Boi: Análise Conjuntural Cepea/Esalq/USP Retrospectiva 2023
GADO NO PASTO Foto Blog BoiSaúde Reprodução Internet.jpg
A pecuária de corte foi bastante impactada por fatores internos e externos ao longo de 2023. Situações registradas nos âmbitos produtivo, sanitário, climático e econômico resultaram em forte oscilação dos preços de todos os produtos da cadeia. O boi gordo chegou a ser negociado acima de R$ 300/arroba no início de fevereiro (Indicador CEPEA/B3, estado de São Paulo), mas, no final de agosto, tinha perdido um terço do seu valor (34%), passando a operar abaixo de R$ 200/arroba.
Nesta reta final do ano, metade daquela perda foi recuperada, e a arroba voltou ao patamar de R$ 250. Considerando-se a série mensal do Indicador do boi gordo CEPEA/B3 deflacionada (pelo IGP-DI de nov/23), a média de setembro esteve em R$ 214,67, a menor desde agosto de 2012 (quando esteve em R$ 206,80).
O maior solavanco no ano veio de um caso atípico de “vaca louca” em um animal macho de nove anos de uma propriedade com 160 cabeças no município de Marabá (PA), no final de fevereiro. Apesar de isolada, a ocorrência resultou em suspensão dos envios de carne à China, maior destino da proteína nacional, conforme pede protocolo estabelecido entre o Brasil e o país asiático em casos de registros de doenças.
Os impactos sobre todo o mercado brasileiro se estenderam até meados de junho. No balanço de 2023, a China ainda foi destino de mais da metade de toda a carne bovina exportada pelo Brasil. No agregado, dados da Secex mostram que foram exportadas 2 milhões de toneladas de carne bovina in natura entre janeiro e dezembro, um recorde. Essa sustentação das vendas externas foi fundamental para escoar o aumento da oferta no Brasil.
O número de animais abatidos seguiu aumentando trimestre após trimestre. De acordo com o IBGE, o número de animais abatido de janeiro a setembro de 2023 somou 24,64 milhões de cabeças, 11,4% a mais que no mesmo período de 2022 e o maior desde 2014. A produção de carne, por sua vez, somava 6,42 milhões de toneladas até setembro, 8,75% a mais que no mesmo período de 2022. A participação das fêmeas chamou a atenção.
Segundo dados do IBGE, passou de 38% para 42,3% em 2023, o que alerta sobre o número de matrizes para o próximo ciclo de bezerros. Além disso, o Index Asbia/Cepea mostrou que as vendas de sêmen de janeiro a setembro diminuíram 8,6% no comparativo com o mesmo período de 2022. As condições das pastagens no Centro-Oeste e Norte também são fatores que desfavorecem a oferta futura de bezerros – o El Niño tem elevado as temperaturas e diminuído as chuvas nessas áreas, com muitas fêmeas em condições abaixo do ideal para emprenhar.
Em 2023, os preços da reposição se enfraqueceram junto com os do boi, com o agravante de que ainda não obtiveram a mesma recuperação que a arroba. A maior média do bezerro em 2023 foi registrada em abril, quando o animal nelore, de 8 a 12 meses, foi comercializado em Mato Grosso do Sul a R$ 2.364,52/cabeça. A menor média, por sua vez, foi de R$ 2.021,12, em setembro – os dados estão deflacionados pelo IGP-DI. Em dezembro, o animal foi negociado na casa R$ 2.100.
Entre os confinadores, a queda nos preços do milho a partir do segundo trimestre do ano não foi suficiente para estimular o crescimento desse sistema de engorda. O arrefecimento do preço da arroba parece ter pesado mais nas decisões de curto prazo, o que aumenta a dose de especulação sobre as ofertas nos próximos meses.
Por fim, no segmento da carne no mercado doméstico, a demanda esteve fraca ao longo do primeiro semestre, quando os preços estiveram mais altos, mas voltou a melhorar em agosto, coincidindo com o recuo dos preços.
CUSTOS DE PRODUÇÃO
Com os preços dos animais enfraquecidos, os custos também baixaram em 2023. De janeiro a novembro/23, o COE (Custo Operacional Efetivo) dos sistemas de Recria e Engorda caíram 13% na média nacional das propriedades típicas que compõem o Projeto Campo Futuro, parceria entre o Cepea e a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Um dos itens que mais pesaram para a redução dos custos foi justamente o bezerro, que acumulou queda de 17% na média Brasil.
Outros dois insumos relevantes que aliviaram a situação dos pecuaristas foram os suplementos minerais, redução de 12%, e os defensivos, baixa de 17%. Já no sistema de cria, a redução dos custos operacionais efetivos foi de apenas 2% no acumulado do período. Especialmente no segundo semestre de 2023, observou-se leve alta nos custos, puxada sobretudo pelas operações mecânicas – aqui, considerando-se os gastos com hora máquina e diesel.
O que tem chamado a atenção no mercado de insumos nos últimos meses é a renovação de estoques em casas agropecuárias acompanhada de aumento nos preços pelos fornecedores. Produtos como sal mineral e medicamentos já apontam valorização para o fechamento de 2023, o que vai pesar nas contas da safra 23/24 (Assessoria de Comunicação, 8/1/24)