Boi: Análise Conjuntural Agromensal Novembro/2020 Cepea/Esalq/USP
No dia 18 de novembro de 2019, a arroba do boi gordo atingia os R$ 200,00 pela primeira vez. Embora esse patamar chamasse a atenção do mercado, naquele dia, ainda estava longe de ser recorde real – que, por sua vez, acabou ocorrendo no final daquele novembro de 2019 e renovado recentemente. Agora, o setor começa a se atentar ao fato de a arroba do boi gordo ter se aproximado dos R$ 300,00 – no dia 11 de novembro de 2020, o Indicador do boi gordo CEPEA/B3 atingiu R$ 292,00. Nos dias seguintes, contudo, os valores se enfraqueceram, voltando a operar por volta de R$ 285,00.
Do lado da demanda, muitos frigoríficos, especialmente os que trabalham apenas com o mercado doméstico, postergaram as compras de novos lotes nos atuais patamares. Com isso, esses agentes se afastaram do mercado, trabalhando com escalas curtas e adquirindo lotes de animais apenas quando houve necessidade. Compradores alegaram que os preços da carne negociada no mercado atacadista não estavam acompanhando os aumentos nos valores da arroba e isso estaria apertando as margens – na média de novembro, a arroba do boi gordo foi negociada a 1,53 Real/@ acima da carcaça casada do boi (aqui foram considerados o Indicador do boi e a proteína no atacado da Grande São Paulo, ambos à vista).
Como comparação, em novembro de 2019, o cenário era o oposto, com a carcaça casada do boi registrando vantagem de quase 10 Reais/@ sobre o boi gordo. As unidades de abate que trabalham com exportações, por sua vez, acabaram tendo certo alívio com as vendas externas, visto que os embarques seguiram registrando bom desempenho, principalmente à China. Apesar do recente enfraquecimento do dólar, o patamar da moeda norte-americana ainda esteve elevado e isso favorece a receita recebida em Reais. Diante disso, os valores da arroba do boi gordo se enfraqueceram na segunda quinzena de novembro em muitas praças acompanhadas pelo Cepea.
No entanto, no campo, a oferta de animais para abate ainda esteve muito baixa, contexto que limitou quedas mais intensas nos preços de negociação. Embora dados indiquem crescimento no volume de boi em confinamento neste ano, o primeiro giro foi limitado, devido a incertezas relacionadas à pandemia de coronavírus. Além disso, muitos confinadores estão estendendo o período de engorda, no intuito de entregar animais mais pesados.
Alguns pecuaristas, ainda, seguraram o boi no pasto, à espera de novos aumentos nos preços, sobretudo diante dos elevados custos de produção – aqui ressaltam-se o dólar alto, que encarece insumos importados, e os preços recordes reais do bezerro, do boi magro, assim como os do milho e do farelo de soja. Nesse cenário, a liquidez esteve baixa ao longo de novembro. Em algumas regiões levantadas pelo Cepea, o número de negócios levantado foi, inclusive, insuficiente para gerar a média diária da região em alguns momentos.
O Indicador CEPEA/B3 teve média de R$ 285,32, recorde real da série mensal do Cepea e 17,3% acima da verificada em novembro do ano passado – quando, vale lembrar, os preços internos da arroba alavancaram. Os valores foram deflacionados pelo IGP-DI de outubro/2020. No mercado atacadista de carne da Grande São Paulo, de fato, agentes indicam certa dificuldade no escoamento da proteína nos atuais patamares. No entanto, como a oferta de carcaça é baixa, os preços se sustentaram. Em novembro, a carcaça casada do boi teve média de R$ 18,92/kg, também recorde real da série do Cepea e supera em 9% a de novembro de 2019 (Assessoria de Comunicação, 4/12/20)