Após 19 semanas em queda, alimentos voltam a subir em SP
ARROZ- Foto Divulgação Yara.jpg
Lista de produtos com retração de preços, no entanto, inibe salto no varejo.
O novo repique de preços no campo chegou à inflação. Após 19 semanas consecutivas de queda, os alimentos mudaram de tendência e voltaram a subir. É o que mostra a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) nesta quarta-feira (25).
Por ora, as pressões maiores vêm de arroz, açúcar, frutas e carnes bovina e de frango. Vários produtos, porém, ainda mantêm tendência de baixa, após a forte aceleração nos quatro anos anteriores.
A alta ocorre devido a um ajuste na produção interna e à continuidade da demanda externa, o que reduz a oferta. O setor não terá fôlego para repetir o avanço dos últimos anos, uma vez que os preços externos, também influenciadores dos internos, voltaram para patamares menores.
Mesmo que a tendência de alta continue no último bimestre, o custo dos alimentos deste ano será bem inferior aos 14,7% de 2022.
Nos cálculos da Fipe, os alimentos subiram 1,57% até setembro e 0,81% nos últimos 12 meses. Nos últimos 30 dias, os preços se mantêm praticamente estáveis, mas já estão entrando no campo positivo, com aumento de 0,1%. De 2019 a 2022, a evolução acumulada havia sido de 29,9%.
Três produtos se destacam nesse retorno dos alimentos na faixa de pressão inflacionária: arroz, carnes e açúcar. O cereal ficou 4,1% mais caro nos últimos 30 dias terminados em 23 deste mês. No ano, o aumento atinge 10%.
Não haverá recuo nos preços do arroz até o início de 2024, período em que termina a entressafra. O excesso de umidade nos campos do Rio Grande do Sul, principal produtor nacional, dificulta o plantio.
As carnes, devido à redução de oferta de animais para abate e a um ajuste de produção, principalmente na de frango, voltaram a subir. O índice da Fipe da terceira quadrissemana deste mês mostra que o consumidor paga 4,5% a mais pela carne de frango e 1,75% pela bovina.
Os cortes de contrafilé e de alcatra lideram as altas, enquanto a picanha mantém queda nos preços médios praticados no varejo de São Paulo.
Na contramão das demais proteínas, inclusive do pescado, que também sobe, a carne suína mantém preços médios em queda. Alguns cortes, como a costela suína, começam a reagir e sobem, aponta a Fipe.
Entre os produtos "in natura", apesar dos efeitos do El Niño, que eleva o volume de chuva em várias regiões do país, as verduras e legumes mantêm preços em queda. No caso das frutas, a tendência é de alta, com lideranças da maçã e da laranja.
A disparada internacional dos preços do suco de laranja, devido à queda dos estoques brasileiros para um dos menores patamares dos últimos anos, afetou a comercialização da fruta de mesa, destinada para consumo interno.
A maçã está com oferta restrita, tendência que deverá se acentuar nas próximas semanas. No caso das verduras, alface e repolho pressionam menos a taxa inflacionária.
O índice de inflação tem ainda vários itens em queda, como café, feijão, óleo de soja, leite e os derivados de leite e de carnes. Mesmo que a taxa volte ao campo positivo, ainda será inferior à do índice geral.
Até o pãozinho, com a desaceleração dos preços do trigo nos mercados internacional e nacional, está em queda. As farinhas de trigo, de mandioca e de milho, importantes na alimentação da classe de menor poder de renda, voltaram a cair com a desaceleração dos preços no campo.
Se o arroz está caro, o feijão segue em direção oposta. Os preços acumulam queda de 4% nos últimos 30 dias, com retração de 20% de janeiro a setembro.
O óleo de soja, após alta de 164% de 2019 a 2022, mantém tendência de queda, acumulando retração de 31% neste ano. Outro item básico, o leite, repete, no varejo, a desaceleração dos preços no campo. Segundo a Fipe, o leite longa vida cai 5,7% neste mês, acumulando 18% de retração até setembro.
Neste mês, oito dos principais produtos agropecuários estão em alta no campo, em relação a setembro, conforme pesquisa do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).
O volume interno produzido, a demanda externa menos aquecida e os preços internacionais em patamares menores não permitem uma evolução drástica dos alimentos como a ocorrida nos anos anteriores (Folha, 26/10/23)