Bolsa desmorona mais de 2% com frustração do mercado com o pacote fiscal
IBOVESPA E DÓLAR IMAGEM FREEPIK
Bolsas nos EUA não abriram hoje por conta do feriado; dólar dispara e ultrapassa os R$ 6.
É o CAOS! O Ibovespa hoje viveu o CAOS (leia com um grito ensurdecedor) e terminou com forte baixa de 2,40%, aos 124.610,41 pontos, uma queda de 3.058,20 pontos. É a maior queda em um só dia desde 2 de maio de 2023, quando desceu os mesmos 2,40%. O resultado de hoje amplia o caos de ontem, quando o principal índice da Bolsa brasileira caiu 1,73% e perdeu também mais de 2 mil pontos.
O dólar comercial entrou no furacão caótico desta quinta-feira e disparou com uma alta de 1,30%, a R$ 5,989. Na máxima, novo recorde: R$ 6.003, maior valor nominal da história. Os DIs (juros futuros) aceleraram de novo e subiram por toda a curva, com a maioria dos vértices acrescentando mais 2%, como ontem, às taxas.
Pacote fiscal desagrada
Esse cenário caótico teve um único motivo: o pacote fiscal do governo federal, que desagradou a maioria do mercado. “Ficou bastante aquém do esperado.
Apesar de entregar os R$ 70 bilhões no próximo biênio, a composição do pacote frustrou. O governo reciclou o pente-fino de R$ 26 bilhões que já havia sido anunciado e não vinha sendo entregue, mas não fez isso formalmente. Não criou uma caixinha ‘pente-fino’ no pacote. Na tabela que eles divulgam, claramente o pente-fino compõe as medidas de Bolsa Família, BPC e biometria. Ele faz parte do pacote anunciado, e isso vai contra as expectativas do mercado, que esperava que o pacote fosse adicional ao pente-fino”, aponta Gabriel Leal de Barros, economista-chefe da ARX Investimentos.
Tiago Sbardelotto, economista da XP, disse que o governo perdeu a oportunidade de fazer um ajuste mais profundo para manter o arcabouço fiscal. “Nossa visão é de que o pacote é modesto, aquém do que o governo anunciou e, de fato, vemos uma composição negativa. Há medidas positivas, estruturantes, como a mudança na regra do salário mínimo, que é bem-vinda, mas ainda assim ficou abaixo do esperado pelo mercado”.
Ajuste fiscal possível
Fernando Haddad, ministro da Fazenda, disse que a intenção do governo federal é “passar a limpo o conjunto de medidas saneadoras dos cadastros dos programas sociais”. Ele se diz muito seguro de que a meta será cumprida em 2025. Já Simone Tebet, ministra do Planejamento, esse foi o ajuste fiscal possível no aspecto técnico e no aspecto político”.
“O máximo que o governo pode esperar é que esse pacote dê uma sobrevida ao arcabouço fiscal até 2026”, diz Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda. “Quem esperava mais que isso é politicamente ingênuo”.
Mas houve uma ou outra voz dissonante. André Galhardo, consultor econômico da plataforma de transferências internacionais Remessa Online, viu como como positiva a iniciativa do governo: “embora o ajuste fiscal esteja no limite para possibilitar a eliminação do déficit primário, deixando pouca margem de erro, considero essa estratégia positiva. O mercado esperava ações mais incisivas, mas não faria sentido anunciar um pacote excessivamente ambicioso e inexequível, como prometer cortar R$ 150 bilhões e, na prática, conseguir cortar apenas R$ 50 bilhões. Isso também comprometeria a credibilidade do governo”.
Com tudo isso, o JPMorgan passou a prever alta de 1 ponto da Selic em dezembro: “conflito aumentou”. E agora depende do Congresso Nacional fazer as coisas andarem.
Apenas oito ativos sobem no Ibovespa
O cenário caótico se viu nos negócios. Apenas oito ativos do Ibovespa subiram. Todos os outros foram por água abaixo, até mesmo aqueles que tinham alguma notícia positiva como suporte.
A Vale (VALE3) perdeu 1,03%, perdendo uma batalha para ela mesma, que se manteve fortemente no positivo por boa parte da sessão. Foi um dia positivo para o minério de ferro. A Petrobras (PETR4) caiu iguais 1,03%, mesmo com alta do petróleo internacional, em dia que a Opep+ adiou sua reunião que aconteceria domingo.
O dia foi particularmente difícil para os bancos, que desabaram: BB (BBAS3) perdeu 2,93%, Bradesco (BBDC4) caiu 4,20%, Itaú Unibanco (ITUB4) desmoronou 3,60% e Santander (SANB11) cedeu 3,04%. O setor financeiro ainda viu B3 (B3SA3) despencar 6,25%. Não ficou pedra sobre pedra.
Caótico também foi o dia dos varejistas, que viram os juros futuros no esquema “para o alto e avante”: C&A (CEAB3), fora do índice, desmoronou 13,07%, Lojas Renner (LREN3) perdeu 10,16% e Magazine Luiza (MGLU3) amargou queda de 6,74%. CVC (CVCB3) implodiu 13,38%. As aéreas, com o dólar decolando, perderam 5,81%, com a Azul (AZUL4); e 14,01%, com a Gol (GOLL4).
Acredite, nesse caos teve quem se salvou. As ações da Gerdau subiram: GGBR4 ganhou 0,60% e GOAU4 ampliou 0,80%. E JBS (JBSS3) teve a maior alta do dia, com 3,35%.
Em dia de feriado de Ação de Graças nos EUA, que fez as bolsas não abrirem, era para ser uma sessão calma, pacata, tranquila. Mas foi simplesmente o CAOS! (Money Times, 29/11/24)