15/01/2024

Apesar da mudanças na Câmara,estrutura do mercado de carbono está nebulosa

Apesar da mudanças na Câmara,estrutura do mercado de carbono está nebulosa

CAPA ROBERTOOBERTO RODRIGUES FOTO KELSEN FERNANDES.jpg

Por Roberto Rodrigues

 

É preciso melhorar a regulação por lei mesmo enquanto ainda não há normas a nível mundial.

 

Na COP-28, como todo mundo sabe, foram aprovados pontos importantes e de grande interesse do agronegócio brasileiro, em especial os que dizem respeito a Sistemas de Produção Agropecuária e a mudanças na matriz energética global, com ênfase para o aumento da energia renovável que em boa parte virá do campo. Ambos serão objeto de debates que se arrastarão até a COP-30, que se realizará em Belém do Pará, o que nos abrirá uma oportunidade notável para mostrar – quanto aos dois temas – as ações que já desenvolvemos há muito tempo com nossa agropecuária e agroindústria sustentáveis.

Mas a questão do mercado de carbono, sobre a qual se esperavam avanços, sobretudo de caráter regulatório, ficou em segundo plano e não tivemos novidades na COP-28, assunto pendente para a COP-29. Uma pena, porque nesta agenda também teremos muito a contribuir e a ganhar.

Enquanto isso, a regulamentação do mercado de carbono brasileiro continua em trâmite no Congresso Nacional. Recentemente a nossa Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei (PL) 2.148/2015, tratando do mercado de carbono regulado no Brasil, texto esse que já havia sido aprovado pelo Senado Federal com o PL 412/2022.

Aliel Machado (PV-PR) é o relator do projeto que regula o mercado de carbono no Brasil. Foto Zeca Ribeiro-Câmara dos Deputados

A Câmara manteve grande parte do texto oriundo do Senado, inclusive a isenção do agro da participação obrigatória neste mercado, e a possibilidade de usar Áreas de Preservação Permanente (APP) e Reserva Legal (RL) para emissão de créditos de carbono. Entretanto, os deputados também acrescentaram e alteraram alguns pontos do texto, como por exemplo:

1) O texto do Senado era omisso sobre o uso do REDD+, uma modalidade de crédito de carbono oriundo do desmatamento evitado na Amazônia. Assim, os deputados adicionaram dispositivos sobre o REDD+ e como esses podem ser convertidos em créditos do mercado nacional;

2) Sobre a estrutura administrativa, os deputados modificaram o texto do Senado, criando um Órgão Superior Deliberativo, definindo composição e participação de diversos ministérios;

 3) Ainda na parte de governança administrativa, os deputados acrescentaram que o órgão gestor deve seguir a Lei das Agências Reguladoras.

Apesar dessas mudanças, a estrutura de governança do futuro mercado de carbono ainda está nebulosa, e é preciso melhorar a nossa regulação por lei mesmo enquanto não temos a mundial.

Por fim, como a Câmara alterou o texto aprovado pelo Senado nesses pontos, de acordo com o processo legislativo nacional, o PL tem de voltar agora para revisão por parte dos senadores (Estadão, 14/1/24)