Argentina adquire soja no Brasil, que avalia compra nos EUA
A Argentina comprou dois carregamentos de soja do Brasil na semana passada, totalizando 120 mil toneladas, em negócios de oportunidade com o produto do Rio Grande do Sul, relatou a consultoria agrícola Labhoro nesta quinta-feira.
Os negócios foram fechados antes dos acordos desta semana, entre argentinos e norte-americanos, envolvendo 240 mil toneladas de soja dos EUA.
“A Argentina precisou, e o Brasil tinha disponibilidade, tinha espaço e foi a necessidade (da Argentina)”, disse a consultora da Labhoro Andrea Cordeiro, comentando as circunstâncias do acordo envolvendo a soja gaúcha.
A Argentina, terceiro maior produtor de soja do mundo, teve de recorrer ao Brasil e aos EUA após sua safra sofrer fortemente os impactos de uma prolongada seca.
Segundo Andrea, os prêmios da soja brasileira em relação às cotações da Bolsa de Chicago ainda elevados inviabilizam novos negócios entre Brasil e Argentina, o que também explica o fato de os argentinos terem recorrido aos EUA.
Os prêmios nos portos do Brasil subiram para cerca de 2 dólares por bushel ante Chicago na semana passada e atualmente recuaram para cerca de 1,25 dólar, após uma alta nas cotações na bolsa.
Tais diferenciais ainda estão altos historicamente para esta época de colheita no Brasil, em função de a China anunciar que taxaria a soja norte-americana, o que fez o vendedor brasileiro exigir mais para comercializar o seu produto.
Se apenas esse volume de 120 mil se confirmar em abril, o Brasil já teria exportado em quatro meses um volume de soja que praticamente se iguala a todas as exportações realizadas pelos brasileiros a argentinos em todo o ano de 2017.
No ano passado, segundo dados do governo brasileiro, o Brasil exportou 183,8 mil toneladas de soja aos argentinos, enquanto no primeiro trimestre deste ano as exportações brasileiras somaram 59,2 mil toneladas ao país vizinho.
O analista Steve Cachia, da corretora Cerealpar, também com sede no Paraná, disse não ter notícia de novos negócios entre soja do Brasil e a indústria argentina.
“Com o prêmio alto que estava no Brasil e risco de a China taxar a soja americana, teve momentos que produto dos EUA estava bem mais barato que o do Brasil. Por incrível que pareça, pode ser que, mesmo incluindo logística, pode ser que estava mais competitivo (o dos EUA)”, afirmou ele.
BRASIL NOS EUA?
Andrea, da Labhoro, empresa que também atua como corretora, afirmou que o mercado do Brasil está avaliando a possibilidade de importar soja dos EUA para depois exportar farelo de soja, em regime de “drawback”.
Isso permitiria que o Brasil, na hipótese de as taxas chinesas serem aplicadas ao produto dos EUA efetivamente, tenha mais grãos para exportar aos chineses.
“Essa alta do prêmio inviabilizaria futuras vendas do Brasil (para a Argentina). Acho que alguma coisa que a gente pode analisar daqui para frente é trazer soja dos EUA. Com os prêmios altos, estava dando conta trazer soja dos EUA para o Brasil”, comentou ela.
A consultora ressaltou não ter visto negócio entre Brasil e EUA ainda, mas disse haver um movimento de tradings fazendo contas no custo e frete para portos do Brasil.
O único empecilho seria a questão de transgênicos. Algumas variedades plantadas nos EUA não são autorizadas no Brasil.
“Estava dando conta, porém existe toda uma situação de regulamentação, então não sei se as regras de transgênicos vão permitir. Agora eu digo, não tendo restrição nenhuma das autoridades brasileiras, e dando conta, isso permitiria ao Brasil pode fazer importação via regime de ‘drawback’...”.
Dessa forma, disse ela, o Brasil poderia participar de um mercado de farelo de soja que a Argentina perdeu, em função da seca, e “o Brasil acaba podendo exportar a sua soja para a China”.
Com a taxação da soja dos EUA pelos chineses, a expectativa é de que o Brasil amplie seus embarques para o maior importador global da oleaginosa.
Com uma safra recorde brasileira, os embarques do país, o maior exportador global de soja, foram estimados pela associação da indústria Abiove em históricos 70,4 milhões de toneladas, superando a previsão anterior (68 milhões) e o recorde do ano passado, de 68,15 milhões (Reuters, 12/4/18)