Biodiesel a B15 é outra decisão espinhuda de Lula
Indústrias de biodiesel (Imagem Reuters Regis Duvignau)
Por Giovanni Lorenzon
Outra decisão espinhuda para o governo no campo dos combustíveis entrará na agenda ainda em março. O aumento da mistura do biodiesel ao óleo diesel em 15%, protelada há muito tempo.
A medida, defendida pelo setor industrial da soja especialmente – juntando Abiove (esmagadoras e tradings), mais Ubrabio e Aprobio, ambas agremiações das destilarias -, pode amenizar o impacto inflacionário dos preços do petróleo em caso de cotações menos explosivas das cotações do grão. Essa biomassa domina esmagadoramente a produção de biodiesel e ainda embute menor carga poluidora do diesel.
Vale lembrar que há um efeito cascata também favorável no controle inflacionário. Maior produção de óleo, sobra mais farelo para a alimentação animal, atenuando custos das criações, com potencial efeito de contenção das altas das carnes.
Mas, também, pode ocorrer o contrário.
Há um viés de pressão para os preços do grão, com a boa safra brasileira, em torno de 150 milhões de toneladas, e uma safra melhor no Estados Unidos, mas isso não é garantia, sobretudo porque a demanda chinesa pode produzir sustentação de preços, como foi o argumento usado pelo governo Bolsonaro para manter os níveis da mistura.
Como o diesel vai ter aumento junto com a gasolina e o etanol, com a volta dos impostos federais sobre os combustíveis, em decisão do presidente Lula na segunda, cercada de disputa interna contrária no governo, o aumento para o B15, saindo dos 10% atuais, deverá demandar muito debate.
A questão, porém, pode não ser de equação tão simples assim, se também for observada a conjuntura do complexo soja, adverte a consultoria HedgePoint.
Em que pese a boa safra atual brasileira, oferecendo algo como 150 milhões de toneladas, “a questão é que, embora a produção brasileira pareça enorme a princípio, mesmo assim pode não haver óleo de soja suficiente para um retorno ao B15”.
A global markets parte dos dados da indústria de esmagamento de 53 milhões de toneladas, além da perspectiva de que o consumo dos caminhões e utilitários se mantenha nos níveis de 2021 e 2022.
Se consolidado esse cenário, os preços da aquisição de soja pelas destilarias, também vão subir pelo valor da oportunidade percebida pelos produtores (Money Times, 28/2/23)