30/01/2025

BC repete alta de 1 ponto e eleva Selic a 13,25% em estreia de Galípolo

BC repete alta de 1 ponto e eleva Selic a 13,25% em estreia de Galípolo

Galípolo e Lula. Foto Reprodução Blog Poder360

 

Após decisão unânime, taxa básica de juros se iguala a nível observado entre agosto e setembro de 2023.

 

Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central cumpriu o plano traçado em dezembro e elevou nesta quarta-feira (29) a taxa básica de juros (Selic) em um ponto percentual, de 12,25% para 13,25% ao ano.

 

Essa foi a primeira reunião sob o comando de Gabriel Galípolo –nome de confiança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A decisão foi unânime entre todos os membros do colegiado.

 

No comunicado, o comitê reafirmou a sinalização de que pretende fazer mais uma alta da mesma intensidade na próxima reunião, em março, citando a "continuidade do cenário adverso para a convergência da inflação". No entanto, evitou se comprometer com qualquer ritmo de ajuste em maio.

 

Se cumprir o prometido, a Selic vai atingir o pico registrado durante a crise do governo de Dilma Rousseff (PT), entre 2015 e 2016, no patamar de 14,25% ao ano.

 

O Copom voltou a defender a necessidade de uma política de juros mais contracionista, ou seja, uma atuação que ajude a frear a força da atividade econômica de forma a controlar o avanço da inflação.

 A nova composição do Copom, sob a presidência de Gabriel Galípolo. Foto Raphael Ribeiro - BC

 

Entre os fatores, citou a piora adicional das expectativas de inflação, a elevação de suas próprias projeções, a força da atividade econômica e as pressões sobre os preços vindas do mercado de trabalho.

 

A decisão veio em linha com a expectativa consensual do mercado financeiro. Levantamento feito pela Bloomberg mostrou que a elevação da Selic em um ponto percentual era a projeção unânime entre 33 economistas consultados.

 

A taxa básica está agora no mesmo patamar observado entre agosto e setembro de 2023. Mas, na época, seguia em trajetória de queda. Após quatro altas consecutivas, os juros já acumulam elevação de 2,75 pontos percentuais.

 

O atual ciclo de alta de juros teve início em setembro do ano passado, na reta final da gestão de Roberto Campos Neto no BC. No ponto de partida, a taxa básica estava em 10,5% ao ano. A primeira elevação foi gradual, de 0,25 ponto percentual. No encontro de novembro, o comitê acelerou o passo pela primeira vez, com um aumento de 0,5 ponto.

 

O Copom, então, optou por um movimento mais agressivo em dezembro e deu um choque de juros. Além de subir a Selic em um ponto percentual, prometeu mais duas altas da mesma intensidade nas reuniões seguintes, em janeiro e março. Agora, concretizou a primeira parte da estratégia.

 

O choque de juros reflete um cenário de piora adicional das expectativas de inflação. O risco fiscal seguiu no radar dos economistas e a incerteza no cenário externo, com a volta de Donald Trump ao poder nos Estados Unidos, deixou o câmbio volátil.

 

Sobre a questão fiscal, o colegiado do BC incluiu a preocupação dos agentes econômicos com relação à sustentabilidade da dívida pública. Por outro lado, deixou de citar a contribuição do tema para "uma dinâmica inflacionária mais adversa". Em dezembro, o comunicado refletia a frustração dos economistas com o anúncio do pacote de contenção de despesas do governo Lula.

 

Dessa vez, o Copom repetiu que segue acompanhando "com atenção" os impactos sobre a política monetária e os ativos. "A percepção dos agentes econômicos sobre o regime fiscal e a sustentabilidade da dívida segue impactando, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes", disse.

 

A cotação do dólar usada pelo comitê em suas projeções foi de R$ 6, o que representa uma ligeira alta em relação ao encontro de dezembro, quando a moeda norte-americana estava em R$ 5,95.

