15/10/2018

Apetite chinês deixa fábricas brasileiras com escassez de soja

Apetite chinês deixa fábricas brasileiras com escassez de soja

As processadoras do Brasil estão ficando sem soja em meio à concorrência mais acirrada dos chineses para comprar a matéria-prima remanescente da safra 2017-2018.

As empresas de esmagamento brasileiras vêm trabalhando com margens negativas desde a segunda quinzena de setembro, o que levou algumas delas a reduzir o ritmo de processamento, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), braço de pesquisa da Universidade de São Paulo (USP). A alta dos prêmios pagos pela soja brasileira neste ano está pressionando os lucros das processadoras do País.

Algumas unidades de esmagamento suspenderam as atividades, e entre elas há fábricas com planos de voltar a operar após o início da próxima colheita, no primeiro trimestre de 2019, disse Débora da Silva, analista do Cepea. “Os estoques de derivados de soja estão baixos e algumas plantas estão sinalizando que já não têm óleo de soja para vender”, disse.

O grupo que representa as processadoras de soja do Brasil, a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), afirma que as margens do esmagamento de fato caíram devido aos preços mais elevados da soja, mas acrescenta que isso não afetou o ritmo de processamento, pelo menos até agosto, último mês com dados de esmagamento disponíveis.

“A indústria da soja vem atendendo as demandas internacional e local”, disse Daniel Furlan Amaral, gerente de economia da Abiove, em entrevista por telefone.

Os estoques de soja do Brasil deverão cair para 1,5 milhão de toneladas nesta temporada, menor patamar desde 1999, quando a Abiove começou a compilar os dados. A queda resulta da crescente demanda da China em meio à guerra comercial com os EUA e à exportação maior de produtos de soja no início da safra para preencher a lacuna deixada pela queda da produção argentina após o país enfrentar a pior seca em décadas.

O Brasil embarcou 69,2 milhões de toneladas de soja até setembro deste ano, um aumento de 13 por cento em relação ao ano passado, segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. Em setembro, as exportações totalizaram 4,6 milhões de toneladas, 91 por cento delas destinadas à China.

Como as perspectivas para as exportações continuam favoráveis, as empresas de esmagamento podem precisar recorrer ao óleo de soja importado para atender a demanda doméstica, disse Silva. O Brasil tem uma mistura obrigatória de 10 por cento de biodiesel no diesel e 70 por cento do biocombustível é feito a partir da oleaginosa. Em setembro, o Brasil importou 10.000 toneladas de óleo de soja, contra 2.000 toneladas há um ano. Foi a primeira importação de óleo de soja desde maio.

“Os diferenciais entre os preços da soja do Brasil e dos EUA indicam que importar a oleaginosa para esmagar pode fazer sentido para algumas indústrias brasileiras”, disse Amaral, da Abiove. “Ainda assim, acredito que as importações de soja, se realmente acontecerem, serão baixas, só para atender a uma demanda muito específica nos próximos meses” (Bloomberg, 11/10/18)