Alimentos têm primeira deflação no atacado, mas café ainda pressiona
CAFEZINHO -Foto Reprodução Blog ES Brasil
IGP-M aponta queda de 1% no preço médio do setor, mas alta de 13,6% em 12 meses
O preço dos produtos agropecuários começa a cair no atacado. Após dez meses em alta, o setor registrou a primeira deflação em janeiro, com queda de 1%, conforme dados desta quinta-feira (30) do IGP-M.
Essa desaceleração, no entanto, ainda não chegou ao consumidor, que pagou, em média, 1,31% a mais pelos alimentos neste mês.
O café, um dos puxadores da inflação nos meses recentes, aponta bem esse comportamento. Em dezembro, o grão teve alta de 28,8% no IPA (Índice de Preços ao Produtor Amplo), mas, após esse salto, o ritmo de alta foi menos intensa em janeiro, ficando em 10,5%.
Nos supermercados, a alta que havia sido de 3,1% no café em pó, em dezembro, foi de 8,1% em janeiro, segundo o IPC (Índice de Preços ao Consumidor) da FGV. Embora o grão não indique o custo total da bebida, as indústrias devem manter reajustes até absorver o custo da matéria-prima.
Apesar da deflação deste mês, os preços médios dos produtos agropecuários ainda têm alta acumulada de 13,6% nos últimos 12 meses no atacado e de 5,7% no varejo. O cenário é melhor do que há dois meses, quando a inflação do setor era de 17,5% no atacado.
O IGP-M começou a registrar alta nos preços dos produtos agropecuários a partir de junho de 2024, quando o aumento médio foi de 1,31%, revertendo a tendência de queda acumulada em 12 meses que o setor registrava até então.
Em setembro e em outubro, com as pressões de carne bovina, soja, milho e laranja, a inflação recebeu novo impulso, registrando a maior taxa acumulada do ano em novembro, ao registrar os 17,5%.
Em dezembro, esses produtos diminuíram a pressão, mas o índice começa a receber a aceleração dos preços do café. Essa pressão se repete neste mês no atacado, embora com intensidade menor, mas veio o salto de 42% nos preços do tomate.
Temperatura elevada e chuvas intensas afetaram a oferta dessa fruta.
Os preços dos alimentos estão elevados, e, se a queda continuar, o consumidor ainda vai demorar para sentir alívio no bolso. Uma estabilidade na taxa de inflação significa apenas que os preços pararam de subir.
Só uma queda contínua vai indicar alívio para o consumidor. Alguns fatores podem auxiliar nessa queda: uma volta ao normal na oferta de hortifrútis, após o período das chuvas; a esperada supersafra, que começa a ser colhida, e uma oferta melhor de carnes.
As carnes suína e de frango vão ter oferta melhor neste início de ano. A bovina depende de maior produtividade para o aumento de oferta, que poderá acontecer com uma recomposição das pastagens neste período de chuva.
Segundo o IGP-M, soja, batata, laranja, bovinos e suínos, após a pressão do último trimestre do ano passado, têm as principais influências negativas no IPA neste mês.
O café continua na lista das pressões. Afinal, o ponto inicial da formação dos preços, o campo, registra valores recordes para o produto.
Neste mês, o valor médio do café arábica está em R$ 2.302 por saca, um patamar nunca registrado antes. Os dados são do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), que começou a acompanhar os preços do setor em 1997 (Folha, 31/1/25)