06/06/2019

Análise Conjuntural Cepea: Soja

Análise Conjuntural Cepea: Soja

Os preços internos da soja voltaram a subir com força em maio, impulsionados pela valorização do dólar frente ao Real e pelas condições climáticas desfavoráveis ao cultivo de soja nos Estados Unidos. Essa reação atraiu uma parcela dos vendedores e elevou a liquidez, especialmente para exportação, que só não foi mais intensa devido à falta de cota nos portos.

 

Outra parte dos sojicultores domésticos esteve retraída na comercialização envolvendo grandes lotes. Esses vendedores preferem aguardar uma maior definição da safra norte-americana – as frequentes chuvas atrasaram o avanço do semeio nos Estados Unidos. Além disso, o temor quanto à possível alteração na tabela de frete mínimo no Brasil deixou traders receosos nas negociações de contrato a termo.

 

Em maio, a média do dólar foi de R$ 3,9959, 2,6% superior à de abril e a terceira maior da história do Plano Real. Com isso, o Indicador ESALQ/BM&FBovespa da soja Paranaguá (PR) subiu 2,3% entre abril e maio, indo para R$ 78,36/saca de 60 kg no último mês, o maior valor do ano, em termos nominais. No mesmo comparativo, o Indicador CEPEA/ESALQ Paraná registrou elevação de 1,6%, a R$ 72,91/sc de 60 kg na média de maio.

 

Na média das regiões acompanhadas pelo Cepea, as cotações da oleaginosa registraram ligeira baixa de 0,5% no mercado de balcão (preço pago ao produtor), mas aumento de 0,9% no mercado de lotes (negociações entre empresas). Quanto aos embarques, totalizaram 10,5 milhões de toneladas em maio, 4,5% superior ao volume de abril. No entanto, quando comparado ao mesmo período de 2018, as vendas recuaram 14,79%.

 

De farelo de soja, o Brasil enviou 1,65 milhão de toneladas, 8,24% a mais que em abril, mas ligeiro 0,28% inferior ao escoado em maio de 2018. A demanda externa por óleo de soja esteve mais aquecida nesse mês, totalizando 252,6 mil toneladas, quase quatro vezes a mais que o exportado em abril e pouco mais que o dobro escoado em maio de 2018, segundo dados da Secex.

 

A procura das indústrias brasileiras também esteve maior em maio, uma vez que houve aumento nas demandas interna e externa por farelo e óleo de soja. No caso do farelo, a procura doméstica veio especialmente do segmento de proteína animal – vale lembrar que os casos de peste suína africana na China têm direcionado alguns compradores externos ao Brasil.

Assim, na média das regiões acompanhadas pelo Cepea, os valores do farelo subiram 2,8% entre abril e maio.

 

Quanto ao óleo, uma parcela das indústrias sinaliza ter comprometido o produto até meados de junho – a maior parte deve ser destinada à produção de biodiesel. O preço do óleo de soja na cidade de São Paulo (com 12% de ICMS) avançou 0,8% no mês, com média de R$ 2.726,37/tonelada.

 

EUA

A alta nos valores domésticos só não foi mais intensa devido à desvalorização dos contratos futuros negociados na CME Group (Bolsa de Chicago). Embora o excesso hídrico preocupe os produtores do país, a proximidade do fim da janela ideal de plantio de milho pode influenciar parte dos agricultores a migrar do cereal para a oleaginosa.

 

Dados do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) indicam que o semeio da soja alcançou 39% até 2 de junho, bem abaixo dos 86% registrados no mesmo período de 2018 e dos 79% da média dos últimos cinco anos. O contrato de primeiro vencimento da soja na Bolsa de Chicago registrou significativa queda 5,8% entre abril e maio, a US$ 8,3092/bushel (US$ 18,32/sc de 60 kg) em maio – a menor média mensal desde junho de 2007, em termos nominais.

 

Em relação ao farelo de soja, a baixa foi de 2,4%, a US$ 298,34/tonelada curta (US$ 328,86/t), a menor média desde abril de 2016. Quando ao óleo, houve forte desvalorização de 5,1% no período, a US$ 0,2710/lp (US$ 597,52/t), o menor valor desde setembro/15. Esse menor patamar de preços está atrelado aos estoques elevados. Segundo o relatório de inspeção e exportação do USDA, os embarques de soja dos Estados Unidos somaram 34,22 milhões de toneladas (de setembro/18 até maio/19), 26,9% menores que o embarcado no mesmo período da temporada anterior.

 

Na Argentina, 90,7% da área havia sido colhida até 30 de maio. Ressalta-se que o excesso de umidade também tem atrasado os trabalhos de campo naquele país. A produção segue estimada em 56 milhões de toneladas pela Bolsa de Buenos Aires (Assessoria de Comunicação, 5/6/19)