Apesar da demanda, carne bovina não terá mudanças de preço sem Brasil
Valores são afetados mais pelas dificuldades de contêineres para transporte do que pelos casos atípicos de vaca louca.
O Brasil sai do mercado internacional em um momento de alta nas exportações e nos preços da carne bovina. No mês passado, as vendas externas brasileiras atingiram o recorde 182 mil toneladas de carne bovina congelada, refrigerada e fresca. Deste volume, 106 mil foram para a China.
O mês de setembro também começou aquecido. As exportações médias diárias, antes da interrupção para a China, subiram para 10,5 mil toneladas por dia útil, um volume 54% superior ao de igual período do ano passado, conforme dados divulgados nesta segunda-feira (6) pela Secex.
A tonelada foi negociada, em média, a US$ 5.820 nas exportações deste início de mês, 42% a mais do que há um ano.
Consultores especializados nesse setor avaliam que a ausência do Brasil no mercado chinês será curta, e que não haverá grandes alterações nos preços internacionais.
No mercado interno, as negociações estiveram bastante paradas neste início de semana. O Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) apurou um valor de R$ 305,10 para a arroba no estado de São Paulo, o mesmo dos últimos três dias úteis.
Luciano Pascon, consultor na área de agronegócio, prevê um retorno rápido das negociações entre o Brasil e a China porque o Ministério da Agricultura foi transparente e ágil em relação a dois casos atípicos de vaca louca descobertos na semana passada.
Alcides Torres, da Scot Consultoria, também acredita em uma solução bastante veloz.
A resolução do problema é importante para os dois lados. Pelo menos 55% das exportações brasileiras de carne bovina congelada, fresca ou refrigerada no período de de janeiro a agosto foram para China.
Já a China buscou 38% de toda a sua demanda de importação de carne bovina no mercado brasileiro. Outros 36% foram importados dos demais países da América do Sul.
Neste período de interrupção das exportações, os frigoríficos brasileiros Minerva e Marfrig vão abastecer o mercado chinês com produto originado em suas unidades da Argentina e do Uruguai, segundo informações da agência Reuters.
Os volumes desses países, no entanto, não são grandes. O potencial das Argentina é limitado pelo governo, que impõe barreiras às exportações para não diminuir a oferta interna da proteína. Já o volume disponibilizado pelo Uruguai é baixo, em relação ao que o Brasil fornece aos chineses.
Até o final de agosto, os frigoríficos brasileiros haviam exportado 596 mil toneladas para os chineses, obtendo uma arrecadação de US$ 3,1 bilhões no período.
Até 2017, boa parte da carne bovina brasileira entrava na China por Hong Kong. Atualmente, os chineses assumiram a liderança, e as compras de Hong Kong se limitam a 9% do volume exportado pelo Brasil.
Pascon diz que há poucas chances de a China elevar as compras sem a presença do Brasil. Estados Unidos e Austrália também são exportadores, mas, no caso dos norte-americanos, os chineses ainda tomam muito cuidado nas compras por lá. Os Estados Unidos, ao contrário do Brasil, já tiveram casos clássicos de vaca louca.
As compras da Austrália estão limitadas por questões políticas entre os dois países. Na avaliação dos próprios australianos, devido a essas pendências entre os dois governos, eles perdem uma boa chance de avançar no mercado chinês, após a ocorrência dos casos atípicos de vaca louca no rebanho brasileiro.
Quanto aos preços, Torres diz que eles são afetados muito mais pelas dificuldades de contêineres para o transporte mundial de carne do que pelos casos atípicos da vaca louca ocorridos no país.
UMA VÉSPERA CONTURBADA
A véspera do 7 de setembro foi conturbada para o agronegócio. Sites voltados para o setor foram invadidos por hackers, como ocorreu com o da Andaterra, e ficaram fora do ar.
A Polícia Federal esteve na sede da Aprosoja-MT para verificar se houve financiamentos da entidade a outras instituições nesse período de preparação para a manifestação de Brasília.
O saldo disso é que essas ações inflamam ainda mais os ânimos dos produtores, segundo um diretor da Aprosoja. Ele não é unanimidade, porém. Um dos integrantes das caravanas que estarão em Brasília nesta terça-feira (7) disse que o número de participantes parece ser maior, mas o entusiasmo não chega ao de maio, no evento anterior (Folha de S.Paulo, 7/9/21)