Biosev amplia prejuízo em 2019/2020 para R$ 1,55 bi
A Biosev, uma das maiores processadoras de cana do Brasil, elevou em 7,7% os investimentos na safra, para R$ 1,2 bilhão
A companhia de açúcar, etanol e bioenergia Biosev fechou a safra 2019/2020 com prejuízo líquido de R$ 1,55 bilhão versus perda de R$ 1,2 bilhão em 2018/2019, com a desvalorização do real impactando fortemente a dívida em dólar da companhia, que informou também ter conseguido elevar a geração de caixa mesmo com uma moagem estável devido a investimentos nos últimos anos.
Apenas no quarto trimestre fiscal, encerrado em março, o prejuízo líquido foi de R$ 1,08 bilhão, ante prejuízo de R$ 306,6 milhões no mesmo período da safra anterior.
A empresa – unidade de produção de açúcar e etanol da trading Louis Dreyfus – teve um resultado financeiro negativo de R$ 2,377 bilhões em 2019/2020 versus R$ 1,37 bilhão negativos em 2018/2019.
Apesar de o resultado líquido ter sido fortemente afetado pelo endividamento em moeda estrangeira, que supera 90% do total, o indicador de geração de caixa (Ebitda ajustado) avançou quase 13%, para R$ 1,8 bilhão em 2019/2020, excluindo-se os efeitos na receita líquida das operações de revenda e do impacto não-caixa de hedge accounting de dívida em moeda estrangeira e de IFRS16.
“Isso acaba derivando em um Ebitda unitário espetacular”, afirmou o presidente-executivo da companhia, Juan José Blanchard, citando o indicador ajustado unitário de R$ 65,2 por tonelada, considerando as mesmas comparações.
“Tudo isso é consequência de trabalho que começamos há três anos de melhoria operacional, na parte agrícola e na indústria”, acrescentou ele, lembrando que a companhia conseguiu, mesmo com geadas atingindo as unidades de Mato Grosso do Sul, entregar uma produtividade média acima do mercado, de 82,9 toneladas por hectare, alta de 3,5% na comparação anual.
A Biosev, uma das maiores processadoras de cana do Brasil, elevou em 7,7% os investimentos na safra, para R$ 1,2 bilhão.
Na temporada, atingiu moagem de cerca de 27 milhões de toneladas, praticamente estável ante 2018/2019.
Para a nova temporada, a companhia está avançada, assim como o setor, na antecipação de vendas de açúcar.
A Biosev disse ter 85,4% de seu açúcar da safra 2020/2021 “hedgeado”, já tendo fixado preços para 54,5% da commodity em 2021/22.
“Evoluímos bastante na parte de precificação de açúcar…”, disse a diretora comercial Dorothea Soule, acrescentando que os níveis de preços alcançados foram satisfatórios para uma safra que está sendo mais açucareira.
Para 2020/2021, a empresa fez hedge para 811 mil toneladas, ao preço médio de US$ 13,67 por libra-peso, enquanto para 2021/2022 fixou vendas de 432 mil toneladas, a US$ 13,37 por libra-peso.
Ela disse ainda que na parte de etanol a companhia foi impactada juntamente com o mercado pela epidemia de Covid-19, mas ressaltou que há “potencial para subir”, assim como a Biosev tem aproveitado a demanda externa por álcool industrial e anidro.
Após aumentar as exportações de etanol em mais de 230% em 2019/2020, para R$ 526,4 milhões, com a maior parte do aumento sendo registrada no último trimestre, a executiva disse ver esta tendência continuar na nova safra.
TROCA DE DÍVIDA
A dívida líquida da Biosev somou R$ 6,1 bilhões em 31 de março, ante R$ 4,65 bilhões na mesma data do ano anterior, devido ao impacto cambial.
Neste contexto, a Biosev revelou ainda que conseguiu “waiver” com credores após não atender compromisso de alguns contratos relacionado a covenants (cláusulas restritivas).
Com o “waiver”, a companhia está mantendo os vencimentos e todas as demais condições contratuais originais das dívidas.
Segundo o diretor financeiro, Leonardo Oliveira D’Elia, com esse movimento a companhia não sofreu qualquer impacto.
“É super importante a evolução na operação da companhia, mas o lado negativo é que tem volume de dívida em dólar muito grande”, afirmou o executivo, ressaltando que a empresa espera trocar a maior parte da dívida em dólar para real “o mais rápido possível”.
A Biosev está com oito unidades operacionais na safra atual (cinco em São Paulo, duas em Mato Grosso do Sul e uma em Minas Gerais) e mantém uma unidade hibernada em Maracaju (MS) (Forbes, 27/7/20)