América Latina e Caribe têm 77 mi sem acesso a internet no campo
Foto: TIM/Divulgação
Estudo em 24 países da região, feito pelo Iica, BID e Microsoft, aponta que gargalo entre área urbana e rural é grande.
O acesso à informação e à comunicação se tornou um fator fundamental para o desenvolvimento econômico, social e educacional. O campo, porém, está longe de um patamar de conectividade suficiente para prover essas necessidades.
Para avaliar o quanto e como a área rural está inserida nesses novos tempos de conectividade, o Iica (Instituto Interamericano para o Desenvolvimento da Agricultura), o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e a Microsoft foram a campo para constatar problemas e desafios.
Os resultados do estudo não são animadores. Pelo menos 77 milhões de pessoas na América Latina e Caribe não têm acesso a uma conectividade com padrões de qualidade mínimos necessários.
O estudo, feito em 24 países, mostrou que 71% da população urbana dispõe de serviços de conectividade significativa. Já apenas 36,8% da população rural dispõe desse serviço.
O estudo alerta, no entanto, que não basta ter a conectividade, mas ela deve ter qualidade suficiente para poder prestar serviços de educação, de medicina ou qualquer outro de origem pública.
No total, 244 milhões de pessoas não acessam a internet na região. Desse total, 46 milhões estão no campo.
Uma das dificuldades encontradas pelas instituições que fizeram o estudo foi como obter informações comparativas entre países e entre áreas urbanas e rurais.
A falta de dados exigiu a criação do ICRs (Índice de Conectividade Significativa rural) e do ICSu (Índice de Conectividade Significativa urbana).
Esses índices mostraram que todos os países têm atrasos na conectividade rural. A região foi dividida em três grupos, apontando países com alta, média e baixa conectividade.
Brasil, Chile e Costa Rica estão entre os sete países com melhor conectividade no campo. A pesquisa aponta, contudo, que, em alguns países desse grupo, até 63% da população rural não consegue acessar serviços significativos de conectividade.
Outros sete países formam o grupo de alcance médio nas comunicações. Entre eles estão Argentina, México e República Dominicana. Neste grupo, há país onde até 71% da população rural está sem acesso a serviços de qualidade mínima.
No último grupo, o de baixa conectividade, estão outros dez países. Em alguns, até 89% da área rural não têm acesso a um serviço de qualidade.
Manuel Otero, diretor-geral do Iica, afirma que o desenvolvimento nos territórios rurais deve incluir cadeias produtivas fortes e ancoradas no acesso a serviços, tecnologias e conectividade adequados. “É preciso mitigar as lacunas que travam o desenvolvimento”, afirma.
Para as empresas envolvidas no estudo, o avanço da conectividade movimenta a economia. Uma elevação de 1% na banda larga fixa gera um crescimento de 0,08% no PIB (Produto Interno Bruto). Já o aumento de 1% na banda larga móvel resulta em um impacto de 0,15% no PIB.
Os desafios para um aumento da conectividade no campo são vários. Incluem desde lacunas nas informações, problemas de instalação de redes, alto custo e escassez de incentivos a investimentos.
A pandemia atual deve deixar um rastro de pobreza muito grande. A conectividade seria de grande importância nesse período. Ela abre oportunidades para os produtores e permite um crescimento mais sustentável.
Os técnicos do estudo recomendam que as políticas públicas incentivem a construção de infraestrutura no setor. Além disso, são necessárias parcerias público-privadas, incentivos fiscais, agências regulatórias, identificação das falhas atuais e busca de soluções e de estratégias ajustadas aos contextos.
A conectividade ainda tem um longo caminho a percorrer na América Latina e no Caribe, tanto na relação entre os diversos países como na comparação entre o urbano e o rural.
A transferência de tecnologia eleva a produtividade no campo, dá transparência aos preços dos produtos, auxilia na comercialização, agrega serviços sociais e incorpora mais jovens e mulheres no processo produtivo, alertam os técnicos.
O estudo, denominado “Conectividade rural na América Latina e no Caribe, uma ponte para o desenvolvimento sustentável em tempos de pandemia”, será divulgado nesta quinta-feira (29) (Folha de S.Paulo, 29/10/20)