Arroz: Com baixa rentabilidade, área e oferta devem cair
O ano de 2018 não foi nada favorável para a cadeia produtiva do arroz. Mesmo com a queda de 2,1% na produção, com certa estabilidade na disponibilidade interna e redução de 5% nos estoques finais, os preços médios do ano passado ficaram menores que os de 2017, tanto em termos nominais quanto em termos reais (-7,5%). Segundo pesquisadores do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, este cenário de baixa nas cotações, mesmo com menores oferta e estoque, não eram observados desde 2010, período que exigiu intervenção governamental e aquecimento das exportações no ano seguinte.
A queda intensa especialmente no último trimestre de 2018 foi o que pressionou as cotações nesse ano, visto à dificuldade de elevação no consumo e, consequentemente, de beneficiamento de casca.
No campo, a conta não fechou. Dados do Cepea apontaram que produtores até conseguiram arcar com os custos operacionais, mais ao se computar os custos totais, a receita não era suficiente para pagamentos de todos os valores econômicos envolvidos. Desta forma, produtores reduziram novamente a área com arroz em todas as regiões brasileiras.
Segundo dados da Conab, a área desta temporada deve ficar 6,9% inferior à do ano anterior, a 1,84 milhão de hectares. No Sul, que representa mais de 64% da área brasileira, a queda deve ser de 5,4% – no Rio Grande do Sul, especificamente, de 6%. Houve aumento no custo de produção para a temporada 2018/19, reflexo da desvalorização do Real frente ao dólar, que encareceu os insumos, e visto que parte da área foi preterida pela soja, com melhor rentabilidade.
Por enquanto, é esperada produtividade em linha com a de 2018, a 6,14 t/ha, mas inferior aos recordes da temporada 2016/17. Assim, a oferta brasileira em 2018/19 deve ficar 6,6% inferior à temporada passada, a 11,27 milhões de toneladas de arroz em casca. A Conab estima que as importações entre mar/19 e fev/20 sejam de 1,2 milhão de toneladas.
Para se obter a disponibilidade interna, adiciona-se também o estoque inicial em mar/19. Entretanto, seu volume depende do estoque final da temporada 2017/18 em fev/19. Até o momento, a Conab previa exportação de 1,4 milhão de toneladas entre mar/18 e fev/19, mas este volume já foi alcançado até dez/18. Assim, tudo indica que os estoques de passagem em feve/19 sejam um dos menores da história, reduzindo a disponibilidade interna ao menor nível em três anos.
Do lado do consumo, não se espera recuperação da demanda interna durante 2019. Entretanto, as exportações podem ser favorecidas novamente, puxadas especialmente pela taxa de câmbio e melhor dinâmica da procura por países africanos, importantes compradores de arroz do Brasil. Em 2018 os principais compradores de arroz do Brasil foram Venezuela, Senegal, Gambia, Peru, Nicarágua e Serra Leoa.
Para a taxa de câmbio, avaliando as negociações de contratos futuros na B3 entre 17 de dezembro de 2018 e 4 de janeiro de 2019, observa-se uma tendência de apreciação do Real em relação ao dólar ao longo dos dias. Entretanto, analisando as cotações médias do período para cada um dos meses de 2019, é visto taxa esperada entre R$ 3,86 (fev/19) e R$ 3,95 (dez/19). A expectativa de mercado, divulgada pelo Boletim Focus, é de taxa de câmbio de R$ 3,80 no final de 2019.
No agregado, portanto, pelo segundo ano consecutivo espera-se redução de produção, de disponibilidade interna e de estoque final (em fev/20) – vale ressaltar que desde 2001, duas variações negativas nessas variáveis só tinham sido observadas nas safras 2005/06 e 2006/07, mas com recuperação de preços. Assim, a expectativa é que as cotações internas de arroz se sustentem durante 2019. Entretanto, vale se atentar à sazonalidade normalmente esperada, de queda das cotações em período de safra e/ou de vencimento das dívidas de custeio.
Dados do USDA apontam que a produção mundial 2018/19 poderá ficar em 491,139 milhões de toneladas de arroz beneficiado, 0,79% menor que a da safra anterior, devido à colheita chinesa. Entretanto, o consumo está previsto para atingir 489,560 milhões de toneladas de arroz beneficiado, 1,4% maior que o período anterior, puxado especialmente pelo crescimento na Índia e Nigéria. O destaque está para o estoque mundial, com volume recorde de 163,2 milhões de toneladas de arroz beneficiado, 1% maior que o da safra 2017/18, mas com 70% desse volume em posse da China. A comercialização também poderá ser recorde, indo para 48,3 milhões de toneladas de arroz beneficiado, com maiores compras por vários países africanos, como Nigéria, Benin, Burkina – mas envolve apenas 9,9% do consumo mundial (Assessoria de Comunicação, 17/1/19)