Boi: Análise Conjuntural Agromensal Cepea/Esalq/USP de Julho/2022
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Os fundamentos de mercado da pecuária nacional verificados ao longo dos últimos anos – oferta restrita no campo e exportações registrando bom desempenho – chegaram a levar os preços da arroba do boi gordo a operarem acima dos R$ 350 (em março deste ano) no estado de São Paulo.
Ainda que os valores sigam elevados – na casa dos R$ 320,00 no mercado paulista –, tais fatores já não têm sido suficientes para sustentar os preços acima dos R$ 330. E o que vem limitando novos avanços nos preços do boi é o mercado doméstico. Diante da inflação elevada, a maior parte da população brasileira apresenta restrição orçamentária.
Assim, muitos consumidores passam a procurar proteínas com valores mais competitivos, como as carnes suína e de frango e ovos, em detrimento do produto bovino. Quando comparadas as médias de junho e de julho, observa-se valorização de 0,8% para a carcaça casada bovina negociada no atacado da Grande São Paulo, indo para R$ 20,64/kg.
E a maior demanda pelas concorrentes é evidenciada pelo movimento de alta um pouco mais intenso que é registrado para as carnes suína e de frango, comercializadas no atacado da Grande São Paulo, que apresentam valorizações de 5,12% e de 4,3%, respectivamente. Em julho, a carcaça especial suína foi negociada à média de R$ 9,86/kg e o frango resfriado, de R$ 8,05/kg.
Quanto à arroba bovina (Indicador do boi gordo CEPEA/B3), observa-se avanço de 2% nos valores médios mensais de junho para julho, passando para R$ 324,41. Na comparação anual, contudo, a média atual está 7% inferior à de julho/21, em termos reais (os valores foram deflacionados pelo IGP-DI junho/22).
EXPORTAÇÕES
A receita obtida com as exportações de carne bovina in natura em julho foi a maior da história. Segundo dados da Secex, a receita foi de US$ 1,09 bilhão no mês, com avanços de 5,15% em relação a junho e de 21,38% frente a julho/21. De janeiro a julho deste ano, o total é de US$ 6,720 bilhões, 52,12% superior na comparação com o mesmo período do ano passado, também de acordo com a Secex.
Em moeda nacional, a receita obtida com as vendas da carne bovina ao mercado externo na parcial deste ano é de R$ 34 bilhões, elevação de 45,32% frente aos sete primeiros meses de 2021. Quanto ao volume de carne bovina in natura exportado em julho, somou 167,29 mil toneladas, avanços de 9,59% na comparação com junho e de 0,60% em relação a julho de 2021 – dados da Secex.
Esse é o segundo melhor mês de julho da história, atrás apenas do registrado em 2020, quando os embarques totalizaram 169,25 mil toneladas. De janeiro a julho de 2022, o volume exportado é de 1,099 milhão de toneladas, o maior da série da Secex. A alta competitividade da carne brasileira e a dependência do mercado chinês pelo produto nacional justificam esse cenário positivo no front externo.
CUSTOS
No balanço do primeiro semestre de 2022, os custos de produção da pecuária de corte dos sistemas de cria e de recria engorda registraram tendências opostas, conforme indicam pesquisas realizadas pelo Cepea em parceria com a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil).
O principal motivo para esse resultado distinto nos gastos desses dois sistemas produtivos foi o animal de reposição. No caso do sistema de cria, de janeiro a junho, o COE (Custo Operacional Efetivo) da pecuária de corte subiu 11,52%, na “média Brasil” (que considera os estados do Acre, Bahia, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Pará, Paraná, Rondônia, Rio Grande do Sul, São Paulo e Tocantins).
Esse avanço ficou um pouco abaixo do verificado no mesmo período de 2021, quando os custos registravam alta de 13,12%. A elevação no custo desse sistema verificada na primeira metade deste ano está acima da inflação (IGP-DI) do mesmo período, que foi de 7,84%. Dentre os grupos de insumos que mais influenciaram a elevação dos custos do sistema de cria no primeiro semestre esteve a suplementação mineral.
De janeiro a junho de 2022, esse item se valorizou de forma consecutiva, acumulando elevação de 18,75% na “média Brasil”. A forte valorização do dólar frente ao Real foi um importante motivo dessa evolução. Mais recentemente, além da demanda sazonal – devido à época de seca e à maior necessidade de suplementar a nutrição do rebanho –, os preços dos sais minerais vêm sendo influenciados pela baixa oferta de produtos.
A falta de matérias-primas essenciais e problemas logísticos, como contínuos reajustes no frete, impulsionaram a valorização desse grupo de insumos. Já no caso do sistema de recria e engorda, de janeiro a junho, o COE recuou 5,73%, na “média Brasil”, devido à queda nos preços do bezerro, principal item nos custos do pecuarista recriador.
Assim, de janeiro a junho de 2022, a reposição se desvalorizou 11% na “média Brasil”. Essa retração, por sua vez, esteve atrelada à maior oferta de animais, tendo em vista os maiores investimentos em tecnologias por parte de pecuaristas, o aumento de produtividade e, sobretudo, a redução no abate de matrizes (Assessoria de Comunicação, 9/8/22)