Bancos veem setor de cana do Brasil encolher com dificuldades financeiras
Bancos de investimento que operam no setor agrícola do Brasil projetam uma contração potencial na indústria sucroenergética do país, já que muitas empresas não conseguem dinheiro suficiente para pagar contas e grupos melhor capitalizados não estão dispostos a investir.
O Itaú BBA estima que 18 empresas de açúcar e etanol no maior cinturão de cana do país, o centro-sul, não estão gerando caixa suficiente para manter suas operações, disse o chefe de negócios agrícolas do banco, Pedro Fernandes, nesta terça-feira.
Outras 22 empresas não estão gerando caixa suficiente para pagar dívidas e manter níveis adequados de renovação do canavial, disse Fernandes em uma apresentação no NovaCana Ethanol Conference, em São Paulo.
Os resultados vieram de uma avaliação feita pelo Itaú BBA sobre a situação financeira de 75 produtores de açúcar e etanol no centro-sul, representando capacidade de processamento de cana de 475 milhões de toneladas, das cerca de 560 milhões de toneladas que a região deve moer neste ano.
O banco disse que apenas 35 empresas desse grupo tinham uma situação financeira estável, considerando a dívida por tonelada de capacidade de processamento de cana e os ganhos após a adequada renovação dos canaviais.
Fernandes disse que a situação levou a uma diminuição no processamento de cana, já que muitas usinas não são capazes de investir em plantações e há uma falta de interesse de empresas com melhor estrutura de capital para investir devido a uma fraca perspectiva de mercado.
Os preços globais do açúcar atingiram o nível mais baixo em 10 anos recentemente, em meio a um excesso de oferta.
“Estamos vendo uma consolidação em termos de processamento de cana. Mais de 70 usinas fecharam. Outras que costumavam esmagar 12 milhões de toneladas estão esmagando 6 milhões. Alguns grupos com cinco ou seis usinas pararam uma ou duas para otimizar a operação”, disse Manoel de Queiroz, gerente do Rabobank em São Paulo.
A safra de cana do Brasil está caindo em 2018 pelo terceiro ano consecutivo. A maioria dos analistas não espera uma recuperação no próximo ano, uma vez que a área plantada deve diminuir.
“A safra poderá encolher em breve 100 milhões de toneladas a mais. Você não vê apetite por expansão”, disse Queiroz.
William Hernandes, analista da consultoria FG/A, disse que o retorno sobre o capital visto nas empresas brasileiras de açúcar é atualmente muito baixo para atrair investimentos, o que prejudica qualquer ideia de expansão.
“Neste momento, o retorno sobre o capital investido no setor está abaixo do próprio custo de capital”, disse Thiago Duarte, analista do banco de investimentos BTG Pactual. “Há muita gente perdendo dinheiro.” (Reuters, 4/9/18)