América do Sul poderá ter quebra de 20 milhões de toneladas de soja
GRAOS SOJA CESTA - IMAGEM PIXABAY
A persistir seca e calor intensos, a produção da oleaginosa da região será bem inferior aos 200 milhões do ano passado.
A América do Sul, maior região produtora de soja do mundo, poderá perder 20 milhões de toneladas nesta safra, em relação ao potencial que tem.
É uma conta muito complexa para ser feita ainda, mas, se persistir essa falta de chuva e calor intenso, as perdas de Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Bolívia poderão chegar a esse número, segundo Daniele Siqueira, analista da AgRural.
O Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), sempre muito conservador, já antecipou parte dessa quebra nesta quarta-feira (12). Segundo o órgão norte-americano, os três principais produtores da região —Brasil, Argentina e Paraguai— já acumulam pelo menos 9,5 milhões de toneladas em perdas.
Os números apurados pelo Usda indicam retração de 5 milhões no Brasil, 3 milhões na Argentina e 1,5 milhão no Paraguai. Daniele acredita, no entanto, que, aos poucos, o Usda deverá reajustar os números de safra desses países para baixo.
Só pelos números atuais, a América do Sul já teria uma safra reduzida para um volume próximo dos 200 milhões de toneladas do ano passado.
A safra brasileira, prevista pelo Usda em 139 milhões, deverá recuar ainda mais. A AgRural estima um volume de 133 milhões. O potencial brasileiro era de 145 milhões.
Para o Paraguai, o mercado prevê 6 milhões, abaixo dos 8,5 milhões do órgão dos Estados Unidos. A produção argentina, estimada em 46,5 milhões nesta quarta-feira pelo Usda, será de 44 milhões, segundo estimativas do mercado.
Uma mudança de clima, porém, poderia estancar parte dessa perda. A soja é mais resistente do que o milho, e o retorno das chuvas traria uma melhora na produtividade.
Além disso, Mato Grosso e Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), onde o clima está mais favorável, poderão obter uma produtividade acima do esperado, segundo a analista da AgRural.
O Usda divulgou nesta quarta-feira um cenário de oferta e de demanda mundiais. Foi um relatório chato e com poucas informações novas, quando se trata dos números dos Estados Unidos, afirmaram analistas norte-americanos.
A produção de soja dos EUA foi de 120,7 milhões de toneladas, e a de milho, de 383,9 milhões. Produção maior e exportações menores ajudam a melhorar os estoques finais do país.
Os números da soja deste ano deixam o mercado bastante volátil, segundo Daniele. Tanto em Chicago como no Brasil, os preços atuais da soja refletem os efeitos do clima.
Na Bolsa de commodities de Chicago, o contrato de março da soja atingiu US$ 13,99 por bushel (27,2 quilos), 9,8% a mais do que há um mês. Em Cascavel (PR), o mercado físico negocia a saca a R$ 175, com alta de 7,7%.
Os preços não sobem mais porque a demanda mundial perdeu fôlego, em relação ao ano passado. A China, que vinha com um apetite grande, deverá manter o patamar de importações em 100 milhões de toneladas. Caso contrário, as altas seriam ainda mais dramáticas, afirma a analista da AgRural (Folha de S.Paulo, 13/1/22)