Após prejuízo, Raízen fica sem espaço para dividendos

Além do alto nível de despesas, o resultado foi afetado pela perda de moagem com clima adverso. Foto Raízen - Divulgação
Em um processo de redução do endividamento, que passa por corte de custos, venda de ativos e otimização dos investimentos (Capex), a Raízen não pretende distribuir dividendos aos acionistas, afirmaram os executivos da empresa, nesta segunda-feira (17/2), em teleconferência para comentar os resultados financeiros da companhia.
A Raízen fechou o terceiro trimestre da safra 2024/25 (outubro a dezembro) com um prejuízo líquido de R$ 2,5 bilhões. Um ano antes, lucrou R$ 793,3 milhões. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado do terceiro trimestre caiu 20,5%, para R$ 3,1 bilhões.
Além do alto nível de despesas, o resultado foi afetado pela perda de moagem com clima adverso e pelos incêndios nos canaviais, em agosto do ano passado, que prejudicaram a qualidade da cana e a alterações no mix de produção.
"É um momento de organizar a casa para essa revisão de estratégia", disse o diretor financeiro e de relações com investidores da Raízen, Rafael Bergman. "É um ciclo que não comporta dividendos ou outra formas de distribuição aos acionistas", acrescentou.
O CEO da empresa, Nelson Gomes, lembrou que a história da Raízen é formada por ciclos, e no intervalo de 2017 a 2024 houve um período de grande crescimento, com aquisições e investimentos.
"Tudo isso trouxe muita complexidade, muita distração, aumento da estrutura organizacional, aumento de custos. E a ascensão muito rápida da taxa de juros (que aumentou o endividamento) nos traz um senso de urgência para trazer a companhia para o equilíbrio", explicou o CEO.
Próximos passos
Com 90 dias no cargo, o presidente afirmou que os focos da nova diretoria estão na simplificação da estrutura, disciplina nos investimentos e integração nas operações. Uma etapa já concluída nesse processo foi a reestruturação do primeiro nível de executivos da Raízen, com a chegada de Gomes para a cadeira de CEO e de Bergman para a área financeira, por exemplo.
"Já reduzimos o escopo de trading. Nosso core passa a ser açúcar, etanol e a originação dos nossos derivados", pontuou. "Fizemos isso em busca da redução do endividamento. Isso mostra de forma mais clara quais são os ciclos que a Raízen passou e o que será o próximo ciclo da companhia, que vai se iniciar na próxima safra, em abril", completou o presidente.
A dívida líquida da Raízen alcançou R$ 38,59 bilhões no terceiro trimestre da safra, alta de 22,5%. A alavancagem - medida pela relação entre dívida líquida e Ebitda ajustado dos últimos nove meses - estava em 3 vezes, aumento de 1,1 vez no comparativo anual.
Ativos
Bergman comentou que a companhia está fazendo uma análise acurada de seu portfólio de ativos. Uma eventual decisão de venda vai considerar "valores adequados". Para reduzir a queima de caixa, novos projetos não serão iniciados. "Isso já vai representar redução no desembolso de Capex", disse. "O que temos é a continuidade da construção de duas plantas de etanol de segunda geração e a segunda fase da refinaria na Argentina", acrescentou.
O Capex estimado pela Raízen para a safra 2025/26, que começa em 1º de abril deste ano, será de R$ 1,6 bilhão, de acordo com Bergman. Sobre as operações de trading, a avaliação é de que se trata de um vetor importante para a companhia, mas que, por decisão das gestões anteriores, cresceu a um ponto além do necessário.
Por outro lado, as decisões passadas de investimentos em canaviais foram muito bem feitas, na avaliação da gestão atual. "Nos números do primeiro, segundo, terceiro e quarto corte (de cana-de-açúcar) vemos a produtividade muito boa, isso traz para nós a indicação de que o investimento foi bem feito", admitiu o diretor. Por esse motivo, a empresa pretende manter o Capex recorrente (Globo Rural, 17/2/25)
Em reestruturação, Raízen buscará até US$ 750 milhões em captação no exterior
O negócio da Raízen será separado em três linhas principais de atuação: Açúcar e Renováveis, Mobilidade Brasil e Mobilidade Argentina. Foto Divulgação Raízen
Os recursos devem ser direcionados para a gestão do passivo da companhia.
