Bolsonaro ataca Moraes e Lula em ato por anistia e recado para o Congresso

Imagem aérea feita às 15h50 na Avenida Paulista, durante o discurso do ex-presidente Jair Bolsonaro em ato pró-anistia dos envolvidos com o 8 de Janeiro. Foto Flávio Florido/Estadão
Em discurso inflamado na Avenida Paulista, ex-presidente voltou a dizer que é perseguido pelo STF e que seus adversários querem vê-lo morto.
Na primeira grande manifestação após se tornar réu sob acusação de liderar uma tentativa de golpe de Estado, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disse, neste domingo, 6, que as acusações contra ele são fruto de perseguição política à direita, mas que não recuará nem fugirá. Acuado por uma ação penal na qual pode acabar preso, ele disse que, na verdade, foi ele quem sofreu um “golpe” ao ser derrotado nas eleições de 2022.
Em um discurso de cerca de 25 minutos para a multidão reunida na Avenida Paulista, ele afirmou que a manutenção de sua inelegibilidade em 2026 seria “escancarar a ditadura no Brasil”. Bolsonaro fez ataques ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
'Estou no caminho deles e se acham que vou desistir, fugir, estão enganados', diz Bolsonaro
Ex-presidente Jair Bolsonaro volta a dizer que é perseguido pelo STF e que seus adversários querem vê-lo morto FOTO ESTADÃO
“Vamos falar quem deu golpe em outubro de 2022? Quem tirou Lula da cadeia? O cara condenado em três instâncias por corrupção, por lavagem de dinheiro, é tirado da cadeia. Quem descondenou o Lula para ele fugir da Ficha Limpa? Os mesmos”, disse. “Quem deu golpe em 2022? Quem pesou a mão por ocasião das eleições? O golpe foi dado, tanto é que o candidato deles está lá.”
Bolsonaro voltou a afirmar que seus adversários o querem morto e que sua saída do Brasil, em dezembro de 2022, sem reconhecer a derrota, foi uma medida de autoproteção. “O golpe deles só não foi perfeito porque eu saí do Brasil em 30 de dezembro de 2022. Se eu estivesse no Brasil, seria preso na noite de 8 de janeiro, ou assassinado por esses mesmos que botaram esse vagabundo na presidência”, afirmou.
O ato realizado na Avenida Paulista para pressionar uma anistia aos envolvidos nos ataques do 8 de Janeiro contou com a presença de sete governadores aliados. Até agora, o governo de São Paulo não divulgou uma estimativa de manifestantes presentes.
A manifestação foi marcada por referências à cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos, que pichou o símbolo da Justiça em frente ao STF com os dizeres “perdeu, mané”, com batom. Alexandra Moraes propôs pena de 14 anos de prisão para ela, que atualmente responde em prisão domiciliar.
Bolsonaro levou ao caminhão de onde discursou a mãe e a irmã da ré. “Não tenho adjetivo para qualificar quem condena uma mãe de dois filhos a uma pena tão absurda por um crime que ela não cometeu. Só um psicopata para falar que aquilo que aconteceu no dia 8 de janeiro foi uma tentativa armada de golpe militar”, frisou.
Apesar da pesquisa divulga neste domingo que mostrou que a maioria da população é contra a soltura de condenados pelos ataques em 8 de Janeiro, o ex-presidente afirmou no discurso que “a grande maioria do povo entende as injustiças”. O recado foi dado ao Congresso, no momento em que opositores de Lula tentam emplacar uma proposta de anistia aos envolvidos nos atos antidemocráticos.
“A grande maioria do povo brasileiro entende as injustiças, e agora se socorre na nossa Câmara e no nosso Senado para fazer justiça. E a anistia é competência privativa do Congresso Nacional. Caso o projeto seja sancionado ou promulgado, vale a anistia. Estamos aqui impulsionados pelo episódio da Débora”, declarou.
Durante o ato realizado ao longo da tarde de domingo, os manifestantes fizeram coro de “fora, Moraes” e críticas à condução da proposta de anistia pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). Bolsonaro evitou esboçar reações. O ex-presidente só reagiu quando a multidão entoou “Lula, seu lugar é na prisão”.
O ex-presidente Jair Bolsonaro na primeira manifestação após ter se tornado réu no Supremo Tribunal Federal (STF), acompanhado pela mulher, Michelle. FotoTiago Queiroz Estadão
A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro também discursou. Em alusão à cabeleireira golpista, ela convocou um “levante dos batons” por anistia aos “presos injustiçados”. A mulher de Bolsonaro disse que Debora Rodrigues deveria ser punida como pichadora comum, uma pena que não resultaria em prisão. “Não houve golpe”, disse.
Michelle apelou para um discurso emotivo dizendo que penas e prisões injustiças estão destruindo famílias e separando mães de seus filhos. Também pediu para que as mulheres se envolvam com as eleições de 2026.
“Não iremos desistir. Nosso Deus levantou Jair Messias Bolsonaro para cuidar da nossa nação. Esse homem foi escolhido não porque tem projeto de poder, mas porque tem projeto de prosperidade para nossa nação”, disse.
O discurso mais duro e mais longo foi o do líder evangélico Silas Malafaia, um dos principais mobilizadores do ato. O pastor chamou Alexandre Moraes de ditador, disse que generais do Exército são covardes, afirmou que Hugo Motta está “envergonhando o honrado povo da Paraíba” por não se empenhar a favor da anistia e orou para que “Deus não permita que esses homens maus prevaleçam”. “A conversa de golpe não passa de uma farsa”, disse.
O ex-presidente Jair Bolsonaro com governadores antes de ato na Paulista. Foto Divulgação Reprodução Estadão
Os sete governadores compareceram à manifestação foram: Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Jorginho Melo (PL-SC), Romeu Zema (Novo-MG), Wilson Lima (União-AM), Mauro Mendes (União-MT), Ratinho Júnior (PSD-PR), Ronaldo Caiado (União-GO). A vice-governadora do Distrito Federal, Celina Leão (PP), e o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), também participaram (Estadão, 7/4/25)