Boi: Análise Conjuntural Agromensal Cepea/Esalq/USP Setembro
O movimento de queda nos preços da arroba do boi gordo, que começou a ser observado no início de setembro, foi reforçado na segunda quinzena do mês. Nas primeiras semanas de setembro, notícias indicando dois casos atípicos de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), ou “mal da vaca louca”, afastaram compradores do mercado interno, resultando em recuos nos preços da arroba do boi gordo. No encerramento do mês, a retração compradora se somou ao fraco ritmo de vendas de carne no mercado atacadista da Grande São Paulo. A
continuidade da suspensão dos envios de proteína à China, principal destino internacional da carne brasileira, também limitou a demanda por novos lotes de animais para abate. Diante disso, no acumulado de setembro, o Indicador CEPEA/B3 do boi gordo registrou baixa de 7%, fechando a R$ 291,60 no dia 30. Trata-se da variação negativa mensal mais intensa desde janeiro de 2020, quando a queda no acumulado foi de 7,8%. A média da de setembro ficou em R$ 302,05, sendo 4,15% inferior à de agosto e 2% abaixo da de setembro do ano passado, em termos reais (os valores foram deflacionados pelo IGP-DI).
A carcaça casada do boi gordo comercializada no atacado da Grande São Paulo, por sua vez, registrou desvalorização de 3,65% no acumulado do mês, negociada a R$ 19,29/kg no dia 30, o menor patamar nominal desde o início de março de 2021. A média de setembro, de R$ 20,01/kg, ficou 0,15% inferior à de agosto e 2,12% abaixo da verificada há um ano, em termos reais. No mercado interno, o fragilizado poder de compra de grande parte da população brasileira vai de encontro com o elevado patamar de negociação da carne bovina. Assim, muitos consumidores acabam adquirindo as carnes substitutas, como suínos e frango, ou ovos.
No front externo, a continuidade da suspensão de embarques à China já tem gerado certo alerta entre agentes de mercado, que estavam à espera de uma rápida solução, fundamentados na baixa oferta mundial de carne bovina e sobretudo na consequente dependência da China pelo produto brasileiro. Há, ainda, o fato de o país asiático geralmente intensificar as compras de carne bovina nos últimos meses do ano, devido ao típico aquecimento da demanda por carne naquele país nas primeiras semanas do ano, por conta da comemoração do Ano Novo Chinês.
Recentes notícias indicam que os chineses ainda estariam analisando as informações apresentadas por órgãos brasileiros. Ressalta-se que a China até, agosto, foi destino de 46,75% de toda carne bovina exportada pelo Brasil. Nesse sentido, caso os embarques ao país asiático se mantenham por muitas semanas, a dinâmica do mercado nacional deve ser impactada. Por enquanto, a indústria frigorífica vem trabalhando com redução no volume de abates, sendo que algumas unidades chegaram a conceder férias coletivas.
DIFERENCIAL
Com a arroba bovina se desvalorizando de forma mais intensa que a carne, a diferença entre os preços desses produtos está em apenas 1,77 Real/arroba (com vantagem para o boi gordo), a menor desde novembro do ano passado, quando também esteve em 1,77 Real/arroba.
EXPORTAÇÃO
Apesar da suspensão de novos envios de carne bovina à China suspensos em setembro, o volume de proteína embarcada pelo Brasil renovou o recorde. Segundo dados da Secex, depois de atingir 181,6 mil toneladas em agosto, as exportações brasileiras somaram 187 mil toneladas, um novo recorde, considerando-se a série histórica da Secex. Houve avanço de 3% na comparação mensal e de fortes 31,3% na anual (Assessoria de Comunicação, 6/10/21)