 

Quanto ao cenário externo, avaliou que "permanece desafiador" e segue "exigindo cautela" por parte de economias emergentes, como o Brasil. O comitê falou em "dúvidas sobre os ritmos da desaceleração, da desinflação e sobre a postura do Fed [Federal Reserve, banco central dos EUA]."

 

Segundo o último boletim Focus, os analistas projetam que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) termine o ano acima da meta, em 5,5%. A previsão mais recente representa um grande salto com relação ao levantamento divulgado na semana anterior, quando a expectativa era de 5,08%.

 

O alvo central perseguido pelo BC é 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Isso significa que a meta é considerada cumprida se oscilar entre 1,5% (piso) e 4,5% (teto).

 

No cenário de referência do Copom, a projeção de inflação para este ano subiu de 4,5% para 5,2% –acima do teto da meta. Para o terceiro trimestre de 2026 –período em que o BC hoje se propõe a cumprir o objetivo– a estimativa é de 4%.

Economistas ouvidos pela Folha afirmam que a taxa de juros pode ultrapassar os 15% ao ano, dada a expectativa de alta da inflação.

 

"A gente esperava que subisse até 15%. Agora a gente vai ter que sentar, começar a fazer alguns cálculos e esperar na próxima semana a ata [do Copo] para entender no detalhe, reavaliar o cenário e saber se sobe essa [expectativa de] taxa de juros, chegando ali a talvez 16%. É bem provável que chegue nesse nível", Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating.

 

O cenário preocupa o setor produtivo. O presidente do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), Rafael Cervone, disse esperar que o Banco Central, na gestão de Gabriel Galípolo, encontre "um patamar mais equilibrado e civilizado" para a taxa de juros.

 

"Embora seja fundamental controlar a inflação, é preciso enfatizar que a Selic muito alta, como temos enfrentado, afeta diretamente os setores produtivos e reduz a competitividade da indústria brasileira", afirmou em nota.

 

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, disse que a alta dos juros "é péssima para o país e não encontra qualquer explicação nos fundamentos da economia real". "Vai tornar mais cara a conta da dívida pública, sufocar as famílias endividadas, restringir o acesso ao crédito e o crescimento da atividade econômica", afirmou nas redes sociais.

 

De acordo com o Copom, a extensão total do ciclo de alta de juros dependerá da evolução da trajetória do IPCA, das projeções de inflação, das expectativas, do hiato do produto (diferença entre o crescimento potencial da economia e o efetivo) e do balanço de riscos.

 

"A magnitude total do ciclo será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta", diz trecho do comunicado.

 

O comitê continuou vendo o balanço de riscos para a inflação assimétrico para cima. Isso significa mais riscos de o IPCA ficar acima do projetado do que abaixo.

 

Entre os fatores que puxariam a alta de preços, citou novamente o risco de as expectativas de inflação seguirem distantes da meta por período mais prolongado, maior resiliência na inflação de serviços e uma conjunção de políticas econômicas externa e interna, como o câmbio mais depreciado de forma persistente.

 

Entre os elementos que levariam os preços para baixo, mencionou a possibilidade de desaceleração da atividade econômica doméstica mais acentuada e a chance de um cenário menos inflacionário para economias emergentes decorrente de choques sobre o comércio internacional e sobre as condições financeiras globais.

 

Devido aos efeitos defasados da política monetária sobre a economia, o BC trabalha agora com a inflação do terceiro trimestre de 2026 na mira, conforme o sistema de meta contínua. O Copom volta a se reunir nos dias 18 e 19 de março para decidir o patamar de juros.

 

O comitê é hoje composto majoritariamente por representantes indicados por Lula, com sete dos nove membros. O encontro desta semana marcou a estreia de três novos integrantes –os diretores Nilton David (Política Monetária), Gilneu Vivan (Regulação) e Izabela Correa (Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta) (Folha, 29/1/25)