03/02/2023

América do Sul eleva dependência da China na carne bovina

América do Sul eleva dependência da China na carne bovina

FRIGORIFICO BOVINO Imagem REUTERS Paulo Whitaker.jpg

Região obteve receitas de US$ 19 bilhões com exportações dessa proteína em 2022.

A América do Sul está cada vez mais dependente de um único mercado de carne bovina. No ano passado, a China ficou com 53,3% do volume de toda a carne brasileira exportada. A participação chinesa nas receitas foi ainda maior, de 61%.

A situação argentina é ainda mais concentradora. No ano passado, 77,6% do volume de carne bovina resfriada, congelada e processada enviado para o exterior teve como destino o mercado chinês, segundo o IPCVA (Instituto de Promoção da Carne Bovina da Argentina).

A situação do Uruguai não é muito diferente. Nas três primeiras semanas de janeiro, os chineses compraram 54% da carne bovina exportada pelo país, segundo o Inac (Instituto Nacional de Carnes).

O cenário não deve mudar muito neste ano na região, provavelmente com o Brasil ganhando uma fatia ainda maior do mercado chinês.

O rebanho de bovinos encolhe em vários países importantes, como nos Estados Unidos e na Argentina, e cresce no Brasil, segundo o Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos).

O rebanho chinês deverá superar a barreira dos 100 milhões de cabeças neste ano, mas o consumo do país asiático cresce em ritmo maior do que o da produção interna.

A esperada recuperação da economia e o fim das barreiras contra a Covid-19 vão aumentar o consumo e elevar a necessidade de importação dos chineses.

Nos cálculos do Usda, os chineses aumentam a produção de carne bovina para 7,35 milhões de toneladas, mas o consumo sobe para 10,9 milhões, obrigando o país a elevar as importações para 3,5 milhões. Em 2019, as compras externas se limitavam a 2,2 milhões de toneladas.

A produção mundial de carne bovina fica estável, em 59,2 milhões de toneladas, mas os preços perderam o patamar elevado que vinham obtendo, o que facilita as importações chinesas.

O Uruguai, que conseguia um valor médio de US$ 6.969 por tonelada em 2022, vendeu a US$ 5.572 neste início de ano.

A Argentina, que exportou a US$ 5.472, na média de 2022, comercializou a US$ 4.000 por tonelada em dezembro. Alguns mercados, como o da Itália, ainda pagam até US$ 8.710.

Os preços obtidos pelo Brasil também recuaram, segundo a Secex (Secretaria de Comércio Exterior). Em janeiro de 2022 atingiam US$ 5.236, na média, valor que recuou para US$ 4.843 no mês passado.

As exportações brasileiras de carnes bovinas e derivados somaram US$ 13,1 bilhões em 2022. As do Uruguai e as da Argentina, incluindo carnes resfriada, congelada e processada, subiram para US$ 2,6 bilhões e US$ 3,4 bilhões, respectivamente (Folha de S.Paulo, 3/2/23)