas no consumo local da pluma no País, de 750 mil toneladas. "Trata-se de uma leve alta, acompanhando a recuperação da economia brasileira, que tende a não ser tão forte", disse o analista da StoneX. As exportações brasileiras devem aumentar ante o ano anterior, influenciadas pela previsão de maior produção local.

 O crescimento dos embarques, contudo, continua limitado por questões logísticas internacionais, como a escassez de contêineres para exportação e o elevado custo do frete marítimo. A Conab projeta exportação brasileira de algodão de 2 milhões de toneladas na safra 2021/22. "Há espaço para a exportação ser melhor que na temporada anterior em virtude da safra cerca de 11% superior", afirmou Bonifácio Filho. A Ásia tende a seguir como o principal mercado para a pluma brasileira.

Nem a previsão de aumento na oferta brasileira deve frear a sustentação das cotações, já que o maior volume disponível está sendo absorvido pelo mercado nacional e internacional. A Associação Brasileira de Produtores de Algodão (Abrapa) estima que o Brasil deve produzir de 2,71 milhões a 2,8 milhões de toneladas de algodão na safra 2021/22, que será colhida neste ano, pelo menos 16,5% a mais do que na temporada anterior.

 Números da comercialização antecipada da temporada corroboram as perspectivas de demanda aquecida. Segundo dados da Abrapa, 61% da safra, que começa a ser colhida em meados de julho, já está vendida. "Grande parte já está travada e devemos entrar na colheita com 90% da safra comercializada em meio aos bons níveis de preços. Isso dá tranquilidade ao produtor cobrir o seu custo de produção", observou o presidente da Abrapa, Júlio Cézar Busato.

Este cenário de preços firmes, contudo, deve seguir apertando as margens da indústria, que enfrenta dificuldades no repasse do aumento do valor da commodity ao produto final em meio à conjuntura nacional de desemprego e crise econômica. "Há uma inflação geral de custos, de máquinas, energia, mão de obra, matéria-prima que limita a rentabilidade da indústria têxtil.O setor tende a acompanhar o nível de atividade econômica da indústria geral, de recuperação, mas estas variáveis devem ser acompanhadas", comentou Bonifácio Filho.

Já para os produtores, a expectativa é de boa rentabilidade na safra 2021/22, com os preços atrativos compensando o incremento no custo produtivo, segundo o presidente da Abrapa. "Acreditamos que será mais um ano de preços firmes, talvez não nos patamares atuais, mas próximos, se a demanda mundial por algodão se manter nos níveis atuais", disse Busato. Na avaliação de Busato, o custo para produzir a pluma da safra 2021/22, que está sendo plantada, foi superior ao da anterior, mas ainda com adubos e defensivos sendo travados em patamares mais favoráveis que os atuais ao produtor.

"Esta safra não será muito mais cara, em virtude das compras de insumos bem antecipadas pelos produtores, aproveitando oportunidades de mercado e preços menores. Os insumos já estão sendo entregues nas propriedades", observou Busato. O analista da Stonex corrobora: "Para esta safra, que está sendo plantada, o impacto da alta de adubos e fertilizantes tende a não ser muito expressivo porque os insumos foram comprados antecipadamente para entrega neste início do ano."

Safra 21/22 

Motivados pela boa lucratividade da cultura e pelos fundamentos consistentes de demanda, os cotonicultores brasileiras tendem a semear área 13,5% maior na safra atual, de 1,547 milhão de hectares. A Abrapa estima que mais de um terço, 35%, da área estimada foi implantada, mesmo com excesso de chuvas que atrasaram o plantio em algumas regiões. "A Bahia praticamente encerrou a semeadura, exceto em áreas irrigadas. Mato Grosso, principal produtor nacional, tende a iniciar o plantio de algodão segunda safra na próxima semana, à medida que a soja é colhida", explicou o presidente da Abrapa.

As chuvas volumosas e fortes que foram reportadas no Nordeste do Brasil refletem em menor potencial de rendimento na Bahia, segundo Busato. Esse provável recuo de produtividade, contudo, tende a ser compensado pelo aumento na colheita mato-grossense. "A Bahia representa 25% do total produzido no País. Essa perda de potencial é compensada, mas ainda há condições de o Estado ter uma boa safra", comentou.

No geral, as expectativas com a safra nacional são boas, com condições favoráveis ao plantio em janela adequada em Mato Grosso, onde as chuvas se anteciparam e ocorreram ao longo de dezembro e janeiro, conforme Busato. "Agora, os fatores climáticos, especialmente a partir de abril, são importantes e podem refletir na colheita. Estamos otimistas, pois a previsão aponta para redução das chuvas a partir da próxima semana", acrescentou Busato.

A consultoria StoneX também vê um cenário positivo para a atual safra com a colheita da soja no período ideal em Mato Grosso e condições favoráveis ao plantio de algodão. "Os problemas que ocorreram na temporada passada, com atraso na janela da soja e estiagem no desenvolvimento do algodão, que comprometeram a produção brasileira, não devem se repetir neste ano", pontuou Bonifácio Filho (Broadcast, 17/1/22)