Arroz: Análise Conjuntural Agromensal Janeiro/24 do Cepea/Esalq/USP
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Os preços do arroz tiveram forte elevação em 2023, especialmente no segundo semestre, sustentados pela redução dos estoques de passagens, o que, no cenário externo, ocorreu pelo terceiro ano consecutivo. Para 2024, por enquanto, não há dados apontando mudança de cenário no curto prazo, ou seja, a relação estoque/consumo deve continuar pressionada.
E esse contexto deve impedir baixas expressivas das cotações do arroz. No Brasil, a sazonalidade da oferta, com maior volume de março a abril, e a necessidade de “fazer caixa” para pagamentos de custeios podem elevar pontualmente a disponibilidade e, consequentemente, pressionar os valores. Entretanto, na entressafra, os preços devem ficar firmes.
OFERTA E DEMANDA NACIONAL
Por enquanto, a Conab estima que o cultivo de arroz em casca deve aumentar 5,8% entre as safras 2022/23 e 2023/24, somando 1,56 milhão de hectares. A produtividade média nacional, por sua vez, pode crescer 1,35% no período, alcançando 6,8 toneladas/hectare. Assim, a oferta nacional está prevista em 10,75 milhões de toneladas, 7,2% maior que na safra passada.
A produção no Rio Grande do Sul deve aumentar 10,5% e em Mato Grosso, 14,8%. As importações de janeiro/24 a dezembro/24 estão previstas em 1,45 milhão de toneladas, que, aliadas aos estoques iniciais, de 1,74 milhão de toneladas, e à produção, devem gerar uma disponibilidade interna de 13,95 milhões de toneladas, 1,13% acima da temporada passada. O consumo está previsto para 10,25 milhões de toneladas, estável.
As exportações no ano civil estão previstas em 2 milhões de toneladas, contribuindo para um estoque no final do período de 1,7 milhão de toneladas. Esse estoque é estimado para atender 8,3 semanas de consumo, a menor relação em nove anos (desde 2015/16). Os dados também apontam que o Brasil deva continuar como um importante player no mercado internacional.
Os preços externos firmes e a expectativa de valorização do dólar frente ao Real no ano de 2024 podem incentivar ainda mais as vendas externas de arroz e manter o preço do grão apreciado internamente. Segundo o relatório do Banco Central (Focus) divulgado no último dia 30 de janeiro, o dólar pode ficar na casa dos R$ 4,92 em 2024.
OFERTA E DEMANDA MUNDIAL
Dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) indicam que, na 2023/24, a produção global de arroz beneficiado deve totalizar 513,54 milhões de toneladas, elevação de apenas 0,1% em relação à safra anterior, e um recorde. O consumo global está estimado em 522 milhões de toneladas de arroz beneficiado na safra 2023/24, segundo o USDA, apenas 0,3% superior ao da anterior. Com isto, será a terceira temporada consecutiva de oferta inferior ao consumo global.
Os estoques devem seguir pressionados e recuar 4,9%, para 167,24 milhões de toneladas. Com isso, a relação estoque/consumo poderá ser de 32,1% na safra 2022/23, a menor desde 2016/2017. Em termos de transações mundiais, dados do USDA apontam que são esperadas exportações/importações de 52,14 milhões de toneladas na safra 2023/24, contra 52,16 milhões de toneladas em 2022/23, redução de apenas 0,4% no período.
Maiores vendas devem partir do Paquistão, China, Brasil, Uruguai e Argentina, tendo em vista os menores embarques da Índia, Tailândia e Vietnã. Do lado das importações, devem ser menores, principalmente, na Indonésia.
MARGENS OPERACIONAL SE ELEVAM NO BRASIL
Os dados de custos e receitas no Brasil fazem com que os produtores iniciem o ano com maior otimismo que a safra anterior. Os preços estão nos maiores patamares históricos, em termos reais, enquanto os custos foram pressionados, abrindo a expectativa de uma boa margem operacional. Dois pontos devem ser destacados: há produtores que tiveram necessidades de replantios, custos maiores com operações de máquinas para preparação de áreas, diante de chuvas expressivas na região Sul, e casos de potencial produtivo menor.
Além disso, vale destacar que a cultura vem sofrendo há anos com baixos retornos, especialmente quando se analisa o retorno sobre o imobilizado. Ou seja, uma melhor margem desta temporada deve ser apenas um alívio aos produtores do Rio Grande do Sul. Segundo dados da equipe de custos agrícolas do Cepea, em Camaquã (RS), os custos operacionais cederam 9,6% quando se comparam as médias de setembro a novembro/23 com o mesmo período de 2022.
Por outro lado, a receita bruta avançou 33,3%, fazendo com que a margem operacional saltasse 176,3% nas mesmas comparações. Para Uruguaiana (RS), os custos operacionais cederam 8%, na média, enquanto a Receita Bruta subiu 35%. Com isso, a margem operacional subiu 246% entre as médias de set-nov/22 e set-nov/23.
Em ambas as regiões, as margens líquidas (receita bruta menos os custos totais) passaram a ficar positivas, enquanto que, na média de set-nov/22 estavam negativas (Assessoria de Comunicação, 8/2/24)