Arroba de boi dispara e atinge R$ 300 em alguns negócios em SP
FRIGORÍFICO BOVINO FREEPIK
Dólar e demanda externa aquecida em tempos de pouca oferta impulsionam preços.
Em curto espaço de tempo, deu a louca no mercado de boi gordo. Com preços baixos nos últimos meses, a arroba vem disparando neste final de setembro e início de outubro.
A oferta de gado diminuiu, o dólar dá competitividade à carne brasileira no mercado internacional, a demanda externa está aquecida e os frigoríficos precisam cumprir contratos de exportação.
Essa mudança repentina nos preços faz com que a arroba de boi gordo já esteja sendo negociada em até R$ 300 em São Paulo, o que força alguns frigoríficos a dar férias coletivas e outros a intercalar os dias de abate.
Os frigoríficos grandes, com unidades em vários estados, disputam o gado; os médios veem a necessidade de pagar mais, e os pequenos, em situação ainda menos confortável, abrem as compras com preços de até R$ 300 por arroba.
Fernando Iglesias, da consultoria Safras & Mercado, afirmou que, após cem dias sem chuva e pastagens ruins em várias regiões do país, a oferta de gado diminui, o que levou a commodity a registrar o maior aumento do semestre.
No Safras Agri Week, evento promovido anualmente pela consultoria e realizado nesta quinta-feira (3), ele disse que os preços elevados vêm também das exportações, que devem superar 4 milhões de toneladas equivalentes carcaça neste ano.
Um analista de mercado, que não quis se identificar, diz que o dólar é o grande incentivador dessas exportações. Além disso, a China ensaiou uma recuperação de compras, inclusive pagando até US$ 4.900 por tonelada, 14% a mais do que o mercado vinha pagando. Não houve continuidade, porém, nessa sinalização de alta de preço no mercado internacional.
Para o analista, a alta da arroba de boi vinha subindo porque as margens da indústria estavam melhores. A R$ 300, porém, essa margem fica zerada, o que força algumas unidades a dar férias ou a intercalar escalas de abates, afirma.
Com essa valorização interna da arroba, a carne brasileira perde competitividade e já é a segunda mais cara da América do Sul, atrás apenas da do Uruguai.
Thiago Bernardino de Carvalho, analista do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), diz que essa disputa pelo boi começou porque em maio e junho houve baixa lotação dos confinamentos, o que resultou em oferta menor de gado em agosto e setembro.
No mês passado, no entanto, houve um aumento no número de gado confinado, o que vai melhorar a oferta.
Segundo ele, as condições de mercado serão mais confortáveis neste mês, mas, a partir de novembro, a China entra comprando mais para garantir que a carne chegue até o final de janeiro, período que antecede ao feriado prolongado no país.
Os analistas concordam que está difícil uma previsão de preços, uma vez que estão envolvidas questões como dólar, demanda externa, renda interna e clima.
Alguns acreditam que os preços possam continuar nesse patamar, uma vez que, passado o período de final de ano, as chuvas melhoram as pastagens. Com misso, os pecuaristas terão condições de administrar melhor a venda de gado (Folha, 4/10/24)