Boi: Agromensal Fevereiro 2022 – Análise Conjuntural Cepea/Esalq USP
Foto BOVINOS Juliana Amorim Unsplash Divulgação
O conflito entre a Rússia e a Ucrânia não trouxe – ao menos no curto prazo – grandes impactos sobre a cadeia brasileira de carne bovina. Apesar de a Rússia já ter se configurado, em 2014, como o maior destino da proteína brasileira, o país reduziu as aquisições desde então, sendo, em 2017, o quinto maior destino e, em 2021, caiu para a oitava posição. Segundo dados da Secex, foram 35,356 mil toneladas de carne bovina embarcada à Rússia de janeiro a dezembro de 2021, volume 40,1% inferior ao exportado no ano anterior. A quantidade embarcada ao país russo ao longo de 2021 representou apenas 1,92% do total exportado pelo Brasil naquele ano. De 2019 para 2020, os russos diminuíram as aquisições em 4,8%.
Evidentemente, as vendas brasileiras à Rússia poderiam até voltar a se aquecer neste ano, principalmente diante da aproximação comercial entre os dois países. Agora, a maior preocupação de agentes nacionais refere-se aos fertilizantes, tendo em vista que a Rússia é um dos maiores fornecedores deste insumo ao Brasil. Esse cenário pode, por sua vez, elevar os custos de produção da pecuária nacional. Outro fator de influência deste conflito é sobre os preços dos grãos. A Rússia e a Ucrânia estão entre os maiores produtores mundiais de trigo, mas com relevância ainda mais expressiva na oferta de excedentes para transações externas.
Com a guerra, os preços internacionais do trigo dispararam, influenciando também os valores de outros grãos, como milho e soja, que são bastante utilizados na pecuária brasileira. Em meio a esse cenário, os preços do boi gordo até oscilaram ao longo de fevereiro, mas se mantiveram acima dos R$ 330,00 – Indicador CEPEA/B3, estado de São Paulo. No acumulado do mês (entre 31 de janeiro e 25 de fevereiro), o Indicador registrou ligeira queda de 0,22%, encerrando o período a R$ 343,05. Os valores seguiram sustentados pela oferta baixa de animais para abate e pela demanda externa aquecida, sobretudo por parte da China.
Considerando-se a média de fevereiro, de R$ 340,29, o Indicador avançou 0,54% sobre o de janeiro, mas ainda ficou ligeiramente abaixo (-0,75%) do de fevereiro do ano passado, em termos reais (os valores foram deflacionados pelo IGP-DI). E a oferta enxuta também acabou sustentando, de janeiro para fevereiro, os valores da carne negociada no mercado atacadista da Grande São Paulo, tendo em vista que a demanda interna segue bastante enfraquecida. O valor médio da carcaça casada bovina foi de R$ 21,46/kg em fevereiro, sendo 0,33% acima do registrado em janeiro, mas 2,3% inferior ao de fevereiro do ano passado, em termos reais.
Na contramão do boi gordo e da carne, o bezerro negociado em Mato Grosso do Sul (Indicador ESALQ/BM&FBovespa), que teve média de R$ 2.854,01/cabeça em fevereiro, registrou quedas de 1,83% na comparação mensal e de fortes 9,33% na anual. Quanto ao boi magro, de 12 arrobas, teve média de R$ 4.120,29/cabeça no estado de São Paulo, recuos de 0,65% frente à de janeiro/22 e de expressivos 13,35% em relação à de fevereiro/21. Ambos em termos reais. A menor desvalorização do boi gordo confirma o cenário que vem sendo observado ao longo dos últimos anos, sobretudo nos últimos 12 meses, quando houve uma busca pela intensificação da produção (Assessoria de Comunicação, 7/3/22)