América do Sul tem o maior número de incêndios em 26 anos
Incêndios florestais na província de Ñuflo de Chávez, Bolívia - Claudia Morales - 25.ago.2024 Reuters
Até esta quarta (11), foram registrados mais de 346 mil focos de calor no continente.
Uma onda de incêndios que vai da floresta amazônica, passando pelo pantanal e chega até as florestas bolivianas quebrou o recorde de fogo para toda a América do Sul em mais de duas décadas.
Dados do programa BD Queimadas, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), indicam que até esta quarta-feira (12) foram registrados 346.112 focos de incêndio neste ano nos 13 países do continente. O número ultrapassa o recorde anterior, registrado em 2007 (345.322 casos), e é o maior da série histórica do instituto, iniciada em 1998.
Nas últimas semanas, a fumaça dos incêndios tomou os céus de cidades como São Paulo e La Paz, na Bolívia. Um corredor de poluição emitida pelas queimadas pode ser visto do espaço e se estende da Colômbia até o Uruguai.
Os governos do Brasil e da Bolívia enviaram milhares de bombeiros para tentar controlar o fogo, mas estão à mercê da seca extrema, das ondas de calor e dos fortes ventos que alimentam as chamas.
De acordo com pesquisadores, ainda que a maior parte dos incêndios tenha origem humana, a falta de chuva e as altas temperaturas geradas pela mudança climática ajudam os incêndios a se espalharem de maneira mais acelerada.
Ainda que seja inverno, as temperaturas em São Paulo se mantiveram acima de 32°C desde sábado. Desde o início da semana, a capital paulista vem registrando a pior qualidade do ar do mundo entre um ranking de 120 grandes cidades monitoradas pelo site IQAir.com.
No Brasil, a seca que começou no ano passado é a pior já registrada, de acordo com o Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais).
"De uma maneira geral, a seca sim, essa de 2023 e 24, é a mais intensa, duradoura em algumas regiões e extensa da história recente, pelo menos desde os dados de 1950", disse Ana Paula Cunha, pesquisadora sobre secas no Cemaden.
O maior número de focos de incêndio neste mês está no Brasil e na Bolívia, seguidos por Peru, Argentina e Paraguai, segundo dados do Inpe. Os incêndios de intensidade incomum que atingiram a Venezuela, a Guiana e a Colômbia no início do ano contribuíram para o recorde, mas em grande parte foram controlados.
Os incêndios florestais na amazônia criam uma fumaça particularmente intensa por conta da vegetação sendo queimada, afirmou Longo. "A sensação que você tem quando você está voando ao lado de uma pluma dessa é de um cogumelo atômico."
Cerca de 9 milhões de quilômetros quadrados da América do Sul ficaram cobertos pela fumaça em alguns momentos, mais da metade do continente, disse a pesquisadora do Inpe. O pico de incêndios no continente costuma acontecer em setembro (Folha, 13/9/24)
Empresas de tecnologia ajudam agronegócio a se prevenir de queimadas
Queimada em grandes proporções tomou conta da vegetação próxima ao campus Glória da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) - Divulgação - 06.set.24 Via Drones
Companhia vende cruzamento de informações cartográficas e de imagens de satélite para emitir alertas de incêndio.
A exemplo dos furacões, que nos Estados Unidos são pré-anunciados, empresas brasileiras passaram a vender ferramentas que preveem a ocorrência de queimadas como forma de reduzir o risco climático, variável que se tornou realidade para o agronegócio.
O sistema da Eccon Soluções Ambientais, por exemplo, foi aprimorado a partir de um mecanismo que cruza informações de cartografia e de satélites em tempo real para avisar o produtor rural se há fogo em um raio de 5 a 20 quilômetros do local da propriedade.
Em emergências, o proprietário recebe avisos por aplicativo ou por WhatsApp.
"Com esse serviço a gente consegue fazer relatórios também para o agronegócio, reportando o histórico de queimadas e de focos de incêndio na redondeza no ano, em anos anteriores", diz Yuri Rugai Marinho, CEO da Eccon. "É possível olhar várias áreas e mostrar onde está mais arriscado para ele concentrar esforço."
A companhia, que também fornece serviços de auditoria e gestão de ativos ambientais, trabalha para gigantes como Cargil, Embrapa, Cacau Show, Caixa, Dow AgroSciences, Suzano, entre outros.
O tempo de resposta para o produtor rural varia demais porque há fatores —como velocidade do vento, tipo de vegetação (seca ou mata nativa) que interferem na propagação.
Mesmo assim, grandes propriedade contratam o serviço. Segundo Marcelo Stabile, gerente de carbono, a companhia monitora duas áreas em Mato Grosso do Sul, duas em Goiás, uma no Mato Grosso e outra no Acre.
"Isso ajuda porque dá visibilidade para o risco ambiental. O proprietário vai mobilizar a gente para apagar incêndio, as autoridades serão alertadas", disse. "É um monitoramento que a gente faz diariamente." (Folha, 13/9/24)