15/01/2019

Ano pode ser ainda pior que 2018 para setor tecnológico da China

Ano pode ser ainda pior que 2018 para setor tecnológico da China

Muitas das principais empresas de tecnologia da China ficaram contentes em deixar 2018 para trás. Mas este ano poderia trazer desafios ainda maiores.

De conflitos com a lei e uma impressionante queda do mercado a repressões regulatórias e até mesmo uma ação destrutiva dos EUA, as maiores corporações chinesas resistiram a uma série de catástrofes aparentemente aleatórias. Em 2019, elas enfrentam um inimigo comum, muito mais inexorável: o rápido esfriamento da economia doméstica.

A desaceleração da China vai repercutir em todo o setor corporativo. As empresas que já enfrentam uma maior restrição do crédito verão um ambiente ainda mais difícil, já que as tensões com os EUA enfraquecem a atividade industrial e o sentimento do consumidor na segunda maior economia do mundo. A chocante redução das perspectivas da Apple só exacerba o temor de que a companhia esteja perdendo fôlego mais rapidamente do que se imaginava.

“O sentimento não está bom. Ainda há incertezas macroeconômicas, obstáculos regulatórios e concorrência na internet da China, onde todos precisam investir mais para compensar o crescimento mais lento dos usuários”, disse Jerry Liu, analista do UBS. “As empresas na China foram negociadas em média acima que as dos EUA, mas agora as avaliações caíram e convergiram. Isso mostra os obstáculos que a internet está enfrentando na China.”

Tudo isso se traduz em consequências reais para o setor tecnológico chinês. As enormes arrecadações de fundos – força vital de um setor de internet jovem – podem se dissipar: os negócios com capital de risco estão no nível mais baixo desde 2015, mesmo com a redução de tamanho dos financiamentos. Um exemplo é a Ofo, famosa pioneira do boom de compartilhamento de bicicletas na China, que quase apresentou o maior fracasso entre as startups do país em anos.

Quanto às gigantes mais endinheiradas, como Alibaba Group Holding e Tencent Holdings, elas não podem mais depender tanto do mercado doméstico para manter o crescimento da receita. O Morgan Stanley estima que a receita entre as ações de internet chinesas que cobre vai crescer 29 por cento em média em 2019 – menos que 30 por cento pela primeira vez desde pelo menos 2015.

Trata-se de uma mudança radical em relação ao início de 2018, quando parecia que a Tencent e sua turma estavam prestes a realizar o sonho de ultrapassar o Vale do Silício.

As coisas começaram a sair dos trilhos no segundo semestre do ano passado, quando a diretora financeira da Huawei Technologies, Meng Wanzhou, e o bilionário fundador da JD.com, Richard Liu, enfrentaram problemas jurídicos (por diferentes razões). A Didi Chuxing passou de queridinha nacional, pela maneira como superou a Uber, a inimiga pública número 1 quando dois de seus motoristas supostamente mataram passageiras. A Xiaomi e a Meituan Dianping, duas das mais promissoras empresas tecnológicas emergentes da China, perderam bilhões em valor de mercado desde sua estreia.

“O ano de 2018 marcou o início de outra transição para as empresas de internet da China, já que um cenário macro mais difícil do que o esperado reduziu as vendas”, escreveram analistas do Morgan Stanley liderados por Grace Chen e Alex Poon. “O risco macro está aumentando.”

Em 2019, os grandes nomes chineses da tecnologia precisarão enfrentar vários problemas. Os economistas projetam que o crescimento vai desacelerar para um ritmo anual de 6,2 por cento em 2019, o mais fraco desde 1990 (Bloomberg, 14/1/19)