Biodiesel ultrapassa R$ 3 e pressiona diesel nos postos
Alta reflete impactos da guerra comercial entre EUA e China, dizem produtores.
O preço médio do biodiesel voltou a subir no segundo leilão promovido pelo governo após o aumento da mistura obrigatória no diesel de petróleo. Em dois leilões, a alta acumulada já é de 32%, pressionando o preço do diesel nos postos brasileiros.
Em leilão na semana passada, as distribuidoras de combustíveis compraram 1,06 bilhão de litros pelo preço médio de R$ 3,075 por litro. Foi a primeira vez que o valor ultrapassou a casa dos R$ 3.
Embora a disputa tenha terminado com deságio de 5,99%, o preço final do leilão é 7,63% mais alto do que o verificado no leilão anterior, em agosto, quando o preço já havia tido alta de 22,6%.
Os produtores de biodiesel alegam que a pressão é fruto de alta no preço internacional do óleo de soja, principal matéria-prima para a produção no Brasil, com o aumento da demanda chinesa em meio à guerra comercial com os EUA.
O movimento ocorre logo após a elevação, de 10% para 11%, do percentual mínimo obrigatório de adição biodiesel ao diesel vendido nos postos. A mudança estava prevista para março, mas foi adiada para o dia 6 de agosto, para que as montadores fizessem testes da nova mistura.
Antes do aumento da mistura, os preços dos três primeiros leilões de 2019 situaram-se em torno dos R$ 2,30.
Para o consultor Luiz Henrique Sanches, a alta nos leilões pode representar repasse de até R$ 0,24 nas bombas. Incluindo o aumento de agosto, a alta acumulada é de R$ 0,079. Em agosto, segundo o último relatório do MME (Ministério de Minas e Energia) disponível, o biodiesel representava 6,2% do preço final do diesel.
Entre a semana do penúltimo leilão e a semana passada, o preço médio do diesel nos postos subiu 5%, impulsionado também por reajuste de 4,2% promovido pela Petrobras no preço do diesel de petróleo em 18 de setembro.
A mistura obrigatória de biodiesel ao diesel sobe um ponto percentual por ano, até atingir 15% em 2023. Desde agosto, as distribuidoras podem optar por percentuais maiores, mas os elevados preços têm mantido as vendas em patamares mínimos.
Os leilões de compra de biodiesel são realizados pela ANP a cada dois meses. Os produtores oferecem lotes do produto respeitando um preço máximo estabelecido pela agência (R$ 3,271 no último leilão). As distribuidoras, então, adquirem os lotes de acordo com suas estratégias comerciais.
O presidente da Ubrabio (União Brasileira do Biodiesel e do Bioquerosene), Juan Diego Ferrés, diz que, além da taxa de câmbio, os preços atuais sofrem impacto da guerra comercial entre EUA e China.
A Aprobio (Associação Brasileira dos Produtores de Biodiesel), argumenta que os preços nos leilões variam também de acordo com questões logísticas e com a estratégia econômica das distribuidoras que compram o combustível.
Para o governo, o mercado se encarregará de ajustar os preços, levando o biodiesel a contribuir para reduzir o preço final, e não o contrário.
Os produtores afirmam que não há problemas de oferta no Brasil e que a demanda no leilão foi inferior à oferta. Segundo a Aprobio, a capacidade de produção é de 9,1 bilhões de litros por ano, 3 bilhões a mais do que o consumo esperado em 2019.
Ferrés diz que os produtores estão preparados para atender ao crescimento da demanda, incluindo a mistura de 12%, que começa a valer em março de 2020.
O MME diz que o programa de incentivo aos biocombustíveis e a oferta de financiamento ao setor vão fomentar investimentos na capacidade de oferta (Folha de S.Paulo, 22/10/19)