Alta do milho volta a atingir indústria do frango no Brasil
Uma escalada nos preços domésticos do milho voltou a pressionar os custos e a ameaçar as margens de lucro dos produtores brasileiros de frango, que usam o grão como principal ingrediente da ração oferecida aos animais.
Nos últimos dias, a relação de troca entre o quilo do frango e o da ração — ou seja, a quantidade de milho e farelo de soja que se pode comprar com um quilo da carne produzida — caiu ao menor patamar desde junho de 2016, segundo dados compilados pela Bloomberg. A alimentação responde por quase 80 por cento do custo de produção das aves.
O aperto indica que as margens de lucro da indústria podem cair aos níveis de dois anos atrás, quando uma seca fez o preço do milho disparar, forçando empresas como a líder BRF — dona das marcas Sadia e Perdigão — a fechar fábricas, reduzir turnos e demitir funcionários na maior crise enfrentada pelo setor em anos.
Este ano, os produtores de frango já sofrem para recompor seus estoques de ração e preservar suas margens de lucro. Em resposta, o Ministério da Agricultura planeja vender grãos dos estoques estatais a fim de aliviar o aperto, segundo Neri Geller, secretário de Política Agrícola na Pasta.
Somente este ano, o milho ficou quase 23 por cento mais caro em Campinas (SP), de acordo com o indicador do Cepea, centro de estudo ligado à Universidade de São Paulo. Os preços do farelo de soja, outro componente importante da ração oferecida às galinhas, também estão em alta devido a uma seca na Argentina.
O cenário deste ano é, no entanto, bem diferente daquele enfrentado pela indústria em 2016 por causa da seca. Os estoques remanescentes da última safra foram os maiores da história após uma colheita igualmente recorde, e a produção deste ano deve ser a segunda maior já registrada. Contudo, os fazendeiros têm conseguido reter a produção em seus armazéns, exigindo preços mais altos para vender e forçando os produtores de carne, sem estoques suficientes para fazer frente às suas necessidades, a pagar o valor exigido.
“Os fazendeiros que estão retendo o milho podem terminar a temporada com os estoques cheios”, afirma Geller (Bloomberg, 20/3/18)