Biotecnologia no milho – Por Cesário Ramalho da Silva
Estímulo à produção global do grão é fundamental para garantir a segurança alimentar do planeta.
Assumi no final de julho, durante o Global Agribusiness Forum (GAF), em São Paulo, a Aliança Internacional do Milho (Maizall), sucedendo à norte-americana Pamela Johnson, produtora do Estado de Iowa e grande defensora das questões agrícolas e de desenvolvimento econômico rural em nível mundial. Pamela presidiu a Associação dos Produtores de Milho dos EUA e trabalhou em questões de política agrícola, incluindo a aprovação da lei agrícola norte-americana de 2014 (Farm Bill).
A Maizall reúne as entidades representativas dos mais importantes países produtores e exportadores de milho: Brasil, EUA e Argentina. Juntos os três representam cerca de 50% da produção global do grão e detêm aproximadamente 70% do comércio mundial do cereal.
Nominalmente, a Maizall é formada pela Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), o Conselho de Grãos dos EUA (US Grains Council), a Associação dos Produtores de Milho dos EUA (National Corn Growers Association) e a Associação Argentina dos Produtores de Milho e Sorgo (Maizar).
Criada em 2013, a aliança tem como objetivo estimular a produção global de milho como política fundamental para garantir a segurança alimentar do planeta. E a busca por esse objetivo passa pela necessidade de expansão da biotecnologia no campo como indispensável para a obtenção de ganhos de produtividade, e por um melhor entendimento do consumidor sobre os benefícios dos Organismos Geneticamente Modificados (OGMs) para a produção sustentável de alimentos.
Dados do Conselho Internacional de Grãos (IGC, na sigla em inglês) apontam que o consumo mundial de milho vem crescendo nas últimas temporadas historicamente acima do volume das safras. De 976 milhões de toneladas no ciclo 2015/2016, a demanda global deve chegar a 1,098 bilhão de toneladas na temporada 2018/2019 (+12,5%). A produção, por sua vez, deve crescer menos no período: 7%, saltando de 983 milhões de toneladas para 1,052 bilhão de toneladas, montante já inferior ao consumo mundial, o que denota a necessidade de aumentar o rendimento das lavouras.
Este avanço exponencial no consumo se justifica no fato de que o milho é o principal insumo utilizado na cadeia produtiva das carnes, e é, pois, fundamental para assegurar a oferta mundial de proteína animal capaz de atender à demanda que cresce a taxas elevadas especialmente na Ásia, no Oriente Médio e em partes da África.
Dados divulgados no GAF revelaram que, se na Europa e nos EUA o consumo de carne bovina se estabilizou, houve um crescimento próximo a 60% na Ásia nos últimos anos, puxado pela urbanização e por ganhos de renda, que criam um cenário de ocidentalização da dieta na região.
Para as carnes suína e de frango – especialmente esta –, o quadro é ainda mais promissor, pois o consumo de aves é o que mais cresce mundialmente. Isso sem contar a tendência de aumento da demanda por peixes, que também têm no milho seu principal insumo para a fabricação de rações.
No Brasil, a produção de milho assumiu outro patamar nos últimos anos com a introdução de novas tecnologias que fizeram, por exemplo, com que a segunda safra do grão ultrapassasse de modo acentuado a de primeiro ciclo. Com esse avanço, o País também abriu uma nova janela de oportunidades, com as exportações ganhando destaque. Ademais, o advento do etanol de milho no Brasil é outro fator crucial para o desenvolvimento desta cadeia produtiva.
Como presidente da Maizall, defendo, ainda, o estímulo à pesquisa e ao desenvolvimento de novas tecnologias, bem como à adoção de políticas governamentais de equivalência regulatória de OGMs entre os países produtores e consumidores, que facilitem, acima de tudo, o livre-comércio internacional de alimentos e produtos agrícolas, alvo de recente escalada protecionista. É disso que trataremos em reuniões na Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e na Organização Mundial do Comércio (OMC) até o fim do ano (Cesário Ramalho da Silva é presidente da Maizall; O Estado de S.Paulo, 1/9/18)