Arroz: Análise Conjuntural Agromensal Cepea/Esalq/USP Dezembro/22
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RETROSPECTIVA DE 2022:
O mercado brasileiro de arroz em casca iniciou 2022 com preocupações relacionadas aos excedentes domésticos elevados e à possível pressão sobre os valores do cereal, cenário que já havia sido observado em 2021. Porém, a estabilidade da oferta – devido à perda de potencial produtivo no Sul do Brasil –, o aumento da paridade de exportação, diante dos maiores preços externos, e o crescimento expressivo das exportações deram sustentação aos preços domésticos.
O Indicador do arroz em casca CEPEA/IRGA-RS (58% de grãos inteiros, com pagamento à vista) avançou 46,9% no acumulado de 2022, em termos nominais, fechando em R$ 91,82/saca de 50 kg no dia 29/12 – vale ressaltar que o Indicador recuou 33,45% em 2021. A média nominal de 2022 foi de R$ 75,60/sc, o segundo maior valor anual da série histórica do Cepea (iniciada em 2005), atrás apenas do de 2021, de R$ 77,57/sc.
Se, de um lado, os preços do arroz em casca apresentaram recuperação ao longo de 2022, de outro, os custos de produção subiram expressivamente. Contudo, vale destacar que os avanços nos valores aliviaram parte dessas altas nos custos, mas ainda se trata de um cenário preocupante, de dificuldade de manutenção da atividade produtiva.
Assim, é de se esperar que orizicultores sigam em busca de ajustamento do sistema produtivo, visando sua sustentabilidade. Historicamente, os preços do arroz em casca recuam no primeiro trimestre do ano, devido à colheita nas principais regiões produtoras do Mercosul.
No entanto, no início de 2022, o Indicador CEPEA/IRGA-RS avançou. Mesmo que as negociações no spot tenham sido pontuais, a elevação no período é resultado da demanda acima da oferta, devido à necessidade de reposição de estoques.
Produtores, por sua vez, mantiveram a postura cautelosa e seguiram limitando os lotes para venda. No segundo trimestre, o mercado doméstico seguiu relativamente lento, enquanto o setor exportador esteve mais aquecido e atrativo.
Apesar disso, agentes não entenderam a decisão do governo federal, divulgada em maio/22, de reduzir a tarifa de importação do grão de países de fora do Mercosul, até o final de 2023. Isso porque um ambiente de elevado excedente no mercado interno tende a exigir exportações mais ativas para escoar os volumes disponíveis – vale lembrar que a safra 2021/22 se iniciou com estoques 42,1% superiores aos da anterior.
Além disso, ao serem consideradas as importações acumuladas em 12 meses (terminadas em maio/22, período da decisão governamental), as compras brasileiras estiveram 20% inferiores às registradas no mesmo período anterior, finalizado em maio/21.
As importações ocorreram especialmente de países do Mercosul, já sem a tarifa de importação. Uma ação como esta só traz mais desafios para um setor que não tem tido impactos expressivos sobre a inflação do País; e, pelo contrário, precisa de ajuda para manter sua contribuição à sociedade.
Ao longo do segundo semestre de 2022, o mercado do arroz em casca foi marcado principalmente pela retração vendedora. Orizicultores seguiram apostando em menores estoques de arroz nos meses que viriam a seguir. Por outro lado, as vendas do beneficiado, para atender à demanda de atacadistas/varejistas de grandes centros consumidores nacionais, aumentaram. Esse cenário motivou novas compras da matéria-prima, mas agentes sinalizaram dificuldades de encontrar o volume desejado.
TRANSAÇÕES EXTERNAS
De janeiro a novembro de 2022, as exportações do arroz em base casca somaram 1,91 milhão de toneladas, o maior volume anual desde o início da série histórica da Secex, em 1997. Esse volume superou o mais alto até então, de 1,89 milhão de toneladas, registrado em 2011. Do lado das importações, no acumulado de 2022, chegaram aos portos nacionais 1,11 milhão de toneladas de arroz (considerando-se o produto em base casca).
Com exportações superando as importações na parcial do ano (até novembro), a balança comercial esteve superavitária em 797,83 mil toneladas, contra 49,97 mil t no mesmo período de 2021. Em termos de valores, as receitas dos embarques superam em 269 milhões de dólares os gastos com as importações em 2022.
Vale lembrar que, no mesmo período de 2021, as despesas com as aquisições estiveram 6,31 milhões de dólares abaixo da receita das exportações. Os dados são da Secex.
SAFRA 2021/22
A produção da temporada 2021/22 foi estimada pela Conab em 10,78 milhões de toneladas, 8,3% menor que a anterior. Somando aos estoques iniciais (em jan/22), de 2,68 milhões de t, e às importações, de 1,15 milhão de t (entre janeiro e dezembro/22), a disponibilidade interna ficaria em 14,62 milhões de t.
Desse total, a previsão é que 10,6 milhões de t fossem consumidos internamente, e 1,9 milhão de t, exportados. Assim, o estoque final, em dezembro/22, está estimado em 2,1 milhões de t. Dados do USDA apontam que a produção global de arroz beneficiado na safra 2021/22 foi projetada em 515 milhões de toneladas, 1,12% superior à anterior – um recorde.
O consumo apresenta elevação de 3,44%, somando 520,78 milhões de t de arroz beneficiado. O estoque global chegou a 182,28 milhões de t, 3,05% menor que o de 2019/20. Em termos de transações mundiais, são esperadas importações/exportações de 55,93 milhões de t na safra 2021/22, contra 51,84 milhões de t na 2020/21, aumento de 7,9% no período (Assessoria de Comunicação, 4/1/23)