06/05/2020

Atvos pede arbitragem contra venda de ações para fundo americano

Atvos pede arbitragem contra venda de ações para fundo americano

Empresa alega que banco que detinha ações em garantia violou contrato feito em 2017.

Um dia após o fundo americano Lone Star anunciar que tinha adquirido o controle da Atvos Agroindustrial, do grupo Odebrecht, a empresa de açúcar e álcool entrou com pedido de arbitragem no Centro de Arbitragem e Mediação Brasil-Canadá (CAM-CCBC). Segundo a solicitação, feito pelo escritório E-Munhoz Advogados, houve violação pela Natixis (banco que detinha as ações da empresa em garantia) em relação ao contrato celebrado em 24 de abril de 2017.

Na ocasião, a Atvos concedeu em favor da Natixis a propriedade fiduciária superior a 50% mais uma de todas as ações emitidas pela Atvos Agroindustrial. Ontem, 4, o fundo Lone Star anunciou que tinha firmado acordo para comprar as ações da Atvos da Natixis e, portanto, ficaria com o controle da empresa, segunda maior produtora de etanol do Brasil. 

No pedido de arbitragem, a Atvos afirma que a Natixis já havia solicitado “cooperação” com o processo de venda das ações da empresa. A Atvos respondeu à notificação enviada  e lembrou que o Grupo Atvos estava em “recuperação judicial sujeita a leis e outras limitações, sendo necessário discutir e entender melhor as visões e as intenções do grupo” em relação à venda das ações.

Na petição de hoje, os advogados afirmam que a Natixis impediu a Atvos de supervisionar e participar da venda do controle do grupo, atuando com “falta de transparência e violando o princípio da boa fé que deve ser observado pelo credor durante a execução da cessão fiduciária”. Afirma também que a venda do controle da produtora de etanol foi de US$ 5 milhões. “Esse preço é absolutamente inconsistente com o valor do Atvos – grupo que poderia atingir vários bilhões de reais após a conclusão do processo judicial.”

Recuperação Judicial

Com uma dívida de quase R$ 12 bilhões, a empresa do grupo Odebrecht entrou em recuperação judicial maio do ano passado. A empresa foi a primeira do grupo Odebrecht a recorrer à proteção da Justiça para renegociar seus débitos. Na época, a empresa afirmou que a recuperação judicial era “resultado da investida hostil de um fundo internacional, que por meio de processo judicial colocou em risco as operações da empresa”. 

O grupo se referia ao fundo Lone Star, que tinha cerca de R$ 1 bilhão em créditos a receber (terceiro maior credor da Atvos). Na ocasião, a Atvos atrasou o pagamento para o fundo americano, que entrou na Justiça e conseguiu a penhora de parte importante da produção de cana da Atvos. 

Assembleia de credores

De lá para cá, as divergências continuaram até o fundo conseguir ontem, 4, comprar as ações dos bancos que detinham garantias da empresa. Agora começa um novo capítulo nessa disputa. A assembleia para aprovação do plano de recuperação da Atvos – segunda maior produtora de etanol do País – está marcada para sexta-feira, 8, e, por ora, está mantida. 

A Lone Star pretendia apresentar um novo plano. O objetivo era colocar dinheiro novo na Atvos para que ela consiga continuar operando, especialmente neste momento em que foi afetada pela crise do coronavírus.  O valor do aporte não foi informado, mas poderia ficar em torno dos R$ 300 milhões que já vinham sendo cogitados no mercado. A expectativa é que os recursos saiam dos cofres do Lone Star. No mundo, o grupo detém US$ 40 bilhões em ativos sob gestão.

Uma estratégia do fundo, segundo fontes ouvidas pelo Estado, é tentar adiar a assembleia e continuar negociando com os bancos.

Além do fundo americano, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Banco do Brasil são os maiores credores da Atvos. Os dois bancos públicos detém 66% do total da dívida.

Procurado, o Lone Star não quis comentar o pedido de arbitragem feito pela Atvos (O Estado de S.Paulo, 6/6/20)