A Raízen deve ir ao mercado internacional de dívida nos próximos dias para fazer uma emissão externa, de acordo com fontes. O valor da captação ainda não está definido, mas pode ficar entre US$ 500 milhões a US$ 750 milhões, dependendo do apetite dos investidores. Os recursos devem ser direcionados para a gestão do passivo da companhia, que passa por um processo de reorganização financeira e operacional. Esta será a sexta emissão externa de empresas brasileiras em 2025, que já captaram US$ 4,1 bilhões este ano, perto da metade do que levantaram no mesmo período de 2024.
A companhia viu sua alavancagem aumentar para três vezes o Ebitda (resultado operacional) no terceiro trimestre da temporada 2024/25, que compreende o período entre 1º de outubro e 31 de dezembro de 2024. No intervalo correspondente do ano passado, a alavancagem estava em 1,9 vez. A maior parte da dívida da Raízen está em moeda local (92%). No período, a empresa registrou um prejuízo líquido de R$ 2,571 bilhões.
O processo de reestruturação vem tomando corpo desde o fim do ano passado, com mudanças na gestão e maior foco na eficiência operacional. Em conferência com analistas, Nelson Gomes, CEO da companhia, afirmou hoje, 17, que a empresa deve entrar num novo ciclo a partir de abril, com uma estrutura mais simplificada. O negócio será separado em três linhas principais de atuação: Açúcar e Renováveis, Mobilidade Brasil e Mobilidade Argentina.
Nova cultura
“A simplificação faz parte do nosso traço cultural daqui para frente”, afirmou Gomes na conferência, ressaltando que o movimento abrangerá estrutura organizacional, processos internos e até a comunicação com o mercado. Segundo ele, a companhia também terá uma atuação mais disciplinada na alocação de investimentos e na gestão da dívida. “Nosso objetivo é trazer essa companhia de volta ao equilíbrio.”
Não só a Raízen, mas o grupo Cosan que a controla também está reestruturando seus passivos com objetivo de reduzir o endividamento.
Recentemente, a Cosan anunciou uma oferta de recompra de até US$ 900 milhões em bonds. Conforme fontes do mercado, a retirada de parte desses papéis teria sido financiada com a venda da participação na Vale, que rendeu R$ 9 bilhões em janeiro em leilão na B3.
Ainda haveria recursos para a Cosan participar de um eventual aumento de capital da Raízen. Estes são apenas alguns dos movimentos que a Cosan está avaliando no processo de reestruturação, o que inclui também ainda venda de ativos e atração de investidores parceiros.
Além da Raízen, Bradesco, Usiminas, Ambipar, Embraer e JBS fizeram captações externas este ano. Banqueiros esperam que mais empresas venham ao mercado nas próximas semanas. Procuradas, a Raízen e a Cosan não comentaram sobre a captação (Estadão, 18/2/25)
Raízen anuncia novo vice-presidente de Etanol, Açúcar e Bioenergia
Raízen tem novo vice-presidente na área de açúcar e etanol — Foto Divulgação
Em Comunicado ao Mercado divulgado na sexta-feira, dia 14, a Raízen informou que Geovane Dilkin Consul assumirá a vice-presidência de Etanol, Açúcar e Bioenergia a partir de 1º de abril.
Ele assume em substituição a Francis Vernon Queen Neto, que passará a ocupar uma nova posição na companhia.
Geovane possui 35 anos de experiência profissional, majoritariamente no setor do agronegócio, tendo atuado como CEO da BP Bunge Bioenergia e, mais recentemente, da BP (Globo Rural, 17/2/25)